CAP. 13

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Estava sentado em frente à grande janela, enquanto tocava Train Of Consequences de Megadeth, uma banda de rock que particularmente gosto muito. A letra não condizia com a minha realidade, mas curto o som da guitarra e do baixo. Se eu tivesse aptidão, talvez seria músico. Mas não dá pra ser perfeito em tudo. Tentei tocar bateria quando adolescente. Posso até arriscar algumas músicas, mas confesso que é bem difícil. Desisti assim que vi que outras coisas me chamavam mais atenção. Uma delas era desenhar e fazer o que não presta. 

E de tanto fazer o que não presta, estou aqui pensativo, sonhando com o dia em que sairei dessa furada na qual me meti. Mas pra falar a verdade, do pior já passei. Cara, acredita que tive complicações sérias durante a cirurgia? Nunca imaginei que chegaria, novamente, tão perto da morte. Só acho que se Deus quer me levar, que faça logo o serviço, pois está meio que difícil viver nessas condições. Mas agora, falando sério: estou feliz por estar vivo. Juro que pensei que iria bater as botas nessa cirurgia. Mas que bom. Estou aqui!

Já faz quase uns dois meses que estou  no hospital por conta dessa complicação que tive e confesso que nem estou achando ruim. Tanto meu irmão como Ceci vem me vê todo santo dia. Ambos me ajudam como podem e fico feliz por tê-los. Ricardo contou para Ruy sobre minha nova cirurgia e fiquei surpreso com o feito. Imaginava que ele não falava de mim para a criança, mas vi que sim, pois Ruy me ligou desesperado quando soube que eu havia sido operado novamente. Ricardo teve que explicar para ele que eu havia passado por um processo para respirar melhor e por isso não podia falar ou fazer vídeo chamadas. Quando já estava ventilando sozinho e pronto para voltar a dialogar, liguei para meu filho morto de saudade. Ele mostrou-se tão emotivo, choroso, que também não consegui me conter em lágrimas. Quando então, tive uma noticia maravilhosa: Samanta soube que estou hospitalizado e que pede pra saber como estou toda vez que nosso filho fala com o vô. Me senti um bobo quando soube aquilo.  Mesmo tendo o conhecimento que ela nunca vai me esquecer, me sinto feliz por querer saber de mim. 

Do nada, entra no quarto uma mulher que já estava praticamente enjoado de vê. Ela apontou para minha pequena caixa de som, andando apressada até à minha direção, trazendo consigo um troço de medir pressão. Sua expressão parecia ser sempre de raiva. Não entendia muito bem o motivo, mas também ligava o foda-se para ela:

- Seu Rodrigo, poderia abaixar o som? 

Entortei a boca, virando o rosto para a janela, meio sem paciência. Peguei o celular e parei a música querendo evitar qualquer incômodo. Mas... não tive muito  êxito:

- Por favor, seu Rodrigo, não esqueça que o senhor está em um hospital. Esse tipo de música pode incomodar os outros pacientes. Prezamos pelo silêncio.

- Não estava alto, Selma! Não me venha com reclamações... logo vou embora e você vai acabar sentindo minha falta...

Ela esboçou um risinho torto, colocando o negócio no meu braço e em seguida, um termômetro no meu sovaco. De alguma forma, tentava ser simpático com ela. Às vezes era espontâneo, nem queria ser legal, mas mesmo assim, não a via um momento sequer menos séria. 

Quando então, ouço a porta bater e entra no quarto o anjinho que virou quase que uma assombração. Também, nãos serei ingrato. Ela me ajudou no momento da complicação, chamando uma ambulância e auxiliando os outros médicos da emergência enquanto eu gritava de dor. Foi extremamente prestativa. Poderia ter sido pior se ela não estivesse comigo o tempo todo. Com certeza, deve ter criado um carinho por mim. Não é mais minha médica, mas vai me vê quase umas quatro vezes por semana.

- Seu Rodrigo!- exclamou, chegando até o meio do recinto - Como estás?

Virei minha cabeça pra ela, tentando vê-la, enquanto a Selma estava na minha frente.

PROIBIDO ESQUECEROnde histórias criam vida. Descubra agora