CAP. 14

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Eu tive que retornar ao psiquiatra antes de tudo, pois seriam dias de ansiedade pura e não estou com muita vontade de dá um piripaque repentino. O médico me entregou uma nova receita, afinal, medicamentos tarja preta não podem ser vendidos a cada esquina.
É, eu achava que tratar com psiquiatra era coisa de louco, mas então, só tive a certeza e sou um doido ansioso pronto pra dá um ataque.
Mas pra falar a verdade, até que melhorei. Melhorei muito. Faz um bom tempo que não tenho uma crise, pois assim que tive que fazer a segunda cirurgia, fui logo recebendo visita desse especialista pois sabia que não ia conseguir diante tamanhas frustrações.
Passei uns dois meses naquele hospital, esperando a cirurgia cicatrizar. Continuei minhas idas ao ortopedista e dei início à sessões fisioterapêuticas pra não ter mais complicações. Além disso, fui em outras especialidades pra entender o motivo da minha parada respiratória durante o processo cirúrgico, pois pegou muitos de surpresa. Achei importante procurar saber se não sou doente, se não guardo alguma doença por aí...
Graças a Deus, sou bem de saúde física e o que preciso mesmo é tratar da mental.
Vale lembrar que mantive minhas sessões na terapia, mesmo com remédio psiquiátrico e tudo isso tem sido divino.
Mas apesar de está sabendo lidar melhor com inúmeros problemas, não vou afirmar que tudo foi lindo. Confesso que foram meses difíceis. Seis meses, pra ser exato. Não somente pelo processo de restauração da perna, mas por voltar a ficar em casa por horas e horas a fio sem muito o que fazer. No entanto, no quarto mês, voltei a trabalhar e foi maravilhoso e revigorante. Fizeram uma festa de boas vindas para mim, com direito a faixa na parede e bolo confeitado. Foi muito legal! Ainda não podia beber, por conta dos medicamentos, mas pra falar a verdade, nem senti falta. No fim da noite, meus funcionários me levaram para um bar e ficamos até altas horas. Por isso, não abri a empresa no dia seguinte pra galera curtir a ressaca de boa. 
Ricardo me deu uma bronca de empresário experiente quando soube, mas não liguei muito. Percebo que um bom chefe não é ser um cara carrancudo que só manda, mas sim, um amigo. Além do mais, eu estava voltando à ativa depois de tanto tempo! Motivo de comemoração!

Não é a toa que a galera com quem trabalho está comigo desde a inauguração e todos mostrando total vigor e ânimo. Isso é ótimo! A Exclamation Design só é o que é graças à eles... E a mim, claro!

Voltei a conversar com Pedro, o vizinho e pelo visto, tem melhorado das suas crises existenciais. Me disse que arranjou uma namorada, até mais velha e que é linda demais, moradora nova do condomínio. Nunca a vi, mas do jeito que ele falava empolgado, parecia um mulherão. Sentia-me feliz ao ouvir e meio nostálgico ao lembrar das namoradas coroas que tive na adolescência.
Por falar em namoradas, vi Ceci chorar copiosamente quando disse que finalmente iria viajar. Santo Deus, como foi triste! Ela soluçava enquanto tentava consolá - la. Não tive coragem de jogar na sua cara as milhões de vezes que avisei que não iríamos ficar juntos, mas a deixei em meus braços até o momento em que se acalmou.
Quando isso aconteceu, me beijou com calma, um beijo sabor lágrimas e me pediu silenciosamente para que transássemos. Não poderia negar. Não a possuí com lascívia alguma.  A tive da maneira mais amável que poderia ser.

Não posso esquecer da Letícia, que tem se mostrado uma amiga e tanto. Nunca imaginei que ficaríamos tão próximos depois de ter fudido ainda mais minha perna na presença dela. Costumamos falar todo dia por uma aplicativo de mensagens e ela me conta tudo sobre a sua vida. Me tornei amigo conselheiro e certamente, nunca imaginei chegar ao ponto de dá conselhos amorosos a uma mulher com quem transei, assistindo filmes e comendo pipoca, como duas menininhas. Sim, pura verdade! A última vez que nos vimos, tinha passado a noite lá em casa, contando sobre seu novo "crush" enfermeiro que furava em cima da hora após marcar de sair. Informei logo que ele não queria nada com nada e que era pra desencanar antes de se envolver. Sempre era assim. Aí era mulher pra conseguir homem pra não dá certo com nenhum. O bom de tudo é que ela se divertia. Sempre que dizia pra cair fora dos caras idiotas,  sorria, me abraçava e me beijava, mas nunca mais transamos. Nem tinha mais vontade e acho que nem ela. Se queria, sabia fingir muito bem. Possivelmente, ficamos traumatizados com o ocorrido.

Mas a vida é isso mesmo. A gente não sabe pelo que vai passar e definitivamente, não sabemos o que nos espera. Onde que eu ia imaginar que um acidente iria fazer com que eu voltasse a falar com meu irmão, que faria amizades inusitadas, que notaria o quanto existem pessoas importantes ao meu redor? Sou grato por estar vivo, por ter passado pelo que passei e por ter amadurecido um pouco mais diante tantas dificuldades. Grato por estar aqui, agora.

Sorri fraco e respirei fundo após confirmar a mensagem do albino Vinícius. Olhei para o lado e avistei Ricardo um pouco distante, tão agoniado quanto eu. O sol estava se pondo e o céu havia alcançado um tom azul bem forte. Os pássaros cantavam enquanto voavam depressa de volta para seus ninhos e eu tentava me manter firme. Depois de esperar um pouco, encostado perto da porta, ela se abriu e só não caí pra frente porque ao notá-la, uma força interior subiu dos pés a cabeça, enchendo-me de uma felicidade inexplicável. 

Puta que pariu, Samanta, como você continua linda!

***

Geeeente, finalmente! Que emoção!

Leiam, votem, comentem e compartilhem. Ler seus comentários me motivam bastante. Beijos do Rodrigo.

* a imagem do Rodrigo é inspirada no modelo André Hamann.

PROIBIDO ESQUECEROnde histórias criam vida. Descubra agora