Mas Catarina insistiu, e Noely acabou contando..Contou tudo, desde o dia que o Rafael a encurralou na sua sala, até o dia que ele a pegou no elevador, não escondeu nada, até mesmo confessou que gostou, quando ele usando as mãos, a sufocou, essa parte ela contou chorando.
Catarina sentou ao lado da amiga e a abraçou, lhe disse que estava tudo bem. Ela sabia o que estava acontecendo, de relacionamento abusivo ela entendia.
Mesmo sua mãe estando em coma, seu pai tinha um relacionamento abusivo com ela, ele era vítima de seus sentimentos, ele era escravo de alguém que nem mesmo sabia que estava escravizando outra pessoa, sentimentos eram um mistério mesmo.
-- Você agora me acha uma pessoa horrível não é Catarina? Primeiro eu me envolvi com um homem comprometido, e agora eu deixo o Rafael fazer o que quer comigo, e ainda gosto do que ele faz! Eu não presto mesmo, eu sou igual ou pior que minha mãe.
Catarina nem pode responder, Noely começou a chorar, e não era um choro qualquer, seu corpo se sacudia de tal forma que ela ficou assustada com o estado da amiga.
Noely era dois anos mais velha, mas neste momento, Catarina estava se sentindo uma adulta embalando uma criança, essa criança agora estava chorando e falando; ela estava explicando porque se sentia pior que sua mãe, começou pela infância..
E de repente Catarina se sentiu afortunada, ela achava que sua situação com seu pai não era das melhores, ao ouvir o que foi ser uma criança na casa de Noely, se sentiu culpada pelas muitas vezes que criticou o pai.
Noely continuou..
Ela não se lembra quando foi que viu sua mãe levar o primeiro tapa no rosto, na sua mente infantil, o primeiro se misturou com o segundo e com os outros que vieram, na contramão de todos os homens que batem em mulheres, o pai dela não espancava a esposa, eram "só" tapas no rosto, ele gostava de humilhá-la, os tapas eram pra mostrar que ele podia fazer isso.
Noely cresceu acreditando que ofensas verbais e um ou dois tapas por semana eram normais.
Seu pai não só a humilhava como esposa e como dona de casa, mas como mãe também, a partir dos seus oito anos ela começou a entender o que seu pai falava dela, a chamava de garota sem sal, menina xonga-monga, criança feia, e culpava sua mãe por isso, dizia que a única coisa boa que a esposa havia feito, foi o filho, a esse ele tratava bem, não da forma certa, mas não o maltratava como maltratava as duas.
Seu pai só fazia biscates, dizia que não podia se humilhar fazendo qualquer coisa, na verdade ele culpava a esposa por não ter concluído seus estudos, e com isso ter um bom emprego, dizia que ela foi seu atraso de vida quando engravidou da filha.
Dona Rita e Noely viviam um relacionamento abusivo dentro de casa..
Por causa desses abusos ela se tornou uma moça retraída, não tinha amigos, amigos para que? Pra eles saberem da sua humilhação?
Aos 15 anos ela só queria livrar a mãe da miséria que existia dentro de casa, ela pôs como objetivo terminar os estudos e arrumar um emprego para ajudar nas despesas.
Mas então ela viu algo que lhe mostrou que elas não poderiam continuar na mesma casa que seu pai, sua mãe não merecia aquilo.
Já era tardinha e pra variar estava caindo uma garoa, Noely e sua mãe estavam chegando ao mercadinho que ficava há duas quadras de sua casa, sua mãe tinha um dinheirinho que havia recebido de algumas costuras, aproveitou para comprar o que estava faltando.
Um pouco antes do mercadinho, havia um bar, e era nele que seu pai estava. Ele estava numa mesa bebendo, vê-lo gastando o dinheiro que eles não tinham não foi o que abalou a garota de 15 anos, o que mudou em definitivo seus planos de vida, foi ver sua mãe humilhada, fingindo que não estava vendo a mulher sentada ao lado do seu pai, mas Noely sabia que era impossível sua mãe não ter visto que seu pai estava aos beijos com outra mulher.
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AOS SEUS OLHOS. Livro 1
ChickLitVoltando à sala, o sofá confortável foi um chamariz, ajeitou o roupão e já ia se sentar quando a campainha tocou. -- Noely, deve de ser a nossa pizza, atenda por favor! -- O Carlos Eduardo gritou do Quarto. -- Você vai confiar em mim? Eu vou aprov...