Passar o dia na construtora como se nada tivesse acontecido estava sendo uma barra.
Depois do almoço ainda tentou fazer alguns serviços de menos importância, mas nem isso deu. Sua cabeça estava a mil por hora por causa do que a Bruna lhe disse.
Fazendo uma retrospectiva de todos esses anos de convivência, ele era obrigado reconhecer que o que a Bruna disse fazia sentido. Ele nunca gostou de garotas grude, quando alguma se dizia apaixonada ele sabia que era a hora de dar no pé.
Não foram nem uma e nem duas vezes que o tema da conversa da turma eram os casais apaixonados, ele sempre se dizia contra as menininhas bobas que viviam atrás de romance e que se esqueciam de tudo para correr atrás de um bom casamento, casamento esse que do ponto de vista delas era a idealização de um lindo final feliz.
Dona Elisa, sua mãe, foi uma das pessoas que o ajudaram a formar essa opinião. Mesmo tendo se casado com seu pai quando tinha apenas 18 anos, ela nunca parou sua vida por causa disso, continuou estudando e se formou.
Só não começou a trabalhar na sua área; administração, por que na época não houve oportunidade. O desemprego já era grande.
Com vinte um anos e um marido ainda não consolidado em sua profissão, sua mãe arregaçou as mangas e foi atrás de um emprego, qualquer um, qualquer um que lhes ajudassem a pagar as contas.Até hoje sua mãe dizia que a melhor coisa que lhe aconteceu foi ela não ter encontrado emprego na sua área. Mesmo nova e sem experiência ela conseguiu uma vaga de operária em uma grande montadora de veículos que havia acabado de se instalar em São Paulo.
Mulher de fibra, mulher de atitude, com sete anos de firma D. Elisa já era uma das gerentes de setores, e dezesseis anos depois de ter entrado na montadora sua mãe conquistou o cargo de diretora geral da fábrica.
Aos vinte e cinco anos sua mãe ficou grávida dele, seu pai que nesta época já estava mais estabilizado pediu que ela parasse de trabalhar, mas ela não parou.
Na fábrica, quando alguns homens notaram que ela tinha potencial e que se destacava mais que eles, começaram a persegui-la, a atitude deles foi apenas mais um obstáculo que ela ultrapassou.
Carlos Eduardo sempre comparou a Bruna com sua mãe, do seu ponto de vista sua mãe sempre foi um exemplo de uma excelente esposa. Ela e seu pai nunca foram um casal de demonstrações públicas de carinho, de paixões. Mas o respeito entre eles era o carro mestre desse casamento. Seu pai apoiava as decisões de sua mãe e sua mãe o apoiava e o incentivava.
Quando ele tinha três anos e seu pai começou a sociedade com seu Nestor, sua mãe foi a pessoa que mais o apoiou, até dinheiro de suas economias ela emprestou para ele, na época o Seu Nestor entrou com 60% e seu pai com 40%.
Também foi sua mãe que o consolou quando três anos depois seu pai e Seu Nestor tiveram que vender parte da T&T, a situação financeira ficou muito difícil e eles aceitaram um terceiro sócio, foi uma das melhores coisa que lhes aconteceu, Agenor Braga, o terceiro sócio, comprou 9% do Seu Nestor e 10% do seu pai, mas o que na época eles pensaram que poderia ser ruim, se mostrou muito bom.
Agenor Braga era um advogado de alta qualidade, não demorou muito para Seu Nestor e seu pai verem que era disso que a T&T precisava. Eles pararam de entrar em contratos furados, acordos que antes eram vantajosos apenas para uma parte, passaram a dar lucro para todos. E como Seu Agenor foi de grande ajuda quando anos mais tarde Seu Nestor teve que se ausentar!
É, pensando nisso tudo, a Bruna realmente era muito parecida com sua mãe. Ela também era sua grande apoiadora, quando eles frequentaram a faculdade na mesma época, ela era a pessoa que sempre estava lá quando ele dizia que precisava estudar e ninguém se prontificava a estudar com ele. Ela era a primeira a perguntar como ele tinha se saído nas provas e suas apresentações, e quando ele dizia que nada ia dar certo, ela dizia que daria certo sim, pois ele era o melhor de sua turma. E mesmo ficando triste quando ele decidiu fazer pós-graduação em Nova York, ela também o apoiou.
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AOS SEUS OLHOS. Livro 1
Literatura FemininaVoltando à sala, o sofá confortável foi um chamariz, ajeitou o roupão e já ia se sentar quando a campainha tocou. -- Noely, deve de ser a nossa pizza, atenda por favor! -- O Carlos Eduardo gritou do Quarto. -- Você vai confiar em mim? Eu vou aprov...