Capítulo XXVI

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  O dia se passou devagar. Não tinham muito o que fazer na cela, então apenas ouviam enquanto Winry lia o livro em voz alta.

  Como não estava realmente presa, os guardas deixavam a garotinha sair e entrar das masmorras como bem entendesse e então sempre que saía voltava com comida que havia arrumado da cozinha do castelo.

  -- Eu acho que entendi como usar essa magia! - Winry fechou o livro.

  -- Como? - Yuki perguntou.

  -- Com a mente! Eu só preciso visualizar e BUM! Funciona!

  -- Tá, mas o que você aprendeu? - Monika perguntou.

  -- Bem, eu posso transformar tudo em pó com apenas um toque!

  -- Assustador... - Yuki disse. - Mas quando você disse que precisa usar a mente, tem outras formas de usar magia?
 
  -- Sim! - Winry levanta o indicador. - Com a mente, com o corpo, com a alma e com o coração!

  -- E como se faz isso? - Yuki perguntou.

  -- A magia da mente é quando você visualiza o que você quer fazer antes de fazer aquilo - Ron explica. - Magia do coração é usar suas emoções como fonte de energia. Magia da alma é tão fácil como respirar, pelo menos para mim. E na magia do corpo você usa sua energia.

  Logo depois de Ron terminar de falar, um guarda destrancou a porta e entrou na cela.

  -- Você vem comigo - o guarda segurou Yuki pelo braço e o levantou.

  -- Espera, - o garoto perguntou. - Quê?

  O guarda o ignorou e o arrastou para fora da cela.

  -- Vai ficar tudo bem Yuki! - Winry disse. - Eles não podem te executar antes do julgamento!

  -- Quê?!

  A tentativa de acalmar o garoto apenas piorou a condição de Yuki. Ele temia para onde estavam levando ele. Estaria indo para um interrogatório? Uma seção de tortura?

  -- Pra onde vocês estão me levando? - Yuki perguntou.

  -- A princesa quer jantar com você - ele respondeu.

  -- Como? - Yuki não podia ter ouvido direito.

  Como assim a princesa queria jantar com ele? Nunca se conheceram, e como que ela gostaria de jantar com um camponês pobre? E o pior, agora um criminoso?

  Eles subiram a escada espiral até ela acabar e entraram em um corredor bem decorado com quadros, flores e candelabros. Estava dentro do castelo.

  O guarda o conduziu pelos inúmeros corredores, como que eles não ficavam perdidos aí?

  Então ele abriu uma enorme porta e se revelou um grande aposento.

  O piso era de mármore branco e uma mesa comprida se encontrava no centro do local. A mesa estava repleta dos mais variados pratos de comida que Yuki jamais tinha visto na vida. Um lustre de diamantes se pendurava no teto.

  Na ponta da longa mesa se encontrava a princesa. Ela tomava um gole de uma taça de vinho e Yuki a reconheceu no mesmo instante.

  Cabelos loiro-caramelados, olhos turquesas.

  Ao lado dela se encontrava de pé o mesmo garoto que tinham visto mais cedo.

  -- Parece que aceitou meu convite - a princesa disse.

  Sua presença não era nem de longe parecida com as outras em que Yuki esteve cara a cara. Ela só parecia uma garota normal em um vestido chique, e que morava em um castelo.

  -- Ele não me deu chance de dizer não mesmo - Yuki disse baixinho.

  -- Você - o rapaz disse de forma autoritária e fez Yuki voltar a realidade. - Faça uma reverência, está na frente da princesa!

  -- Deixe, deixe - a princesa disse. - Sente-se, se sinta a vontade.

  Yuki se sentou timidamente em umas das cadeiras mais longes da princesa.

  Logo alguns criados o serviram com as comidas da mesa e colocaram vinho em sua taça. Eram tantos talheres e Yuki nem sabia o porquê disso.

  -- Meu nome é Kiara - a princesa se apresentou. - Qual é o seu?

  -- Yuki, meu nome é Yuki.

  -- Belo nome. Sabe Yuki, um reino não é um reino sem um rei e eu não posso ser rainha em um também.

  Yuki engoliu a seco, não gostava do rumo em que a conversa estava chegando.

  -- Eu posso te dar tudo, sabe - ela continuou. - Dinheiro, poder, é só pedir.

  -- Liberte meus amigos - Yuki disse.

  -- O quê? - Kiara indagou.

  -- Liberte meus amigos - ele repetiu. - É tudo o que eu quero.

  -- Está bem. Julius - ela se referiu ao rapaz de cabelos castanhos. -, mande algum guarda soltar os amigos dele e os tragam aqui.

  Ele assentiu e se retirou. O silêncio tomou o local de dor desconfortante.

  O garoto resolveu apenas comer o que estava no seu prato. Pegou qualquer talher e deu uma grande bocada em um bife.

  -- Você é um camponês? - ela perguntou.

  -- Sim - ele assentiu com a cabeça.

  -- E por que você foi preso?

  -- Me meti em uma briga - ele encolheu os ombros.

  -- Entendo, por que fez isso?

  -- Meu amigo foi defender algumas garotas de alguns homens e eu fui separar a briga mas acabei me mais brigando do que separando e acabei criando uma confusão.

  -- Interessante. Sabe, eu tenho posses, dinheiro, fama, poder. Nada disse te interessa? Você poderia ter tudo isso. É uma oferta tentadora para um camponês, certo?

  -- Eu acho que já tenho tudo que quero, não preciso de mais nada - ele deu mais uma bocada no bife e a conversa acabou assim.

  Um guarda abriu a porta e lá se encontravam Ron, Monika e Winry.

  -- Uau! - a garotinha disse admirada. - Quanta comida! Dá pra um batalhão!

  Agindo como se não estivessem na presença de uma princesa, os três sentaram próximos a Yuki e comeram ignorando completamente as normas de etiqueta.

  -- Irei providenciar quartos para vocês - Kiara disse.

  -- Obrigado, mas vamos embora amanhã de manhã - Yuki agradeceu.

  -- Não - ela fez que não com o indicador. - Você vai ficar pelo menos por mais um dia. Eu planejo dar um baile e quero que participe.

  -- Mas eu vou levar meus amigos também - Yuki afirmou.

  -- Certo - a princesa disse com uma revirada de olhos - Amigos.

  Após o banquete, os guardas escoltam os visitantes cada um para um quarto separado, mas um do lado do outro.

  Era estranha a sensação de dormirem em uma cama de verdade, principalmente em um castelo. Da última vez foi no reino das sereias.

  Com pensamentos assim, e achando a cama exageradamente grande, Yuki acabou dormindo.

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