Margot

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Eu estava sentada nos jardins ouvindo a festa acontecer dentro da grande casa e pensava que eu, Polo e Bash fomos presos ao mesmo tempo.

Mas minhas algemas seriam um único anel.

— Não acredito que fizeram isso com a gente. - disse Tiffin se sentando ao meu lado com uma garrafa de conhaque.

Ele me estendeu e eu a peguei, sentindo o líquido descer queimando a minha garganta.

— Eu também não. - eu disse - Nunca pensei que Cornelia pudesse ser ainda mais cruel, mas ela se supera cada vez mais.

Ele suspirou, suas mãos estavam machucada, devia ter socado alguma coisa no caminho, e eu não o julgava por descontar a sua frustração da maneira que preferisse.

— Você já amou alguém, Gogo? - ele perguntou.

Eu me virei para ele.

— Me diga que não está apaixonado por alguém da América. - eu disse.

Ele olhou nos meus olhos e eu vi a minha dor refletida neles.

— O nome dela é Inanna. - ele disse - E ela deve me odiar agora.

Eu o encarei.

— Por que? - eu perguntei.

Ele suspirou.

— É uma longa história. - ele disse.

Eu ergui a garrafa ainda cheia.

— Temos tempo. - eu disse.

Ele suspirou.

— Ela é minha colega de quarto. - ele disse - Ela é muito mandona e as vezes um tanto irritante, mas eu e um amigo fizemos uma aposta para ver quem transaria com ela primeiro.

Eu revirei os olhos.

— Você é um babaca. - eu disse.

Ele suspirou.

— Eu sei. - ele disse - Eu me aproximei dela por causa da aposta mas ela é simplesmente... apaixonante.

Eu concordei.

— E ela descobriu a aposta. - eu

— Da pior maneira possível. - ele disse - Eu tentei falar com ela, mas ela não voltou para o dormitório, dormiu na casa de um amigo, faltou as aulas que fazíamos juntos, ela sumiu do meu radar.

Eu suspirei.

— E agora nunca vai ter a chance de concertar as coisas. - eu disse.

Ele bufou.

— Para que? Já somos casados, Margot, acabamos de renegar qualquer um que venhamos a amar que não seja um ao outro. - ele disse - Prefiro que ela pense que nunca a amei, talvez seja mais fácil para ela aceitar que eu não vou voltar.

Eu concordei olhando para frente.

— Eu tinha um baile para ir. - eu disse - Baile de volta às aulas, ia com o Polo.

— O pai do seu bebê? - ele perguntou.

Eu senti uma fisgada no meu coração e bebi mais conhaque.

— Não, meu amigo. - eu disse - O pai do meu bebê era o Hardin, mas não há mais bebê.

Ele concordou.

— E você o ama? - ele perguntou.

Eu suspirei.

— Tanto que dói. - eu disse.

— Ele sabe sobre o bebê?- ele perguntou.

Eu neguei.

— Não, assim que eu descobri eu fiz o aborto. - eu disse - As únicas pessoas que sabem na América sou eu e o Bash. Agora só Bash, já que não vou voltar.

Ele suspirou.

— Somos dois fudidos, não somos? - ele perguntou pegando a garrafa e bebendo.

— É, acho que sim. - eu disse.

Eu olhei no meu relógio.

— Lá já é Natal. - eu disse.

Ele ergueu a garrafa.

— Feliz Natal. - ele disse.

Seus olhos estavam tristes e ver a dor dele me fez sentir muito culpada.

— Me perdoe por tudo isso, Tiffin. - eu disse com os olhos marejados - Não queria que Cornelia te envolvesse nisso.

Ele suspirou.

— Eu não te culpo, Margot. - ele disse - É tão culpada quanto eu.

Ele abriu os braços e eu me aconcheguei em seu abraço.

— Eu sinto muito. - eu disse - Esse pesadelo ainda vai nos machucar bastante.

Ele apertou os meus ombros.

— Não pense demais nisso. - ele disse e sua voz falhou - Vamos só fingir que nada aconteceu, só até essa noite acabar.

Eu concordei e ele deitou na grama, comigo em seu ombro. Tínhamos acabado com o conhaque e o efeito do álcool vinha em ondas.

— Não vamos nos odiar, não é? - eu perguntei- Não vamos acabar como os meus pais, morando em países diferentes e mal se suportando.

Ele balançou a cabeça.

— Não, Gogo, não vamos. - ele disse.

Eu ergui a cabeça e lhe mostrei o dedo do meio.

— Promessa suja? - eu perguntei.

Ele concordou e chupou o meu dedo.

— Promessa suja.

Era uma coisa que tínhamos inventado quando mais novos. Ao invés de entrelaçar os mindinhos nós chupavamos o dedo feio do outro. Era simbólico, é claro, significava algo como: Se quebrar essa promessa essa chupada vai ser o único lubrificante que esse dedo vai ter quando entrar no seu cú.

Adorável, não?

Nós ficamos lá, em silêncio, olhando para o céu estrelado por um bom tempo, até eu cair no sono embalada pela respiração de Tiffin.

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