Despedi-me de mamãe e resolvi que era melhor ir descansar em meu quarto. Após ter sido tratada, já não sentia mais tanta dor. Ainda bem! Um dia inteiro num dos quartos da enfermaria deveria valer para alguma coisa.
Colocaram gesso até a altura de meu joelho. A partir de agora, teria que usufruir das tecnologias de uma muleta por tempo indeterminado. O problema era que aquele troço branco e sólido esquentava!
_ Até logo, mãe. – disse com um aceno, enquanto ficava de costas e cambaleava pelo grande salão. Estávamos tomando café apenas entre mãe e filha, como há muito tempo não fazíamos.
Peguei a muleta nas mãos e segui vacilante pelos corredores do palácio. Entardecia e o sol já começava a se pôr. Podia notar a luz alaranjada que adentrava os locais em que passava por meio das janelas.
Meu Deus... Há quanto tempo eu não admirava o pôr do sol?
Decidi passar direto por meu quarto e ir para a varanda mais alta do palácio. De lá, com certeza teria uma visão privilegiada.
Meu corpo queria sentir aquela sensação de calma novamente! O entardecer sempre me propusera bem-estar. Além disso, depois de tanto tempo confusa, no Caos, com medo e vivendo a todo o momento atordoada, respirar tranquilamente e pensar um pouco na vida seria ótimo.
Sentei-me no banco próximo ao parapeito da varanda e observei o horizonte. Quase perdi o espetáculo. O sol já se punha pela metade.
A brisa que soprava brincava com meus cabelos, fazendo-me rir ao tentar segurá-lo inutilmente.
Uma sensação de paz encheu-me o peito. Naquele momento eu podia jurar que nunca havia deixado a Luz! A impressão era que nunca tinha tomado aquela terrível decisão.
De repente, meio sem pensar, entorpecida pela beleza do momento, olhei para o lado, esperando encontrar Jake. Mas ele não estava ali... Nunca mais estaria.
A tristeza invadiu meu coração como em uma enxurrada inevitável. Lágrimas encheram-me os olhos.
Estava tão acostumada com a presença de Jake que não tê-lo ali me deixou em estado de choque. Eu não queria voltar para o Caos, mas queria que um do Caos viesse para a Luz.
Por mais que quisesse negar, estava sentindo saudades. Saudade esta que feria-me mais que deveria.
Quando olhei para frente novamente, o sol não estava mais lá. Seus últimos raios iam perdendo a força e, em seu lugar, um céu escuro, pontilhado de estrelas, surgia.
Resolvi ir para meu quarto, afinal, a tristeza já tivera me tirado a alegria de um entardecer maravilhoso.
×××
Olhando para o teto, perdi-me em pensamentos. Retornei aos últimos dias e não pude evitar que lágrimas escorressem.
O medo enchia-me o peito novamente. A dificuldade dos treinos, a consciência de que poderia ser morta a qualquer momento, a constante sensação de estar em um lugar do qual não era bem-vinda. Tudo voltava à tona.
Tentei controlar minhas emoções. Agora eu estava em casa novamente, não havia motivos para sofrer com tudo aquilo. Infelizmente, pensar era mais fácil que impor esta certeza em meu coração.
A despedida de Jake começou a se acentuar em minhas memórias. Neste instante, o choro foi inevitável. Graças a Deus não estava com fome, portanto não seria necessário descer para o jantar.
Primeiramente, não precisaria esforçar-me para descer escadas com muletas e gesso – esta era a perfeita combinação para um inevitável beijo extremamente doloroso com o chão. Além disso, evitaria comentários como: "Ela estava chorando?", ou "está sentindo dor?". Minha cara não era das melhores e, com toda a certeza, geraria este tipo de dúvida.
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O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)
ФэнтезиClara tem 16 anos e já treina com os Luminescentes desde que se entende por gente. Entretanto, não é bem isso que seu coração deseja. Vivendo insatisfeita, Clara se revolta e muda de lado, surpreendendo e desestabilizando a todos, inclusive sua mãe...