_ Dará tudo certo, meu amor... – sussurrou Lucy, tentando me acalmar.
_ Parece que quem vai ganhar o bebê é você, pai! – exclamou Clara.
Estremeci. A verdade é que parecia mesmo. Estava trêmulo, suando frio e sentindo medo. Muito medo... Mas não pelo parto em si, e sim pela situação completamente desconhecida e inesperada de um segundo filho ou filha na geração de mulheres na família de Lucy. E se minha esposa não sobrevivesse?
_ Ícaro, ela está em ótimas mãos. – consolou Heitor com um sorriso solidário no rosto. – Doutor Antônio é um ótimo obstetra!
Não é possível que o destino levaria minha esposa de mim, um dos meus bens mais preciosos, a mulher da minha vida... Não é possível...
_ Querido? – a ouvi chamar.
Sacudi a cabeça para espantar aqueles pensamentos negativos e obscuros. Nada aconteceria! Daria tudo certo.
_ Sim? – respondi, olhando-a com carinho.
Lucy já estava acomodada em uma maca grande e aparentemente desconfortável. Sua enorme barriga de nove meses se sobressaltava em seu corpo magro e delicado, tornando-a a mulher mais linda deste mundo.
_ Não quero que entre comigo. – afirmou.
Engoli em seco. Eu não queria mesmo entrar, mas...
_ Lucy...
_ Não me contrarie, Ícaro. Seu nervosismo está me fazendo enlouquecer! – fingiu-se de brava. – Imagine ter que segurar sua mão enquanto estiverem cortando minha pele? Suas tremedeiras me fariam tremer também. Clara vai comigo.
_ Mas... – tentei contrariar.
_ Sem "mas". – reprimiu minha filha, sorrindo. – A escolhida fui eu.
_ Ah! Fique quieta, mocinha. – briguei, sério. Logo depois sorri também e beijei-a na testa. – Segure a mão de sua mãe por mim.
Levemente corada, ela assentiu.
_ Doutor Heitor? – escutei a voz do doutor Antônio soar atrás de nós. – Está na hora. Traga a maca com Lucy o mais rápido possível.
Encarei minha mulher que, distraidamente, acariciava sua barriga.
_ Menino. – sussurrei em seu ouvido quando curvei-me para dar-lhe um beijo na testa.
_ Menina. – ela sorriu, enquanto afastava-se lentamente, sendo carregada na maca por Heitor.
Um aperto invadiu meu peito e só houve tempo de soletrar com os lábios "volte para mim" antes que Lucy estivesse longe demais para enxergar.
De repente, a maca parou e ela ergueu a cabeça por sobre a enorme barriga.
Em tom alto, disse:
_ Vou voltar, e com uma menina nos braços.
Sorri. E assim ela se foi.
A questão é que escolhemos não saber o sexo do bebê, ainda que mediante os protestos de Clara e Heitor.
Eu queria um menino. Minha esposa, uma menina. Clara e Heitor, apenas saber qual dos dois acertaria.
Uma lágrima inesperada escapuliu-me os olhos. De cabeça baixa, segui rumo a recepção do hospital e larguei o corpo em uma das cadeiras mais próximas ao corredor da qual tinha saído.
Queria ser capaz de dar a mão para Lucy neste momento chave de nossas vidas, mas Clara me representaria bem. Além disso, meu genro também estaria lá, e poderia estender suas mãos para as duas.
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O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)
FantasiClara tem 16 anos e já treina com os Luminescentes desde que se entende por gente. Entretanto, não é bem isso que seu coração deseja. Vivendo insatisfeita, Clara se revolta e muda de lado, surpreendendo e desestabilizando a todos, inclusive sua mãe...