41º Capítulo - Clara

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_ Não quero que corte meu gesso com esse troço. – resmunguei, encarando a mulher parada à minha frente. Em suas mãos, algo muito parecido com um cerrote aguardava o momento de livrar minha perna.

_ Clara, ela não vai arrancar um de seus membros! – exclamou Dylan, revirando os olhos.

Mais de um mês havia se passado desde o dia em que colocaram aquela massa branca em meu corpo. Enfim havia chegado o dia de me libertar, mas não queria que isso fosse feito com uma cerra!

_ A senhorita quer continuar com o gesso? – perguntou a enfermeira, provocando-me.

Fiz uma careta.

_ Esse troço na sua mão é perigoso. – afirmei. – Não quero correr riscos.

_ Dylan, traga a bacia com água. – solicitou a mulher, ignorando minha opinião. – Pegue o pano que está ao lado também, por favor.

O rapaz obedeceu. Em segundos a moça já molhava a massa branca presa à minha perna.

Encarei Dylan suplicante no instante em que o objeto cortante e perigoso foi posto em ação. Ele riu.

Meu coração disparou e eu fechei os olhos. Aquela cerra parecia afiada... Qualquer deslize arrancaria sangue, e eu odiava sangue! Ao menos quando ele saía de algum ferimento meu...

_ Você ri porque não é você que está sendo cerrado! – vociferei para meu amigo, que gargalhou histericamente.

Longos segundos se passaram, até que escutei a libertação:

_ Prontinho! – exclamou a enfermeira, orgulhosa.

Abri os olhos e encarei minha perna.

_ Nada de sangue... – sussurrei. – E nem arranhões. Parece que deu tudo certo... Mas por que minha pele está tão clara?

_ Esta região ficou muito tempo imóvel, senhorita. – explicou a mulher. – Entretanto, até a noite voltará a cor normal.

Considerando que já eram quase duas horas da tarde, constatei que nem demoraria tanto assim. Suspirei aliviada.

_ Já posso treinar? – perguntei.

_ Mecha seu pé. – pediu Dylan.

Encarei-o confusa, mas seu olhar confiante encorajou-me a obedecer. Forcei a perna e estiquei meu pé para baixo.

_ Ai! – exclamei. Um terrível desconforto se instalou por meu sistema nervoso. – Ahn... Acho que devo tirar o resto do dia de folga.

_ Exato. – disseram meus dois acompanhantes em uníssono.

_ Ajude-a a caminhar até que acostume-se novamente, meu rapaz. – aconselhou a enfermeira, dando tapinhas nas costas de Dylan. Em seguida, tomou a bacia e o pano nos braços, saindo da enfermaria segundos mais tarde.

Olhei para meu amigo e abri um sorriso malicioso.

_ Carregue-me, escravo. – ordenei em tom de brincadeira.

_ Nem em sonho. – respondeu ele, rindo.

Fiz uma careta e sorri.

_ Grande amigo você. – reclamei enquanto tentava ficar de pé, ignorando o desconforto.

Dylan fez cara de choro, fingindo estar magoado. Depois sorriu.

_ Estou brincando. – disse. Em seguida, aproximou-se e envolveu seu braço por minha cintura, dando-me apoio para caminhar.

Sorri para ele e roubei-lhe um beijo no rosto.

_ Obrigada. – sussurrei.

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O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora