78º Capítulo - Clara

39 8 3
                                    

Uma longa e agitada semana passou lenta e dolorosamente. Dentro de mim reinava a certeza de que precisava ter uma conversa séria com mamãe. O assunto "desejo me afastar da sede" assombrava todos os momentos em família que tínhamos. Adiei ao máximo possível, mas de hoje não passaria...

Sentei a seu lado na mesa do café e sussurrei ao pé de seu ouvido:

_ Precisamos conversar.

Seu rosto perdeu a cor instantaneamente. Engoli em seco e aguardei.

Lentamente ela assentiu, balançando a cabeça em sinal positivo.

_ Agora?

_ Sim. Agora. – minha voz soou firme, forçando mamãe a ficar de pé sem hesitar. – Vamos até meu quarto?

_ Prefiro a varanda. – opinou, encarando-me.

Estreitei os olhos, mas assenti.

_ Tudo bem. Para a varanda então...

×××

Caminhamos em silêncio até alcançarmos nosso destino e acomodarmo-nos lado a lado num banco estreito. O ar fresco da manhã beijava meu rosto e implicava com meus cabelos. O sol se elevava cada vez mais, dando vida à floresta que se estendia logo à frente.

Mamãe tossiu e me encarou.

_ Ahn... – comecei, desconfortável. – O assunto é bem sério, mãe, e o tenho adiado há tempos.

_ Creio que já imagino do que se trata. – murmurou, ainda estudando meu rosto.

Minhas mãos suavam nervosamente, incomodando-me cada vez mais e dificultando em 100% a situação. Esfreguei-as na barra de minha blusa e, em seguida, pousei-as no colo.

_ Você disse que eu estaria livre... – sussurrei em tom quase inaudível, implorando para não ser ouvida.

_ O quê? – insistiu ela, franzindo a testa.

_ Livre. Você disse que, após a batalha, eu estaria livre. – baixei os olhos, envergonhada. – Sei que, agora, a liderança da Luz está completamente em suas mãos, mas por favor, não me peça para ficar aqui com você! Eu...

_ Clara, - interrompeu-me ela. – você está livre sim. Não vou obriga-la a ficar onde não quer.

Notei uma certa pitada de raiva naquelas palavras. Instantaneamente senti as bochechas corarem e as lágrimas emergirem em meus olhos.

_ Desculpe, mãe... É que... Eu...

_ Filha, está tudo bem. – um longo suspiro lhe entrecortou a fala. – Não vou negar que queria você a meu lado, mas já entendi que desde sempre sonhou com a liberdade.

Assenti, limpando uma lágrima que, à contragosto, escorria por meu rosto.

_ Vamos fazer um trato. – continuou ela. – Você terá a chave de seu quarto e ele permanecerá trancado até que deseje vir nos visitar. Ninguém irá tocar em suas coisas, ninguém tomará seu lugar. Tudo permanecerá como deixar, até que volte. Mas você terá que voltar...

Um sorriso escapou-me os lábios.

_ É claro que vou voltar, mãe, só não quero ficar aqui...

Ela assentiu e sorriu, aproximando-se lentamente.

_ Tudo bem. – suas palavras soaram tão doces quanto mel.

Num impulso, envolveu seus braços por meu pescoço e acalentou-me num longo abraço. Em seguida, afastou-se e segurou minhas mãos.

O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora