35º Capítulo - Lucy

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_ Por que... Ai!... Espere!... Ícaro, espere! – berrei arfando enquanto desviava de seguidos golpes desferido sem remorso na minha direção.

_ O que foi? – exclamou ele, franzindo a testa e repousando a espada em sua bainha.

_ Por que ainda devo treinar para ser a combatente, se Clara está de volta? – perguntei, encarando-o nos olhos.

_ Porque Clara está ferida e o Caos pode atacar a qualquer momento. – explicou ele, virando-se na direção da floresta como se procurasse alguma coisa.

Observei mais atentamente o emaranhado de árvores que se estendia a frente.

Estávamos em nosso lugar costumeiro de treinamento, no canto mais retirado da sede dos Luminescentes, bem próximos à borda da floresta. A manhã corria lenta e cansativa.

Numa das árvores, uma fita rosa-claro, amarrada a um dos galhos mais próximos do chão, chacoalhava com a brisa refrescante.

Um arrepio percorreu meu corpo. De repente, uma lembrança fez-me retesar todos os músculos possíveis.

_ Lembra-se da presença de Jake que, há algum tempo, você disse ter sentido bem aqui, neste lugar? – perguntou meu marido, sem olhar na minha direção, ainda fitando a floresta.

_ Sim... – sussurrei.

Com tantos acontecimentos e preocupações, esta suposta aparição de Jake acabou tornando-se uma mera lembrança esquecida, perdida em meus pensamentos.

_ Sente isso agora? – quis saber ele.

_ Não. Só testemunhei este ocorrido aquela vez que lhe contei... – suspirei. – Creio que, no fim, foi apenas minha imaginação.

_ Receio que não, Lucy. – murmurou ele, enfim encarando-me.

Ao observar seus lindos olhos azuis, notei que lágrimas acumulavam-se em excesso, loucas para saltar bochecha abaixo, mas meu guardião lutava fervorosamente contra elas. Havia desespero em sua expressão...

_ Eu... Eu sonhei com ele. – continuou Ícaro. – Aconteceu esta noite, mas, por favor, não diga que isso não significa nada!

Seu olhar era suplicante e fazia meu coração doer. O amor da minha vida estava com medo...

_ Não vou dizer. – prometi. Minha expressão séria transmitia o máximo de segurança possível. – Como foi o sonho?

_ Confuso... – após uma pausa, ele se sentou no chão e apontou o espaço a seu lado, para que eu fizesse o mesmo. Obedeci. Após acomodar-me, fitei-o, como que incentivando-o a falar. – Eu estava num lugar muito escuro, iluminado apenas por uma única vela. O espaço parecia amplo, e a luminosidade fraca da pequena fagulha não conseguia alcançar todos os cantos necessários. Meu coração estava acelerado e todos os meus músculos mostravam-se rígidos como pedra. Sem dúvidas estava sendo observado...

_ Este lugar parecia real? – indaguei.

Ele assentiu. Depois, continuou a falar.

_ De repente, escutei o ranger do carpete que cobria o chão, como se alguém estivesse caminhando lentamente. Não demorou muito para que a silhueta de Jake fosse iluminada pela tênue luz do fogo. – meu guardião piscou e uma lágrima escorreu por seu rosto involuntariamente. – "Ela é especial, irmão" foi o que ele disse logo de cara. Tentei falar, levantar, correr, enchê-lo de tapas, mas estava paralisado, sentado a uma cadeira extremamente desconfortável.

Levei a mão até o rosto e cobri minha boca, em sinal de exclamação.

_ "Ela" não pode ser... – comecei, mas Ícaro me interrompeu.

O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora