_ Clara? – eu chamava desesperadamente enquanto corria pelos corredores do palácio.
Minha esperança era a de que minha filha tivesse apenas escolhido um quarto qualquer e se trancado lá dentro.
Bem, na verdade isto era o que eu queria que tivesse acontecido. Entretanto, meu pressentimento de mãe afirmava que ela estava cada vez mais distante de mim, literalmente.
Membros dos Luminescentes começavam a surgir no palácio com olhos arregalados e expressões confusas. Era ainda muito cedo, mas eu os havia acordado. Muitos tentavam segurar-me pelo braço a fim de fazer perguntas, na intenção de entenderem o que estava acontecendo, mas eu apenas sacudia a cabeça em negação e continuava correndo, chamando por Clara.
Lágrimas incontroláveis escorriam de meus olhos.
_ Lucy, pare! – soou a voz de Aurora por detrás de meu ombro.
Seu tom era autoritário, forçando-me a obedecê-la. Exausta, joguei-me no chão, sentando-me recostada a parede.
Ela encarou-me com olhar piedoso, depois se sentou a meu lado.
_ Temo que ela não esteja mais no palácio... – sussurrou em tom quase inaudível, mas consegui escutar.
Creio que Aurora tinha medo de minha reação.
Suspirei.
_ Clara descobriu da pior forma possível. – murmurei enquanto secava o rosto com a barra da blusa.
Raiva começava a tomar minha alma, sufocando-me lentamente. Ódio de mim mesma fazia com que meu coração pesasse, enlouquecendo-me aos poucos.
Sem pensar nas consequências, dei um soco no chão. Não foi um soco como numa saudação de amigos, mas sim um murro digno de filmes de ação. A pancada fez com que meus músculos se contraíssem. Dor começava a se espalhar por meu sistema nervoso, entretanto, não dei atenção.
Havia algo que machucava mais que uma mera pancada... Meu coração começava a inundar-se em culpa e, sem ter para onde fugir, sentia como se estivesse me afogando neste sentimento, sufocando da forma mais terrível possível.
_ Você acha que... – começou Aurora, incerta se deveria continuar.
_ Acho que ela foi para a floresta, mas não que ela chegará ao Caos. – afirmei na tentativa de convencer a mim mesma disso.
Ela assentiu como se entendesse que eu queria apenas ficar calada. Cada palavra feria como uma faca sendo cravada friamente em minha pele, ou milhões de agulhas espetando-me ao mesmo tempo.
Na verdade, eu queria pensar. Se ela havia ido para a floresta...
Fiquei de pé e saí correndo em direção ao pátio do palácio.
As bordas da floresta que circundavam a sede eram bem grandes. Clara poderia ter escolhido qualquer uma das extremidades para adentrar aquele emaranhado de árvores.
Ao ficar frente a frente com a mata, hesitei. Seria mesmo aquele o local em que minha filha havia escolhido para fugir? E se eu me perdesse?
_ Lucy, adiante! – ordenei a mim mesma.
Era preciso ao menos tentar encontrar minha filha.
Lágrimas embaçavam minha vista, mas não parei. Corri para dentro daquele lugar que me causava arrepios. A manhã era fria e raios de sol começavam a, furtivamente, ultrapassar as espessas copas das árvores.
De repente, choquei-me com algo e caí sentada no chão.
Esfreguei os olhos, a fim de conseguir enxergar mais nitidamente.
Ao olhar para cima, pude constatar que não havia colidido com algo, mas sim com alguém.
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O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)
FantasíaClara tem 16 anos e já treina com os Luminescentes desde que se entende por gente. Entretanto, não é bem isso que seu coração deseja. Vivendo insatisfeita, Clara se revolta e muda de lado, surpreendendo e desestabilizando a todos, inclusive sua mãe...