55º Capítulo - Lucy

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A última semana demorou tanto para passar que os dias mais pareciam meses e torturavam-me lentamente.

Durante todas as horas que foram deixadas para trás, não saí de meu quarto nem para comer e limitei meus movimentos apenas a limpar as incontáveis lágrimas que escorriam por meu rosto.

Ícaro estava enlouquecendo com essa situação.

_ Você precisa reagir. – sussurrou ele, sentado a meu lado, bem próximo a janela.

Meus olhos inexpressivos fitavam o horizonte, evidenciando minha completa falta de interesse à conversa.

_ Não quero. – murmurei, deixando que minha irritação transparecesse sem censura.

_ Não é questão de "querer"... – seu tom era vacilante, como quem pisa em campo minado. – Meu amor, por favor, me escute!

Revirei os olhos.

A tarde de domingo parecia compadecer-se de minha indiferença, tornando o clima meio úmido e pegajoso.

A contra gosto, encarei meu marido nos olhos, fazendo-o se mexer desconfortável na cadeira.

_ Amanhã começaremos seu treinamento, está bem? – avisou ele, entrelaçando seus dedos aos meus, segurando minhas mãos por entre as suas.

_ Não é questão de "querer"... – repeti, fazendo-o engolir em seco. – Então está bem.

Sem jeito, Ícaro aproximou seu rosto do meu e beijou-me de leve os lábios. Em seguida ficou de pé, caminhou pelo quarto e deixou o cômodo pesadamente.

Um leve sorriso iluminou meu rosto. A preocupação do qual meu guardião trazia dentro de si com relação a mim transparecia em cada uma de suas ações: na forma desajeitada de andar, no nervosismo de seu toque ou até mesmo na ansiedade de suas palavras. Tudo evidenciava o quanto eu era especial pra ele...

_ Eu só queria que Clara estivesse aqui... – resmunguei para o vento e fechei os olhos, já sentindo algumas lágrimas forçando passagem para escapar e o sorriso esvaindo-se lentamente.

Entretanto, antes que pudesse me deixar submergir naquele mesmo mar de desesperos que cercava meu mundo há dias, algo fez-me arquejar. Subitamente senti um leve e quase imperceptível toque em meu braço, como se algo estivesse repousado em mim.

Abri os olhos instantaneamente e focalizei a visão bem a tempo de avistar uma linda e enorme borboleta completamente negra descansando preguiçosamente sobre minha pele.

Um arrepio percorreu meu corpo. Com cuidado, elevei minha mão ao encontro das asas do inseto, mas, assim que movi os músculos, ele se foi voando, sendo carregado bruscamente pela ventania que se iniciara, seguindo cada vez mais para longe de mim.

Suspirei exausta erecostei o corpo no parapeito da janela. Porque doía tanto?

O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora