Um pé depois o outro.
Dois, três, quatro passos... Cinco, seis...
Tentava distrair minha mente ociosa de todas as formas possíveis.
Dez, onze, doze... Uma janela, duas, três... Porta aberta, fechada, aberta, aberta...
Uma lufada de vento tocou meu rosto. Ergui os olhos e focalizei a pequena varanda que se estendia a meu lado.
Nossa, eu já estava aqui? Havia percorrido quase que o palácio todo sem perceber. Estranho... Nem pretendia vir a este lugar...
Incerta, dei um passo à frente, vislumbrada com o espaço lá fora, perdida nas questões do destino. Por que havia sido atraída pela varanda, guiada pelos corredores sem perceber?
Suspirei alto, relaxando os músculos, mas logo algo repentino me assustou.
_ Eles nunca ficaram sem um líder. – sussurrou uma voz. Virei-me assustada e dei de cara com papai, observando-me pelo canto dos olhos. – Só estão com medo do desconhecido. Como eu fiquei quando você trocou de lado.
Engoli em seco. Era agora ou nunca que teríamos esta conversa...
_ Ahn... – balbuciei, incerta, trocando o peso dos pés.
_ Será que pode se sentar a meu lado um instante, Clara? – inferiu ele rapidamente, não permitindo que um clima estranho tomasse conta do lugar (coisa que já estava acontecendo).
Assenti e sorri, enquanto caminhava e, cuidadosamente, acomodava meu corpo bem próximo ao seu.
_ Adiei esse momento o máximo que puder, e não imaginei que o destino fosse me proporcionar hora tão exata e certeira. – num gesto rápido, meu pai enfiou a mão no bolso e puxou lá de dentro três papeis largos e de coloração pastel. Tímido, entregou-os a mim e continuou sem me encarar. – Na verdade, tinha planejado... Ahn... Esse bate-papo para amanhã, com sua mãe junto e no Casino Pier, mas já que estamos aqui.
Focalizei as pequenas folhas que repousavam sobre minhas mãos e notei que, na verdade, eram ingressos reluzentes e com letras chamativas. Com dificuldades em meio a penumbra da noite, li Parque Casino Pier - New Jersey, escrito em tom prateado bem ao centro. Nos cantos, milhões de palavrinhas indecifráveis escondiam-se sobre imagens de rodas-gigantes, montanhas-russas e famílias sorrindo.
_ Casino Pier? – repeti em voz alta.
_ Sim, é um parque. Desde que você nasceu, sua mãe deseja leva-la para conhecer. Quando era da sua idade, passou um dia inesquecível com seus bisavós, e tenho certeza que é louca para contar todas as lembranças que guarda na mente para você.
Um sorriso invadiu os lábios de meu pai e um brilho apaixonado transcorreu seu olhar assim que me encarou.
_ Vamos lá amanhã, mas não conte nada a sua mãe. – continuou ele. – É uma surpresa.
Alegria invadiu minha alma e eu assenti, ansiosa.
_ Tudo bem. – afirmei, entregando-o novamente os ingressos. – Mas sobre o que quer falar?
Um longo suspiro antecedeu sua fala, enquanto acomodava os pequenos papeis novamente no bolso.
_ Sobre tudo. Quero entende-la, ouvir de você todas as suas dúvidas e incertezas, tentar ajuda-la, te reconfortar... Não quero ficar sabendo do que se passa apenas pela fala de Lucy. Quero que fale comigo, que confie em mim. Eu...
_ Pai, - o interrompi, notando que o desespero se agigantava em seu íntimo. – por onde quer que eu comece?
Num misto de alívio e confusão, seus olhos encontraram os meus e ele sorriu, agradecido. Subitamente puxou-me para junto de si e envolveu-me num abraço longo, apertado e maravilhoso. Antes de se afastar, beijou-me a testa e sussurrou:
_ Pelo começo. Temos todo o tempo do mundo.
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O Ciclo de Sangue - A Escolha da Herdeira (livro 02)
FantasyClara tem 16 anos e já treina com os Luminescentes desde que se entende por gente. Entretanto, não é bem isso que seu coração deseja. Vivendo insatisfeita, Clara se revolta e muda de lado, surpreendendo e desestabilizando a todos, inclusive sua mãe...