Fall into a fountain

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E quem poderia dizer que, numa coincidência, eu acabaria encontrando o garoto no primeiro fim de semana que ele passava na cidade?

No primeiro sábado em semanas que resolvi dar uma caminhada, comer um lanche no centro e ver se tinha algum filme no cinema, encontrei com Chwe Hansol meio perdido e com uma menina de, no máximo, dez anos rodando pelo centro. Os dois pareciam encantados com os mínimos detalhes e foi fofo, mesmo que eu não veja graça nenhuma nesse lugar.

A cidade não faz parte do interior, mas parece uma. Pouco movimentada, à partir das cinco da tarde tudo fechava e ficava deserto. Todos os jovens se conheciam, ou tinha um amigo que tem outro amigo que te conhece. Lembro que quando eu era criança, quando minha irmã saiu de casa, coloquei na cabeça que precisava ir embora o mais rápido possível e passei a odiar tudo ao meu redor e botar defeito nas coisas mais bestas, apenas para sustentar essa ideia que Jeju não era pra mim.

Isso até o dia que me voluntariei para ser o guia turístico e primeiro amigo de Chwe Hansol. Ele me viu sentado do lado de fora da sorveteria o encarando de longe. Fui pego no flagra e quando vi eles andando na minha direção, quase caí da cadeira de nervoso. Ele sorriu, apresentou a irmã e me perguntou se eu sabia onde tinha um parque ou uma praça ali por perto, ele e a irmã estavam passeando e conhecendo a cidade.

Eu podia ter dito o endereço de cada parque, até o nome dos guardas que ficam nas entradas, mas por impulso pedi que me esperassem e assim que paguei a conta, os levei até a praça do centro onde sempre há grupos de dança, bandas, alguns atores ensaiando em público, ou qualquer espetáculo, e acabei ficando com eles o resto da tarde.

Esperamos muito tempo pela apresentação da banda que arrumava seus equipamentos, mas o show que aconteceu foi exclusivamente meu.

Eu parecia um palhaço, todos os olhares estavam em mim. Até por que quem não olharia para o idiota que cai dentro do chafariz? Uma queda assim não pode nem ser considerada numa lista de "não fazeres", porque não é esperado que aconteça - embora essa lista fale unicamente de coisas difíceis de me acontecer -, tanto que eu nunca nem havia pensado nisso.

Eu ri, mais para não chorar do que por me divertir, outras pessoas riram bastante, mas Hansol e uma senhora me ajudaram a levantar da fonte. Minha calça jeans clara encharcada, metade da minha camisa branca transparente, meu rosto vermelho com um tomate e minha dignidade desapareceu feito mágica.

ㅡ Tá tudo bem? Se machucou? ㅡ Hansol perguntou ainda rindo enquanto me ajudava a sair da fonte sem mais acidentes.

Ele ofereceu a blusa que estava amarrada na cintura e usei pra tentar disfarçar o desastre das minhas roupas, mas era impossível tapar aquilo. Parecia que eu tinha nadado de roupas num lago. Além disso, como eu citei, a cidade é pequena. No dia seguinte meus amigos já saberiam disso e com certeza iriam zoar com a minha cara.

A verdade por trás do acontecimento é que eu fui empurrado pelo meu novo amigo, o qual eu não conhecia nem há três dias. Não foi num ato de maldade, apenas de brincadeira; eu e a garotinha nos juntamos para provocá-lo e ele me deu um empurrãozinho, mas eu realmente perdi o equilíbrio e caí como um peixe que volta ao aquário.

Foi vergonhoso. Definitivamente não estava nos meus planos cair numa fonte, ou encontrar Hansol no meio da rua, mas não é como se eu estivesse reclamando, foi engraçado. Todos ao meu redor também acharam, nem sequer disfarçaram e riram da minha desgraça até seus maxilares doerem.

Em contrapartida, Hansol se sentiu tão culpado que quando fomos para o parque, ele me comprou pipoca doce e salgadinho nas barracas de pipoca. No final do dia eu ainda estava encharcado, mas tinha o número dele salvo nos meus contatos.

Nunca pensei que algo assim ocorreria comigo. Logo comigo, a pessoa que menos sai de casa. E eu nem sonhava que era só o começo. 

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora