Ride a bike

611 86 26
                                    

Eu nunca fui o garoto mais atlético ou o mais animado dos garotos, então praticar esportes, brincar de esconde-esconde na rua e andar de skate não eram comuns no meu cotidiano. Eu era, e ainda sou, aquele que passa o dia todo mofando com os móveis, lendo, escrevendo, desenhando, ouvindo música ou dormindo.

Sinceramente, não gosto muito de exercício físico, a não ser que este seja dançar ou jogar uma partida de vôlei, uma brincadeira leve de quem deixa cair a bola primeiro e então ficar mais dois meses sem sair da cama. Mas em geral, sinto que não tenho energia o suficiente para gastar, então posso passar dias sem fazer nenhum tipo de atividade física. Porém, se eu fico sem fazer nada, começo a me desesperar e ficar inquieto. Vai entender.

Eu já havia aceitado esse fato, e já não sofria por ser aquele que não sabe fazer nada e apenas assiste às aulas de educação física. Estava confortável desse jeito.

Até que Chwe Hansol apareceu com uma linda bicicleta vermelha na frente da minha casa depois da aula, numa quinta-feira comum e tediosa. A bike era quase maior que ele e estava muito bem cuidada, até parecia nova. Ele apenas parou quando me viu voltando da padaria e acenou.

ㅡVamo andar de bicicleta? ㅡ ri da sua pronúncia engraçada com um leve sotaque ao dizer a palavra em coreano e neguei, apontando com a sacola de pão para minha casa.

ㅡ Tenho que deixar isso em casa e eu nem tenho uma bicicleta, cara. ㅡ Pelo modo que Hansol me olhou parecia que eu estava dizendo que tinha matado alguém e escondido o corpo no meu porão.

ㅡ Como assim não tem bicicleta? Você não sabe andar? ㅡ Ele perguntou indignado e eu neguei, rindo das suas feições. Ele balançou a cabeça negativamente, não aceitando o fato. ㅡ Ah, não, not on my watch, babe. Você precisa aprender antes que tenha quarenta anos e nem consiga ensinar seu filho!

Dessa vez eu gargalhei, o argumento dele era ridículo.

ㅡ E se eu não quiser ter filhos? ㅡ perguntei só para provocá-lo, porque no fundo eu já tinha aceitado meu destino. Eu seria forçado a subir naquela coisa.

ㅡ Esse não é ponto, Boo. Isso faz parte da infância, mas nunca é tarde. Você vai aprender e vai ser agora! Bora.

Quando ele percebeu que eu não movi um músculo de onde estava parado, saiu da bicicleta e sentou na frente da minha casa, nos degraus da sacada, e começou sua greve.

ㅡ Vai ficar aí até eu subir nessa coisa? ㅡ Perguntei irônico, mas ele ergueu o rosto para encarar com um sorriso e assentiu com a cabeça.

Inacreditável. Feito uma criança, ele cruzou os braços e esperou uma reação minha. Com todas essas escolhas que eu tinha, deixei o pão em casa, avisei minha mãe que eu sairia e voltei ao lado de fora, onde Hansol me esperava com um sorriso enorme na cara.

ㅡ Vamos? ㅡ Perguntou animado, já levantando sua bike e eu me fiz uma nota mental para não esquecer de contrariar ele sempre que possível.

Depois de discutirmos sobre onde ir, porque eu não queria passar vergonha na frente de crianças de seis anos andando melhor do que eu no parque, ficamos ali por perto mesmo, apenas eu tentando andar mais de dois metros sem desequilibrar.

Foi difícil.

Mas, depois de três horas, ele se cansou de me dar as mesmas instruções e me empurrou, e eu só pedalei desesperado com medo de cair. Dessa vez eu me senti a criança. Parecia uma mesmo, gritando. Fui até o fim da rua e voltei, onde me deparei com um Hansol sorrindo e batendo palmas.

Parei a bicicleta com as mãos firmes no guidão depois de quase atropelá-lo, ou depois de quase sair voando porque a parte de trás da bike subiu com a freada brusca. Respirei fundo e me peguei encarando Hansol mais do que o normal.

ㅡ Por que você tá sempre sorrindo desse jeito? Parece que tomou palhacitos ㅡ falei sem pensar, no impulso onde minha boca de sacola foi mais rápida do que meu cérebro, mas ainda bem que perguntei.

Não ia conseguir dormir direito se não perguntasse. E novamente arranquei uma risada engraçada dele. Suas caretas são as melhores.

ㅡ Não sei, você é engraçado. Me dá vontade de rir sempre que estamos juntos, sei lá ㅡ até mesmo a fala saiu acompanhada de um risinho.

"Por que tão bonitinho, Deus?" Lembro de ter me perguntado isso várias e várias vezes.

Depois disso, passamos o resto do tempo que tínhamos antes do pôr do sol para andar mais um pouco pelo bairro e quando paramos em frente da minha casa outra vez, ele fez uma referência exalando ironia e disse que foi uma honra ser meu professor. Eu, obviamente educado, respondi que foi uma honra ter sido seu aluno.

E foi mesmo. Se não fosse por ele, eu talvez seria aqueles pais que não sabem fazer nada e os filhos que têm que aprender sozinho, assim como foi comigo e minha irmã;

Nunca pensei que andaria de bicicleta ou que aceitaria ir na garupa de alguém, mas aprendi aos 17 anos porque, realmente, nunca é tarde demais para fazer algo novo.

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora