Surprise party

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Digamos que janeiro foi engraçado e cheio de coisas pra fazer, e podemos dar esse crédito ao Chwe que, aparentemente, não se cansa e todos os dias estava na porta da casa de todos nós, sempre chamando a gente para fazer alguma coisa diferente.

Patinar no gelo, brincar de bola de neve, jogar pingue - pong na casa de um, ver série na casa de outro e por aí foi, dando início ao ano da melhor maneira. E por incrível que pareça, o problema só deu as caras quando Hansol foi na minha casa falar com meus pais enquanto eu estava com Kihyun e o namorado dele, servindo de vela e comendo de graça.

Hansol simplesmente foi até lá, provavelmente esperando dar de cara com meu pai, mas isso não aconteceu.

Ele me contou depois que quando minha mãe abriu a porta, sua expressão simpática desapareceu e, naquele momento específico, ele quase desistiu e esqueceu o que foi fazer lá, mas se manteve firme e disse que precisavam conversar.

Mesmo contrariada, ela o chamou para entrar, ofereceu um café e o modo como ela falava e olhava-o fazia uma sirene dentro dele apitar. Hansol apenas esperava ansiosamente pelo momento em que aquela situação acabasse, então foi direto.

" ㅡ O aniversário do Seungkwan está chegando e eu e os meninos gostaríamos de fazer uma festa surpresa pra ele. O que a senhora acha?"

Você simplesmente conhece a mãe que tem, então pude imaginar o silêncio, o descaso e a expressão de quem não o queria ali estampada no rosto dela. Tendo aquele garoto que também gosta de garotos em seu sofá bebendo do seu café e olhando nos olhos sem medo ou dando qualquer sinal de desistência dos objetivos.

Mal sabia ela, ainda, que o filho dela gostava daquele garoto em sua frente.

Apenas depois de alguns minutos em que minha mãe parecia não saber o que dizer, meu pai saiu do banho e se juntou aos dois, curioso, logo adorando a ideia e oferecendo a casa, se comprometendo a comprar o bolo e tudo que os meninos precisassem. Eu queria ter visto o rosto da minha mãe. Eu queria ter visto ela durante todos os preparativos junto dos meninos, junto do Hansol. Mas até então, eu não sabia de nada.

Todos os dias eu via meus pais saindo para comprar algo diferente e eu não sabia o que podia ser, já que sempre comemoramos os aniversários com um bolo comprado na padaria e só, e não é como se eu me importasse o suficiente pra procurar saber o que era. Até que no dia quinze, uma segunda-feira, Kihyun me chamou pra dormir em sua casa e me prometeu que me deixaria em casa para almoçar com meus pais no dia seguinte para comemorar meu aniversário.

Kihyun me apresentou ao namorado, Changkyun, e passamos a noite toda vendo filmes antigos, comendo pipoca e conversando sobre coisas aleatórias. Quando amanheceu, tomamos café normalmente, mas notei que a mãe dele saiu de casa toda arrumada e logo cedo nas férias dela. Quem sou eu pra dizer algo sobre o que ela faz ou deixa de fazer, né?

Acontece que ela estava indo para minha casa, onde todos os meninos e boa parte da minha família que puderam ir estavam reunidos me esperando. E se não fosse pela insistência do Yoo para que eu tomasse um banho e pegasse uma roupa sua, eu teria aparecido de pijama, com o cabelo em pé e de cara amassada na festa.

Foi aquela coisa toda em que só dá certo em filme, onde as pessoas se escondem e apagam as luzes para assustar e surpreender o aniversariante, mas obviamente não deu certo porque eu não tinha o costume de acender as luzes ou sequer reparar em algo quando chego em casa, então apenas abri a porta e mal deu tempo de alguém gritar pois eu já estava nas escadas. Foi então que finalmente se tocaram e gritaram bem alto.

"SURPRESA!"

Não vou negar, foi um puta susto.

Estavam todos com aqueles chapéus ridículos com formato de cone, com línguas-de-sogra e cornetinhas fazendo logo uma algazarra ainda que eu não esbanjava qualquer reação. Eu simplesmente travei e Kihyun e Soonyoung tiveram que se aproximar e me trazer uns degraus abaixo para que eu voltasse da pequena ausência que tive por um instante. Eles simplesmente me abordaram com uma festa e um bolo logo depois de acordar e não queriam que eu bugasse?

Estava tudo tão bonito, eles realmente tiveram um trabalhão para decorar minha casa daquele jeito e as comidas estavam excelentes, além de que os parentes chatos foram embora cedo logo depois do parabéns, então a festa foi literalmente minha e dos meus amigos. Minha mãe se divertiu bastante, até. Chegou a brincar e ficar com todos nós na sala e nem parecia que ela fazia discurso de ódio para com a realidade de metade das pessoas ali presente. Chegava a ser irritante saber e ter que agir como se não me incomodasse, na época.

Depois de umas duas horas, todos se espalharam pela casa e ela se enfiou na cozinha com a mãe de alguns dos meninos e meu pai às vezes cantava uma música no karaokê com a gente e depois saía pra fazer alguma coisa.

Não lembro de tudo em detalhes, mas lembro que a mãe do Jeonghan me prometeu que assim que eu completasse a maioridade ela me daria uma garrafa de soju, o que rendeu em todas as mães ali prometendo a mesma coisa, e pelos meus cálculos eu teria soju para beber por durante várias reuniões entre amigos.

Lembro também quando Mingyu tentou dançar uma música do just dance e bateu a canela no móvel e chorou de tão forte que foi a batida, além da cena épica em que o tal Junhui veio buscar o Minghao para saírem e o último citado nunca mais teve sossego. Mas o melhor momento foi quando todos já estávamos arrumando as coisas e fui parado no topo da escada pelo dono da ideia de tudo aquilo.

ㅡ Gostou da festa? ㅡ Ele perguntou sorrindo e tirando a caixa de presentes de minha mão, deixando no baú ali perto e se apoiando na parede à minha frente.

ㅡ Muito. Fazia tempo que eu não comemorava meu aniversário assim.

ㅡ Bom, digamos que eu não tenha conseguido arrumar um presente bom pra você, então estou te devendo um ㅡ ele disse parecendo realmente chateado com isso. Eu só sorri e o puxei para um abraço.

ㅡ Não tá devendo nada, só de estar aqui já conta como um presente, Hansol.

Eu não sei o que acontece comigo, mas tenho um dom de falar coisas sem pensar e das quais eu me envergonho depois. Enterrei mais meu rosto em seu pescoço numa tentativa de me esconder e fingir que nunca disse nada, mas ele me puxou para me encarar, como sempre.

ㅡ Hm, quer dizer que eu valho como um presente? ㅡ ali estava o sorrisinho convencido e a voz sugestiva que sempre me deixa constrangido, junto da proximidade de nossos rostos por não largamos do abraço.

Eu morri e ressuscitei umas quinhentas vezes desde que nos conhecemos até hoje, mas tudo bem. Apenas sorri como resposta e um selinho me foi roubado, pois antes de poder fazer qualquer coisa, fomos interrompidos pela minha prima pequena saindo do quarto e dando de cara conosco. Nós nos separamos um do outro e fingimos que ninguém ali iria fazer alguma coisa.

De madrugada, quando esquentava alguns salgados para comer, meu pai chegou do turno da noite do serviço e acabamos por nos sentar e tomar um café às quatro da manhã, e digamos que foi onde as coisas passaram a mudar de verdade.

ㅡ Gostou da festa, filho? ㅡ Ele perguntou assim que sentamos na mesa com nossos humildes pratos de guloseimas, me arrancando um sorriso logo de cara.

ㅡ Amei, de verdade. Obrigado, pai ㅡ agradeci pelo carinho porque realmente tinha sido incrível.

ㅡ Já agradeceu quem teve a ideia também? ㅡ Meu pai perguntou antes de dar uma mordida no croissant, mas me encarando com um sorriso arteiro no rosto.

À essa altura, eu já não duvidava mais do que eles podiam fazer.

ㅡ O Hansol teve a ideia de novo? Ele veio aqui comer um bolo com você e teve a ideia da festa? ㅡ O meu tom era de ironia, mas a pergunta era séria.

ㅡ Não, mas ele veio aqui no outro dia dia que você saiu com Mark. Aliás, falando do Hansol, eu queria perguntar uma coisa ㅡ ele tomou um gole do café antes de prosseguir, mudando o rumo da conversa antes que eu pudesse digerir a primeira parte e perguntar algo, me fazendo engasgar com o pedaço de bolo que comia. ㅡ Era de você que o Hansol estava falando quando ele disse que gostava de alguém, não era?

*Na Coréia, a maioridade é aos 19, então aos 18 ele ainda é menor de idade e não pode beber, ver filmes adultos no cinema e é meio que uma tradição assim que você se torna um adulto, os mais velhos (amigos, familiares) te levam pra beber ou te dão uma garrafa de soju.

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora