Wear a dress

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Eu amava ver minha mãe ou minha irmã arrumadas para eventos, usando aquelas maquiagens produzidas e vestidos sofisticados que caem super bem, mas nunca pensei que eu usaria um vestido também. 

Tudo começou na casa do Chwe, quando numa tarde de sexta-feira todos do nosso grupinho - grupão, na verdade - se encontrou e foi ali que nos conhecemos melhor. Juntamos meus amigos de infância com os dos vários clubes em que Hansol participava e podemos dizer que formou uma galera e tanto! Nos reunimos para comer besteira, ver filmes e passar o tempo, já que ele estava sozinho pela primeira vez em tempos, e começamos a jogar jogos de tabuleiro e deles fomos para os de azar.

Como éramos um bando de vagabundos, não tínhamos dinheiro ali para apostar, então decidimos que a prenda seria decidida depois, quando houvesse um perdedor, mas algo insistia em me avisar que Joshua e Jeonghan já tinham algo em mente. Eles são insuportavelmente unidos e terrivelmente diabólicos nessa condição.

Jogamos Uno e uns quinze jogos que eu nem sabia que existiam, e em todos eu e Hansol perdemos. Com isso, ambos pagaríamos a prenda, que estava à critério dos meus queridos amigos.

ㅡ Bom, agora temos um desafio pendente, não é? — A maior das cobras, Jeonghan, perguntou retoricamente e todos concordaram ㅡ E se eles fizessem um desfile pra gente com as roupas da Sra. Chwe?

Eu neguei na hora, obviamente. Todos amaram a brilhante ideia do meu digníssimo amigo e ficaram insistindo, jogando na minha cara que eu havia aceitado jogar e que agora era uma consequência. E o anfitrião ao invés de negar e fazer algo, aceitou como se não estivesse prestes a perder a dignidade perante à dez pessoas. Imediatamente comecei a me questionar o porquê de eu ter aceitado ir na casa dele aquele dia.

E, sinceramente, por que todos da família dele tinham que ser altos? Fiquei extremamente desacreditado e chocado ao ver que o vestido preto da mãe dele serviu perfeitamente em mim. Já nele, só lamento mesmo. Mentira, lamento nada, as pernas dele ficaram todas de fora e era uma coisa que não se via todo dia.

Além dos vestidos, claro que nos maquiaram e nos fizeram desfilar, porque toda humilhação é pouca. Foi uma afronta com a minha pessoa, mas ao menos Wonwoo desenhava bem e soube fazer uma pintura bonita nos nossos rostos.

ㅡ Seungkwan pode se aposentar do sexo masculino, cara ㅡ Kihyun disse e mesmo constrangido, eu sorri. Era um elogio, afinal.

Eu acho.

Me questiono sobre isso às vezes.

Mesmo achando que os próximos momentos seriam de zoação e bullying, nossos amigos pegaram todos uma peça de roupa da - coitada - Sra. Chwe e fizemos um desfile de moda. Ela tem um ótimo gosto, aliás, mas nós não. Fizemos cada combinação que só por Deus mesmo, nem Jesus perdoa se vê uma coisa daquelas na rua.

Apesar de termos rasgado uma camisa e uma saia dela e feito uma vaquinha para pagar outra depois, tudo ocorreu bem e foi demais aquele dia. Era início do terceiro bimestre e sabíamos que, como estávamos no segundo ano do ensino médio, a pressão e todo aquele nervosismo do último bimestre iria cair como um piano nas nossas costas, então fomos aproveitar o máximo sem ter que passar quatro horas da nossa preciosa tarde fazendo trabalho e foi ótimo.

Não percebi em que momento, mas Hansol apareceu vestido novamente com seu moletom e, no meio da bagunça de roupas e risadas, ele chegou perto de mim sorrindo, colocou um cachecol colorido de criança em meu pescoço e sussurrou como se fosse um segredo:

ㅡ Como consegue ser tão lindo até com essa roupa horrível? ㅡ ele questiona com tom de indignação e volta a sorrir. ㅡ Você tem que parar de ser perfeito, cara, meu pobre coração não aguenta.

E depois de quase me fazer infartar, ele apenas me deixou ali para ajudar o Seokmin que estava preso numa echarpe rosa. "Sem estruturas" é a melhor maneira de descrever como fiquei após isso.

Não percebi na época, mas hoje sou muito grato à ele. Depois de sair mais de casa, passei a frequentar mais lugares e conheci os amigos dele, além de sempre fazer parte das bagunças, e isso me ajudou muito. Se não fosse ele, eu não teria me tornado mais maleável e sociável, não teria conhecido Mark, Mingyu ou outras pessoas e, obviamente, nunca teria usado um vestido.

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora