Art scholarship

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Tinha semanas que eu estava com a cara nos livros sem parar de rever e estudar conteúdos que eu odiava para tentar a primeira fase das provas para bolsa de estudos numa faculdade aqui da cidade, no final de abril.

O problema é que eu estava confuso.

Sempre gostei de desenhar e pintar e já estava quase certo minha ida para uma faculdade de artes visuais, mas de repente pareceu ser uma ideia muito vaga e me desesperei por simplesmente não ter um plano B, nem me interessar por algo suficientemente a ponto de querer me dedicar longos anos de estudo. Isso me rendeu crises e buscas de cursos, áreas, hobbies, qualquer coisa que me desse uma luz.

Sem ideias, ansioso e quase desistindo da faculdade e indo distribuir currículo para as lojas do bairro, eu estava só o pó. Num dia de chuva, Hansol e Kihyun foram em casa para passarem o dia comigo - já que eu mal saía -, e vimos alguns filmes, fizemos um bolo, conversamos e foi bem divertido, me distraiu, mas no final do dia lá estava eu ansioso e pensando.

Meus pais já tinham notado isso também e tentavam ao máximo aliviar a pressão, me pedindo para parar de estudar quando eu passava muito tempo no quarto, altas madrugadas à base de chá de camomila e conversas aleatórias ou fofocas da família pra me distrair e todo apoio do mundo, nunca tinha me sentido tão sortudo quanto naqueles dias.

Mas isso não fazia passar aquele sentimento de que eu simplesmente tinha um prazo e precisava ter minha vida decidida e encaminhada imediatamente. E eu não conseguia ver que não era exatamente assim. Meus amigos todos tinham um emprego ou estavam cursando alguma coisa ou na faculdade já, e eu estava respirando só. Desde a formatura, vejo meus ex-colegas de classe perguntando uns aos outros quais foram as notas no vestibular e como entraram nas respectivas faculdades e eu ali, existindo.

Por causa de todo um desespero e ansiedade que não estava mais conseguindo dar conta, não passei na primeira prova, ficando em quase vigésimo lugar na fila de espera. Não houveram vinte desistências, obviamente, então não passei.

Os meses de verão foram os que eu tirei para deixar isso passar. Simplesmente não iria acontecer, não do jeito que eu estava.

E comigo meio que desmotivado e pronto para fazer outra prova somente no ano seguinte, se eu fosse fazer, estava ficando tudo bem de novo. Entendi que não daria certo enquanto eu não fizesse por mim, porque eu queria e não porque eu achasse que precisava. E foi então que Hansol me ligou numa noite de sábado dizendo ter encontrado algo que poderia ser bom pra mim também e no dia seguinte ele veio em casa para falarmos melhor sobre.

Ele estava pesquisando faculdades em Seul por curiosidade e descobriu uma que também dava cursos técnicos. As provas de concursos para bolsa ocorreriam em setembro, com direito à vale-transporte, os dormitórios disponíveis para negociação e carteira de estudante para pagar meia em restaurantes, cinema e todos os mimos, e a mesma nota para o curso técnico também é válida para uma graduação no período de dois anos. Pareceu pegadinha de tão fácil que estava no site, era bem simples.

Mas o pior é que era tudo verdade e ainda se tratava de uma faculdade super prestigiada em Seul e ainda sede de intercâmbios! Muito chique.

ㅡ Vocês devem estar loucos ㅡ foi a primeira coisa que minha mãe disse quando mostramos tudo que encontramos, os lugares onde tudo se encontrava, rascunhos de gastos de passagem, informações do aluguel da república e tudo o que precisaria.

ㅡ Por quê?  ㅡ perguntei já desanimando e ela me olhou como se tivesse uma avalanche de argumentos por vir, e tinha mesmo.

Passou horas falando como era perigoso, que eu era muito novo e incapaz de simplesmente me mudar assim para o outro lado do país e que não seria fácil ou possível assim de uma hora pra outra. Mas ela pelo menos prometeu que falaríamos com meu pai, o que não dissipou o mínimo de esperança que existia.

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora