Talent show

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Já deixei bem claro o tamanho do meu amor para com tudo que relacionado à arte, assim como tinha uma vergonha da mesma proporção de expressar-me em público e de apresentações em geral. Mas isso não durou tanto quanto eu esperava.

Em junho, como em todos os outros anos, teria de haver um espetáculo e o escolhido daquele foi um show de talentos. Quer desenhar? Tá dentro! Escrever? Vale também. Tocar um instrumento? Dançar? Recitar um poema? Mostrar que consegue colocar o pé atrás da cabeça? Valia tudo isso e o que quisessem, dependia da criatividade e, de fato, do talento de cada um.

Eu tinha plena ciência de que não queria, e nem se eu quisesse conseguiria participar, mas, como esperado, tive um Hansol no meu pé insistindo para que eu participasse em todo intervalo, tarde livre juntos e por mensagem. E o pior, ele queria que eu cantasse! Na viage que tínhamos feito no ano anterior, quando fomos no karaokê, cantei algumas músicas e todo mundo ficou chocado que eu não tinha voz de taquara rachada e que sabia cantar. Desde então, sou sempre requisitado aos karaokê's da vida e para fazer showzinhos para os nossos amigos junto de Seokmin, ele sim canta demais.

Mas uma coisa era cantar na frente dos seus amigos, outra coisa é na frente da escola.

O show seria na primeira semana de julho, encerrando o bimestre, o semestre e as aulas, dando início às tão esperadas férias, mas o problema é que piscamos e já faltava umas duas semanas para o show e eu ainda não sabia qual música iria apresentar. A ansiedade já não batia mais de madrugada, ela me espancava o dia todo e nada vinha em mente. Nenhuma música sugerido pelos meus pais, amigos, colegas ou dos professores de artes pareciam boas pra mim, e isso me irritava. Parecia que quanto mais eu procurava, menos canções pareciam soar bem com a minha voz e eu já estava para desistir daquilo.

Até ir no shopping com o Chwe no fim de semana.

Era um domingo e procurávamos um presente de aniversário para o Simon e em algum momento quando resolvemos sentar para comer, uma música diferente dos kpop que sempre toca de fundo começou a soar bem baixinha nos corredores e em meio ao barulho e agitação da praça de alimentação, eu tentava me focar na batida e na letra. Percebi que era em inglês e só entendia poucas partes, mas ainda assim ela me chamou muita atenção e logo já queria o nome para baixar e ouvir 09284567289 vezes no fone até enjoar. E como se não bastasse a letra já boa - pelo o que eu entendi -, a voz gostosa do cantor, até então desconhecido por mim, e eu estar sentindo aquela euforia interna de quando você encontra aquela música boa, comecei a ouvir Hansol murmurando algo e quando o olhei, ele cantava baixo para si mesmo, balançando a cabeça e batucando com os dedos na mesa.

Ao notar que estava sendo observado, olhou para mim e sorriu ainda mais enquanto ainda sussurrava os versos próximos do refrão. Logo segurou minha mão e começou a cantar alto o suficiente para que eu escutasse, mas não tão alto para chamar atenção de qualquer um ali próximo, e mesmo que eu só entendesse a parte que dizia sobre estar com a pessoa era como estar em Paris na chuva, os olhos me encarando de perto e o sorriso me deixando bobo pela quinquagésima vez foi o suficiente para que eu passasse o resto da tarde pensando nisso. Ele não parecia estar cantando, estava recitando, estava proferindo as palavras como se estivesse conversando comigo.

De madrugada, depois de pesquisar "rain in paris", descobri o nome - que não era tão diferente da pesquisa desesperada - e parti para a tradução. Preciso dizer que sorri que nem um idiota? Um monte de flashback me veio em mente e parecia que eu mesmo tinha escrito-a, eu conseguia sentí-la. Fui procurar, então, a cifra, pois já tinha certeza de que seria ela mesma que eu cantaria.

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora