Climb on the roof to see the stars

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Voltamos de Busan faltando apenas alguns dias para o natal, por conta disso não vi nenhum dos meninos até o ano seguinte. Todos estavam com suas respectivas famílias se preparando para viajar para cear na casa de um parente distante enquanto eu apodrecia em casa sem ter o que fazer.

Não é como se eu estivesse dizendo que minha família e eu não nos importamos com o natal, mas é exatamente isso que estou dizendo. Não tem um motivo específico, apenas não é um dia especial para nós. É como qualquer outro e somente uma janta boa é o suficiente para nós, já que notamos que o significado do Natal ainda seria o mesmo, independente de como fosse comemorado.

E não muito diferente dos dezessete anos que passaram, jantamos em casa e assistimos os especiais de natal que passava todo ano na TV, depois um filme e quando dava meia-noite, apenas desejávamos feliz natal e íamos dormir.

O ano novo já era algo que me alegrava mais desde criança. Era a minha data comemorativa favorita, mas deixei de prestigiá-la como antes depois de não saber mais se queria mesmo mais um ano de vida. É uma sensação de "não vejo a hora do ano ruim acabar para poder entrar um ano pior", sabe?

Mas isso mudou naquela virada de ano.

Nós encontramos um restaurante que dava desconto de réveillon e as famílias menos envolvidas em tradições como nós iam e aproveitavam da boa comida. Não sei dizer o que se passou pela cabeça do meu pai, mas, depois de seis anos consecutivos fazendo nada, ele resolveu que iríamos fazer algo de diferente e foi o melhor jantar que já tivemos em anos.

Não teve discussão ou aqueles momentos em que me irritava por algum comentário, nem minha mãe falando alguma coisa para me provocar, apenas comemos e conversamos sobre os nossos planos para o ano que iria começar.

No caminho de volta, meia-noite marcou no relógio e os fogos de artifício dispararam no céu acima de nós, no carro. Era estranho e parecia meio sem graça ter dado o horário em que mais esperamos para ver e estar dentro de um carro, sem poder apreciar apropriadamente aquele show de luzes que sempre era visto do meu quintal.

Foi então que senti o carro parando e vi meu pai deixando o carro para olhar para o show de luzes no céu. Sem hesitar, também saí e minha mãe se juntou por último. Era realmente lindo e parecia, por um momento, que as coisas mudariam magicamente a partir daquele instante.

Essa é a sensação, eu gosto de ter aquele leve ápice de leveza ao pensar que nada realmente aconteceu, quando olhamos para frente e é como se víssemos uma folha em branco. Mas, então, tudo volta e você se recorda de que não foi um sonho, foi realmente mais um ano vivido. Às vezes você se arrepende.

Eu me sentia pronto para o ano que viria. Naquele instante, me ocorreu o lapso de coragem, de adrenalina, de determinação, quase como aquelas que nos dá quando precisamos dormir, mas você se sente tão acordado e disposto que poderia sair e pintar a parede da sua sala de estar às 3 da manhã. Voltei para casa com aquilo em mente.

E, bem, eu não pintei a parede da minha sala, mas simplesmente saí de casa pela porta da frente com todo cuidado e cara de pau que tinha e rumei para algum lugar em que minha mente dizia não saber onde, mas meu subconsciente me guiava.

Parei na frente da casa toda apagada por ser madrugada e meus ombros simplesmente relaxaram, me peguei rindo e me chamando de louco, onde eu estava com a cabeça de ir à casa dele às duas e pouco da manhã? Talvez ele nem estivesse lá, era ano novo, poderia estar na casa dos avós ou algo assim. Mas a sensação de estar ali, de estar onde não deveria logo no primeiro dia do ano valeu a pena. A rua estava vazia e parcialmente escura, me sentia livre, não importava do quê. Apenas livre.

Lembro-me de me sentar na calçada e pegar o celular para checar as horas, mas tinha uma notificação de mensagem, e era uma mensagem de Hansol.

"Tá acordado? "

Estava escrito na tela do aparelho em minhas mãos. Ele tinha mandado aquilo alguns minutos antes e prontamente confirmei. Perguntei se ele estava em casa.

"Em casa? Sim, pq?"

Eu não sabia se devia falar que estava ali na frente como um stalker quase duas e meia da manhã ou se apenas deixava quieto e voltava para o conforto e calor do meu quarto. Mas, afinal, eu já estava lá, oras. O que custava?

"É pq eu meio q tô na frente da sua casa kkkk"

A mensagem foi entregue, visualizada e ignorada com sucesso. Passaram quase cinco minutos e eu já estava torrando o resto dos meus créditos vendo um vídeo no YouTube quando uma bolinha de papel foi jogada em minha cabeça. Ele estava pulando a janela da cozinha, sem o pijama costumeiro e um sorriso arteiro no rosto. Naquele instante, todo o frio e preguiça restante encontrada no meu ser se dissipou e fui preenchido pela expectativa e ansiedade.

Nunca tinha visto aquele lado dele. O lado em Chwe Hansol que o faz sair de casa com um capuz de madrugada pulando a janela da cozinha para não acordar ninguém, me pegar no colo pelas coxas e me beijar de repente no meio da rua até o ar faltar. Quando me soltou e me colocou no chão, simplesmente saiu me puxando enquanto ria da minha reação para algum lugar que eu não fazia ideia de onde era.

Era como se os olhos dele transbordassem emoção e adrenalina em nossos corpos ao correr por uma rua deserta que ia ao centro. Aquecia nossos corpos parcialmente desprotegidos dos pingos gélidos e finos que caiam e o ar faltava em nossos pulmões, mas não paramos até nossas pernas dizerem chega, sempre ultrapassando um ao outro numa espécie de corrida que nenhum de nós lembrava de ter dado início.

Não lembro quanto tempo corremos, mas lembro de termos passado em uma loja de conveniência e compramos uns salgadinhos e coca com o dinheiro que tinha deixado no bolso e rumamos a lugar nenhum. Andamos, conversamos sobre qualquer coisa, passamos por alguns lugares abertos como bares e mercados, mas nada realmente era tão interessante quanto à nossa caminhada matinal que, na verdade, era feita às quatro da manhã.

Até que, enquanto conversávamos, o peguei olhando para cima, para algumas estrelas brilhantes sendo ofuscadas pelas casas altas, dos prédios e as luzes da rua.

ㅡ É uma pena que não dê pra ver direito por causa desses prédios ㅡ comentei, também olhando para o céu e tentando ver mais daqueles pontos brilhantes por trás de algumas nuvens e, como um desenho animado, uma lâmpada surgiu acima da cabeça dele.

ㅡ Vem cá, Boo.

Minha mão foi segurada e puxada pela vigésima vez naquela noite, ele apenas me soltou quando chegou próximo à uma residência mais abatida que as outras, era nítido que estava desocupada. Por um momento, quase entendi errado e já ia me preparar para pular a grande janela, caso ele realmente quisesse invadir, mas fui pego de surpresa quando o vi indo aos fundos, onde tinha uma árvore e foi subindo como se não fosse nada.

ㅡ O que você pensa que tá fazendo, Hansol? ㅡ sussurrei o mais alto que dava sem berrar e ele riu.

ㅡ Se as casas tampam a visão das estrelas, então é subir nelas ㅡ disse como se fosse óbvio, subindo mais outros três galhos e chegando no telhado. ㅡ Consegue subir?

"Claro que sim", eu quis dizer enquanto eu já escalava sem qualquer tipo de problema, mas nem isso saía da minha boca ao ver a distância do quinto galho até o chão.

ㅡ Não olha muito para baixo e não pisa no galho à sua direita, ele tá rachado e vai romper ㅡ Hansol me orientou de lá de cima e fingi que minhas pernas não tremiam de nervoso. Continuei subindo, com uma mão segurando no tronco em que me apoiava e a outra tentando alcançar a calha da casa, falhando miseravelmente. ㅡ Vem cá.

Hansol me segurou e me puxou para cima, quase me fazendo cair e infartar pelo susto, mas consegui subir e quase pulei em cima dele para sair da beirada. Ele realmente não se importou, já que puxou também e me deixou sentado em seu colo.

Me permiti escorar em seu ombro enquanto tentava regular minha respiração e meus batimentos, que em algum momento se tornaram irregulares. Eu queria bater nele por me fazer dar uma de Tarzan, mas nem consegui pensar muito. E quando o susto passou e o olhei, ele sorria, então esqueci o fundinho de raiva e percebi o quão lindo era a vista dali de cima. Era como se não houvesse lugar melhor para estar, e não tinha mesmo.

ㅡ Feliz ano novo, Boo. 

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora