Get kicked out of a library

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Essa vez foi um ocorrido que me fez pensar em todos aqueles que eu tenho vontade de enfiar um estojo na boca enquanto leio. Eu sou muito, mas muito chato, então não há algo que me caia tão bem quanto passar as tardes desocupadas e tediosas na biblioteca da cidade. Sim, minha cidade possui uma, que é bem perto da minha casa.

Desde que eu chegasse em casa antes de escurecer, eu podia ir à praia e voltar que meus pais não iriam se importar, então eu saía lá pelas duas da tarde horas lendo, escrevendo ou fazendo trabalhos atrasados das matérias que odeio e não faço o mínimo de esforço pra estudar. E como eu disse, sou muito chato.

Sempre tinha um infeliz, desocupado e mal educado que ria, falava alto, ouvia algum áudio sem fone ou abria alguma embalagem de comida fazendo barulho e conseguia me desconcentrar.

Não tenho misofonia, mas quem não se irrita com isso?

Até que em um fatídico dia, eu fui o tal infeliz, desocupado e mal educado.

Para um trabalho em dupla de história, Hansol e eu fomos para lá - depois de muita insistência da minha parte - numa tarde de sábado. Mas como esperado, não nos concentramos em nada e ainda atrapalhamos aqueles que estavam focados em suas devidas tarefas. Naquele dia notei que sou muito bobo e fácil de fazer rir e Hansol é um idiota que consegue me fazer rir com muito pouco.

Nada era realmente engraçado, mas era o suficiente para que o mínimo foco existente evaporasse.

ㅡ Por que a gente tá' aqui mesmo? ㅡ  perguntou ele depois de ter desistido de três ideias e recomeçar tudo do zero.

ㅡ Porque a gente precisa de nota, só por isso.

ㅡ Não necessariamente, a gente pode deixar a escola e vender arte na praia. Você desenha e eu me apresento em público ㅡ ri com seu comentário, mas sem deixar de imaginar o quão engraçado poderia ser.

ㅡ Bem pensado. E a gente viveria onde? No meio da areia numa casa de palha? ㅡ questionei já rindo, sem o olhar enquanto escrevia a última linha da minha parte.

ㅡ E isso importa? Podemos morar em qualquer lugar, se for juntos e dividindo a conta ㅡ ri mais uma vez e neguei com a cabeça, o acusando de ser interesseiro e ele dizendo que não era, que era muito mais pela minha companhia.

Após muito tempo discutindo isso e escrevendo ao mesmo tempo, terminamos o que tínhamos para terminar e conversamos sobre outras coisas, acabei contando que morria de vontade de viajar com todo nosso grupo de amigos, mas que demoraria pra rolar e ele contou que fazia um bom tempo que não viajava.

Não conseguimos manter o foco em nada do que fazíamos, nem em assuntos durante uma conversa, então do nada começamos a ler aquelas revistas que têm piadas e charadas e tivemos o dom de rir com essas besteiras de trinta anos atrás e o bibliotecário nos deu uma bela bronca antes de nos convidar a nos retirarmos. Foi muito constrangedor ver todas as pessoas nos olhando feio, mas foi cômico.

Nunca pensei que isso me aconteceria, considerando o fato que odeio pessoas barulhentas, mas, com ele, não posso evitar de rir até a barriga doer e simplesmente aconteceu. Sim, poderíamos ter evitado, já que quase perdi meu cartão e fui proibido de pegar livros por uma semana, mas foi uma tarde engraçada.

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora