Cry in front of people

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Quem nunca sentiu uma vontade súbita de chorar e estava em público? Quem não, que atire a primeira pedra.

Lembro muito bem daquele dia que eu podia ter inventado uma mentira qualquer para meu pai e ter faltado, ou eu poderia ter passado o intervalo desenhando na sala. Podia ter ficado com Joshua e Minghao que provavelmente entenderiam e não perguntariam nada, mas não fiz nada disso. Eu queria tanto ir embora, mas não podia, então me tranquei no banheiro esperando que aquilo passasse sem passar por cima de mim.

Não entendi o motivo, nem acho que tinha um, mas naquele dia eu estava acabado. Meu corpo implorava por descanso, mas minha mente me mandava continuar meu dia, mesmo sabendo que não conseguiria. Minha cabeça estava um turbilhão de pensamentos e não notei o quanto minhas mãos estavam tremendo e o quão desesperado meu pulmão estava procurando por ar. Eu estava um caos, mas coloquei na minha cabeça que não era nada demais.

Quando estava voltando para a sala, fui bombardeado de perguntas de Kihyun e Jihoon, que me barraram na porta e notei os olhares preocupados de Hansol, Wonwoo e Mark. Me perguntaram onde eu estava, por que meus olhos estavam vermelhos e o que aconteceu para eu ficar tão estranho e tenso. Acontece que eu também não sabia, e aquelas perguntas todas e o modo afobado em que me foram feitas soou mais como uma panela de pressão apitando na minha cabeça, então simplesmente disse que estava bem e virei as costas e voltei para o banheiro. Sem me importar com a aula que iniciaria, com a bronca que eu levaria ou com qualquer coisa, só saí assim que o intervalo acabou.

Tentei me acalmar, respirei fundo várias e várias vezes, tentei me focar em outra coisa que não meu corpo agindo como se estivesse sendo esmagado por algo que nem sequer dá para pôr em palavras. Comecei a ler e ver os desenhos que sempre tem nas cabines, mas nada parecia melhorar. Até que o silêncio absoluto da quarta aula, onde os alunos não podem ir ao banheiro, foi interrompido.

ㅡ Hyung? O que aconteceu? ㅡ Na hora, me irritei com Hansol. Poxa, eu fugi das perguntas e ele foi atrás de mim pra continuar fazendo? Ignorei ele por alguns segundos. ㅡ Por favor, hyung, eu só tô preocupado, fala alguma coisa.

Ok, eu sou muito mole mesmo, eu sei. Mas, em minha defesa, foi a primeira vez que ele me chamou de "hyung ", mesmo que ele soubesse que temos um mês de diferença, então me amoleceu com o tom preocupado também.

ㅡ Oi, Hansol, eu só... eu tô... ㅡ Eu queria explicar, dizer tudo, mas minha garganta fechava e da minha boca não saía nada que fizesse sentido ou que explicasse o que estava acontecendo. ㅡ É estranho, não só não tô bem hoje.

ㅡ Estranho como?

ㅡ E-eu também não sei. Só não estou normal. Meu coração tá muito acelerado agora. Eu tento dizer a mim mesmo que estou bem, mas minhas mãos tremem sem p-parar, tô com uma falta de ar e uma dor estranha no peito também ㅡ não notei em que momento comecei a chorar, mas meu rosto já se encontrava molhado, meus olhos vermelhos e inchados e apenas recebi silêncio como resposta. ㅡ Hansol?

ㅡ Abre a porta pra mim, por favor.

Demorei alguns segundos para assimilar o que foi dito, minha cabeça latejava de dor e minhas pernas fraquejaram quando levantei, mas abri a porta. Abri no exato momento em que o sinal da quinta aula bateu, mas não me importei porque fui surpreendido com um abraço. Não qualquer abraço, mas um daqueles que te faz querer apertar mais ainda a pessoa em seus braços e simplesmente ficar ali por tempo indeterminado. Pude sentir aquelas sensações esquisitas e pesadas se esvaindo conforme fui sendo tomado cada vez mais forte nos braços dele, como se ele quisesse me segurar em pé.

Nunca senti algo tão forte e tão bom quanto senti naquele momento. Um sentimento de alívio, algo como encontrar sua mãe no mercado depois de achar que ela te deixou para trás. Ele me encontrou e parecia saber exatamente como lidar com o que estava acontecendo, sendo que nem mesmo eu sabia.

Ainda chorando, até mais que antes, tentei agradecer ou dizer algo, mas ele me impediu com um afago no meu cabelo e apenas me soltou bem devagar e me encarou. Passou uns bons segundos - que foram eternos para mim - me olhando e logo se dispôs a enxugar algumas lágrimas teimosas que ainda insistiam em escorrer pelo meu rosto vermelho, tanto de passar a mão para enxugá-lo, quanto por vergonha. Vergonha de parecer estranho e um bebê chorão e pela aproximação repentina de nossos rostos.

ㅡ Independente do que houve, saiba que você não tá' sozinho, Boo. E não é da boca pra fora, realmente pode contar com seus amigos, comigo. Eu realmente me importo e me partiu o coração ver você daquele jeito, não pude apenas te deixar assim. ㅡ Decidi parar de lutar contra meu lado sentimental e voltei a chorar, antes de puxá-lo para outro abraço. Em parte porque realmente precisava, e em parte porque não sabia como responder e encará-lo já havia me deixado sem jeito o suficiente. ㅡ Está melhor?

Antes que eu pudesse responder depois de um bom tempo, finalmente notei a agitação e as vozes sussurrando, então olhei rapidamente para trás, ainda mantendo o abraço e notei que haviam alguns garotos usando os mictórios, alguns lavando as mãos e outros nem disfarçavam, todos olhavam. Todos provavelmente viram a cena e, por incrível que pareça, naquele momento, não me importei. Pude até ouvir um deles perguntando ao Hansol se eu estava bem, se queria ajuda para me levar na enfermaria ou se eu estava passando mal. Ele negou dizendo que estava tudo bem e agradeceu. Pude ver que alguns estavam me olhando com aquele olhar que se olha para um marmanjo de dezessete anos chorando como uma criança, outros - poucos - me olhavam como se entendessem, ou ao menos quisessem.

Com isso, apenas me desfiz do contato e enxuguei meu rosto antes de ouvir a voz do Joshua nos chamar, vindo acompanhado dos meninos. Fomos para o refeitório, onde pediram alguma fruta e iogurte e foi como se todos, de repente, não precisassem mais de justificativas, de respostas, de nada. Apenas comi enquanto assuntos aleatórios se faziam presentes, ou mesmo no silêncio. Obviamente olhares preocupados me foram direcionados, mas estava claro que ninguém perguntaria nada ali, naquele momento, e eu agradeci muito, não queria responder nada, só queria que acabasse aquele dia logo.

E só depois de chegar em casa e dormir a tarde toda, meio que percebi o que rolou e não soube como lidar exatamente com tudo com o meu lado racional. Pensava em como encararia Hansol e os meninos no dia seguinte, como se tivesse acontecido algo de errado, como se fosse vergonhoso. Na verdade, era. Me senti envergonhado por ter chorado tanto, até porque eu sou o amigo que dá o ombro para que chorem até a cabeça doer, não o contrário.

Sempre fui - e ainda sou - do tipo que se algo acontece, se segura e finge estar ótimo para se trancar sozinho depois e só sair quando os olhos estiverem ardendo e não ter mais líquido no corpo pra botar pra fora. Acho que aquele dia foi uma surpresa, tanto para mim, quanto para todos que me viram daquele jeito, mas percebi que nem sempre dá para segurar alguma coisa, mesmo que seja um espirro ou uma crise.

Logo eu, chorei na frente de pessoas que nem havia visto, e também na frente das que deviam ter me visto para que pudessem me ajudar, mas uma delas conseguiu manter uma calmaria dentro de mim ao mesmo tempo que causava um caos. Nunca pensei que choraria daquela maneira - e do nada - na escola, mas aconteceu e, se não fosse por isso, talvez eu não tivesse notado o quão importante eu sou para meus amigos e para ele.

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora