Do a piercing

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Em uma das tardes nas férias de julho que saí com Hansol, passamos por um estúdio de tatuagem e descobri que ele era louco para colocar um piercing, além de querer tatuar diversas coisas, o que realmente me surpreendeu. Ele não parou de dizer o quanto achava bonito e que queria um, mas não sabia onde colocar. Então, como o bom namorado que sou, desafiei-o a colocar onde ele mais tivesse medo e meu desafio foi facilmente acatado com a condição que eu o acompanhasse e colocasse um também.

Não é como se eu soubesse que ele levaria a sério.

Numa terça-feira, mesmo com uma garoa chata, Hansol apareceu em casa para, supostamente, devolver meu fone, mas ele não tinha apenas aquilo consigo. Estava com uma mochila, um pedaço de bolo pra viagem da cafeteria que tínhamos ido meses atrás e uma cara de quem iria aprontar. Assim que abri a porta, os latidos e as patinhas do Boomie soaram altos, então tive que sair e encostar a porta para que ele não saísse e quando voltei minha atenção para si, percebi que estava eufórico e toda vez que Chwe Hansol aparece muito animado com algo me dá medo.

ㅡ Toma ㅡ me deu o fone, o bolo e tirou sua mochila do ombro, abrindo-a e tirando uma espécie de pasta com algumas folhas, me dando também em seguida.

ㅡ Já falei que casamento só depois da faculdade, meu amor ㅡ zombei e ele revirou os olhos ansioso. Tirei as poucas folhas da pasta azul e tentei ler brevemente, sem entender exatamente do que se tratava. ㅡ O que é isso?

ㅡ Permissão legal para um menor colocar piercing, fazer uma tatuagem ou a remoção de uma naquele estúdio no centro.

Seu sorriso quase não cabia no rosto e parecia ter ganho na loteria.

ㅡCerto, e como pretende fazer sua mãe assinar isso? ㅡ perguntei entrando de volta em casa e dando espaço para que ele entrasse também, já que eu estava sozinho e estava chovendo em nós dois mesmo na varanda coberta.

Sentamos no sofá e eu já ia devolvendo o documento quando ele apenas pegou uma outra folha das que estavam comigo e seu sorriso contente logo se tornou um arrogante.

ㅡ A minha já assinou ㅡ ele disse todo contente e me mostrou a folha assinada e me encarou, esperando que eu entendesse, mas percebendo minha expressão de quem diz "e daí?", continuou. ㅡ Essa permissão é para os seus pais assinarem. Concordei colocar um piercing onde mais tenho medo se você colocasse um também, ou você esqueceu desse detalhe?

Eu quis rir, quis perguntar se ele estava louco ou se era uma brincadeira, mas fiquei quieto por um segundo, absorvendo as informações.

ㅡ Meus pais não deixariam nem se eu quisesse, Hansolie ㅡ encarei a primeira página em minha mão e pela primeira vez a ideia não me parecia desagradável, até tinha dado vontade, vendo pela animação dele.

ㅡ Agora tenho que fazer com ou sem você, já que já estou com a permissão, mas eu realmente queria ir contigo. Sabe, se eu chorar não iria me sentir mal porque você também estaria lá chorando ㅡ ri e cogitei seriamente ao menos tentar.

ㅡ Eu juro que vou pedir, okay? Não garanto nada, mas mesmo se eu não puder furar, eu vou lá te assistir chorar, não se preocupe.

Sim, eu sou um ótimo namorado, eu sei.

Mas o fato era que eu não fazia ideia do que meus pais achavam sobre essas coisas. Não podia dizer se eles tinham algo contra ou se deixariam, mas se eu não pedisse, não saberia nunca.
A primeira tentativa foi numa abordagem mais leve, apenas comentando sobre alguém que tinha a orelha furada e aquelas forradas de jóias também, ganhando comentários do tipo: "Um só é até bonitinho, mas muito exagero é feio". Não pareceu tão ruim.

All the things I would never doOnde histórias criam vida. Descubra agora