1 - Paula

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Joguei suas roupas pela janela, lancei o sapato – dele – em seu rosto, cuspi todas as palavras sujas que me vieram à cabeça, fiquei histérica, da forma mais cabeluda e espantosa que se possa imaginar.

Como diabos ele foi capaz?

– Como eu ainda sou capaz de me surpreender? – Perguntei alto.

– Paula, me deixa falar! – Pediu juntando as duas mãos sobre o peito.

– Idiota, idiota, idiota! – Gritei.

Maldito seja!

– Você poderia me deixar explicar? – Perguntou tentando escapar de tudo que eu lançava contra ele.

Comecei a gargalhar.

Que audácia!

Suguei todo o ar dos meus pulmões e toda a força – esgotada – que a ainda me restava, gritei para que ele saísse imediatamente da minha casa. Ele me seguiu correndo pelas escadas, enquanto recolhia as roupas que eu tinha lançado pela escada.

Corri para cozinha, abri a gaveta com toda a rapidez e nervosismo e ódio e mais ódio.

– Se não sair agora sou capaz de cortar essa coisa minúscula que você tem entre as pernas. – Ele me olhou espantado enquanto eu dava passos curtos com a faca apontada para ele, até ele recuar e chegar à porta principal.

– Você não pode fazer isso comigo, Paula. – Disse entre a porta e o tapete.

– Claro que não posso, mas você pode me trair e justificar o fato sem nenhuma retaliação, certamente te dei todos os motivos do mundo para me arranjar um belo par de chifres, não foi? – Questionei com as duas mãos na cintura e os olhos aguados, mas nenhuma lágrima descia.

– Para com isso, não foi bem assim, vamos conversar, meu amor. 

 A palavra "amor" desceu rasgando em minha garganta.

– Essa cueca que você está usando é horrível, a propósito, eu odeio tanto essa cueca. – Respirei fundo, fechei a porta no rosto dele, mas minha vontade era cuspir várias vezes naquele rosto lindo e canalha que ele tem.

Subi para o meu quarto e chorei toda água que tinha dentro do meu corpo, escutei Roberto Carlos, Ana Carolina e qualquer música que cheirasse a sentimentalismo barato.

Acreditei que daria certo com ele!

Como eu pude ser tão burra?

Nossa química era magnífica, nunca faltamos um para o outro e ainda assim fui enganada.

Tomei um belo porre de vinho, e não sei por quanto tempo durou, mas deve ter sido por muito tempo. Lembro-me de ter acordado com alguma das vinte ligações da Bella.

– Oi, amiga? – Atendi.

– Você está viva? – Perguntou preocupada.

– Por que eu não estaria? – Disse seca.

– Por favor libera esse portão, estou aqui há séculos.

Eu não me lembrava onde estava o controle, tive que ir lá fora e discar a senha manual.

– Querida, que roupa é essa? Que cara de ressaca é essa? Não vai trabalhar? Vim te desejar um bom dia de trabalho na empresa nova e lógico, te levar no primeiro dia. – Disse ela me abraçando.

Empresa nova!

Corri desesperada.

Enquanto eu me arrumava esse anjo, que é minha melhor amiga, preparou um café forte e delicioso. Expliquei tudo o que aconteceu e recebi aqueles conselhos surpreendentes.

– Sabemos que você é uma mulher maravilhosa, bem sucedida e todo homem, mulher, ser humano e o planeta te quer, então vamos lá. – Ela me abraçou. – Ele é um bosta! E eu nunca gostei dele. Vamos, não vai chegar atrasada no primeiro dia. – Abraçou-me, beijou meu rosto e fomos.

Era o que eu precisava ouvir.


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