44 - Afonso

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Dormi muito.

Acordei às catorze horas da tarde. Meu corpo estava muito cansado, ainda, mas eu estava tão satisfeito com a noite anterior. Primeira coisa que eu fiz foi abrir as redes sociais da empresa e conferir as marcações, os elogios, e até as poucas críticas.

Respondi algumas mensagens do meu sócio, que já estava cheio de ideias para essa noite.

Levantei, me arrumei, comi e fui direto para o bar. No caminho liguei para saber como Paula estava e o nosso bebê.

– Bom dia, Sócio. – Abracei Ricardo.

– Foi um sucesso, meu amigo! – Apertou forte a minha mão. – Eu te falei que isso ia dar certo.

– Vamos tomar um drink enquanto decidimos a banda de hoje? – Sugeri.

– Claro!

Sentamos no bar enquanto analisávamos as bandas pelo instagram. O pessoal tem demonstrado muito interesse.

Fechamos duas bandas e um DJ.

Ouvi a porta abrir. Aline.

– O que faz aqui? – Perguntei rude.

– Vou esperar o pessoal da banda. – Ricardo levantou e saiu.

– Podemos conversar? Como duas pessoas civilizadas? – Pediu se aproximando.

– Não sei se eu quero ter qualquer tipo de diálogo com você. – Cuspi enquanto terminava a minha bebida, sem olhar para ela.

– Afonso, por favor. – Sentou-se buscando meu olhar, segurando minha mão. – Não faça isso comigo, com a gente... – Interrompi e afastei a mão dela da minha.

– E não conta o que você fez comigo? – Falei magoado. – O tempo que eu esperei, pacientemente, por você.

– O que é o seu tempo perto da vida inteira que esperei por você? – Disse entristecida, com o cotovelo apoiado no balcão.

Encarei-a.

– Entendo a sua dor, Aline e eu já deixei mais do que claro o quanto eu sinto muito e o quanto eu estava determinado a recomeçar... Não posso pagar isso por toda vida, não posso me humilhar, por você, todos os dias esperando seu perdão, só para satisfazer seu ego. – Falei tudo o que estava preso.

– Você acha que é trabalho fácil para mim? Acha que sinto prazer em ficar longe? Acha mesmo que se eu fosse agir sentimentalmente eu já não estaria aqui? – Questionou.

– Não parece que foi ou está sendo, parece que sente prazer em me afastar, em me maltratar, até arrumou namorado, me trocou como uma peça rasgada do seu armário. – Expressei minha angústia.

– E você arrumou um filho...

Ela falou orgulhosa, como se tivesse ganhado uma disputa.

– Se você não vai falar comigo sobre o que podemos fazer daqui para frente, conhecendo a situação atual da minha vida, não perca mais seu tempo, porque eu não pretendo perder mais o meu. – Levantei. – A banda chegou, tenho que trabalhar.

Ela respirou fundo e levantou também.

– Como quiser, bom trabalho.

Fiquei observando ela se afastar.

Eu estava me roendo por dentro, mas, às vezes, é necessário você declarar o fim para ter a oportunidade de recomeçar.

– E eu aqui achando que você não tinha problema com outra mulher depois da Paula. – Disse Ricardo chacoteando.

– Paula é uma boa amiga, e aquela, aquela é a razão das minhas noites de insônia.

– Pois suponho que você e Paula estão chorando pelas pessoas erradas. – Deu uma tapinha em meu ombro e a banda começou a tocar.

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