7 - Paula

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Estou pensando se essa história de trabalhar com a Cris é uma boa ideia, é fato que somos bons juntos, mas é pessoal demais para mim. Desde que ela voltou que eu esperava era que ela sentasse e conversasse comigo sem remendos, sem partes, que me olhe nos olhos e cuspa ou grite, mas que reaja a isso, esse silêncio é ensurdecedor.

Alguém bate na porta e desvia meus pensamentos.

– Eu posso entrar? – Perguntou a dita cuja.

– Pode... – Parece que sentiu a força dos meus pensamentos, sentei rente em minha poltrona.

E antes que ela abrisse a boca para dizer qualquer coisa...

– Precisamos conversar. – Olhei-a fixamente e sorri.

– Eu ia dizer o mesmo, demorou a me fazer esse convite. – Ela apoiou os dois cotovelos sobre a minha mesa e continuou a me encarar.

– Você não reagiu desde que... – respirei – foi embora e até agora, é como se... – Ela me interrompeu.

– Passei muito tempo odiando você, mas não foi o suficiente, sinto como se todos os esforços de quatro anos não valeram de nada nesse exato momento. – Gelei e engoli seco. – E olha que eu tenho lutado com todas as minhas forças porque a minha única vontade é te agarrar e te beijar, mas não faremos isso... – A aproximação dela por cima dessa mesa era uma catástrofe, mais um centímetro e iríamos colidir.

Afonso bateu na porta e salvou a minha alma de se render.

– Acho necessário fazer uma aplicação financeira de seis meses, o rendimento vai ser maior, o que você acha? – Ela cuspiu desesperadamente essa frase apontando para uns gráficos no meu computador.

Astuta.

– Eu estava planejando isso. – Falei ainda nervosa.

– E o trabalho não para. – Afonso entrou e sentou ao lado de Cris.

– Bom, eu vou indo, depois conversamos com mais calma. – Sorriu e eu vi aqueles olhos tão aguados.

Ela levantou e saiu com um pouco de pressa.

Queria correr atrás dela.

Comecei a digitar algumas informações no meu planejamento e notei Afonso me observava mais do que o normal.

– Vai ficar me olhando? – Perguntei sem olhar para ele.

– Não deveria? – Arqueei a sobrancelha, olhei e comecei a sorrir.

– Não pode dar em cima da coleguinha de trabalho. – Continuei digitando. – Sua namorada vai odiar.

– Foi só um elogio. – Falou sério.

– Estou brincando, senhor. – Sorri.

– Ela não é a minha namorada e eu vim mesmo te convidar para almoçar. – Falou inquieto.

Vejamos um passo ardiloso.

– Estou faminta. – Aceitei.

Só fiz desligar o notebook e saímos.

Fica entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora