16 - Afonso

37 0 0
                                    

Chamei Cris e Paula na minha sala.

– Meninas, vamos parar todos os trabalhos, Carla, nossa Secretária, já nos enviou todo o orçamento e vamos decidir, juntos, o que cabe melhor em nosso bolso e vamos provar muitas comidas. – Falei animado.

– E o que estamos comemorando? – Cris me perguntou seca.

Desde que ela desconfiou daqueles números que me trata assim.

– O rendimento sensacional que tivemos na empresa nos últimos seis meses, e eu quero parabenizá-las em grande estilo. – Entreguei meu melhor sorriso e Cris continuou com a mesma expressão.

– Eu acho incrível. – Disse Paula. – Mas, trabalhamos com números, quero saber qual o tipo de evento, e principalmente, o que podemos fazer para torná-lo público, investimento, nenhum ponto sem nó. – Concluiu.

– Uau! Eu só pensei em uma festa mesmo. – Gargalhei.

– Porque você não tem noção das coisas que faz. – Cris falou digitando algo no celular dela.

– Somos uma empresa, Afonso, nenhum gasto pode ser em vão. – Disse Paula e entreguei a proposta e elas começaram a folhear.

– Vai ser um grande evento, Paula. – Cris interagiu com Paula, me deixando de fora. – Tenho sugestão de alguns nomes que farão diferença. – Completou.

– Uma matéria seria importante, tenho contato da Americanizados, visibilidade... – Sugeriu Paula.

– É a Revista empresarial mais renomada. – Adicionei.

– Perfeito, vamos analisar os números e marcar as degustações. – Cris levantou da cadeira.

– Vamos cuidar de tudo. – Paula levantou e a seguiu.

– Certo, temos uma semana. – Finalizei e as duas viraram e me olharam.

– Uma semana? – Perguntaram juntas.

– Exatamente, amo o trabalho de vocês e sei que vai ser um sucesso, podem ir, tenho muito que fazer. – As conduzi até fora da minha sala e tranquei a porta.

Isso vai ser incrível.

A semana foi longa, Carla ficou maluca com as ideias das duas e eu, claro, participei apenas das degustações.

-*-

Aline me ligou, a convidei para o evento, passamos um tempo conversando e marcamos de sair naquela noite.

Fomos ao shopping, ela me ajudou a escolher a roupa certa para o dia do evento, em seguida vimos um filme que ela estava ansiosa para ver. Quando o filme acabou fomos comer em um restaurante próximo.

– Cris está desconfiada, mal olha para mim, está ficando insuportável a situação. – Demonstrei minha inquietação.

– Você deveria conversar com ela, vocês são família, mas também profissionais, se ela não quer olhar para sua face fora da empresa é um direito dela, mas dentro da empresa precisa existir uma linha tênue de boa convivência. – Ela é uma mulher muito sensata.

– Vamos deixar esse assunto para outra hora.

– Vamos. – Ela segurou em minha mão. – Estou te achando muito tenso.

– Muita coisa na cabeça. – Beijei a mão dela. – Vem dormir comigo lá em casa.

– Vou para o hospital às cinco da manhã, vou dar plantão, deixa para outro dia.

– Eu te levo, vamos, por favor. – Insisti.

– Está com febre? – Perguntou irônica enquanto tocava em meu rosto. – Acho que a Paula está mexendo com a sua sensibilidade. – Gargalhou.

– Para, Aline, Paula não me quer. – Falei desiludido.

– Sua sorte é que eu ainda quero, vamos, gatinho. – Levantou da mesa e pegou a bolsa.

– Então que sorte a minha. – Saímos.

A noite foi maravilhosa, como sempre é, ela tem uma presença leve.

As quatro da matina ela estava de pé, daquele jeito maravilhoso, abotoando a blusa social na frente do espelho.

– Às vezes eu tenho medo de ficar velho e sozinho. – Bocejei.

– Certamente ficará. – Ela disse séria.

– Que isso, Aline? – Sentei na cama.

– Você precisa tomar jeito na vida, não tem mais idade de ficar agindo como um garotão. – Dizia enquanto enrolava o cabelo em um coque.

– Eu sei. Acho que deveríamos morar juntos. – Sugeri.

Ela parou, me olhou pelo espelho, virou e subiu em cima da cama.

– Você bateu com a cabeça e relacionamentos exigem sentimentos e isso nós... o que somos nós? – Ela beijou a minha boca. – E não é assim que supera a rejeição da outra moça. – Levantou da cama e recolheu os pertences na cabeceira.

Essa frase me afetou um pouco, o que temos há cinco anos se resume a nada? Sei que foi um pouco exagerado da minha parte, mas faz algum tempo que a única mulher que beijei além dela foi a Paula.

Troquei de roupa e fui até o hospital deixá-la.

Será que sou um cara tão ruim assim?

Fica entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora