22 - Afonso

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– Elas ficaram lá conversando e eu estou aqui... – Pensei alto demais.

– Você achou que está no lugar errado agora? – Aline perguntou.

– Nunca estou no lugar errado quando estou com você. – Disse com sinceridade. – Mas eu gostaria de conversar com ela.

– Quantas mulheres você procurou explicação depois de uma transa? – Questionou.

– Nenhuma. – Respondi seco, sem olhar para ela.

– Eu vou ser sincera...

Ela descruzou os braços, desencostou da mesa que deixo meus livros, veio até mim, segurou em meu rosto e me encarou.

– Paula não gosta de você dessa maneira e eu sinto muito que tenha se apaixonado pela pessoa que não vai retribuir seus sentimentos. – Soltou meu rosto e sentou ao meu lado. – Elas têm história, Afonso e você não pode se meter assim, a única pessoa que vai sobrar é você. – Acabou em um tom rude demais para aquele rosto angelical.

– Isso foi duro. – Cuspi.

– Duro é o que você faz com nós dois e isso nunca doeu em você. – Estreitou as sobrancelhas.

– O quê?

Nunca falamos sobre "nós dois".

– Eu sempre estive ao seu lado, vi você cometer desacertos enormes e sempre estive aqui, não que eu esteja apaixonada por você, pelo menos, não mais, e isso é um pouco tóxico, porque eu me sinto péssima em ficar com outro cara e você sempre ficou com todas as mulheres que passaram na sua frente...

Ela respirou fundo e continuou.

– Você banaliza qualquer sentimento que seja bom para você e quando você decide se apaixonar por alguém você destrói suas relações mais profundas, a Paula foi porque quis, mas você estava mais consciente do que ela, e ainda assim fez isso com a Cris, às vezes eu desconheço quem é você, está longe do cara que, um dia eu acreditei que iria me casar, e você fez isso com o seu pai, com a sua prima, eu temo ser a próxima que você vai tocar e destruir... eu não quero mais. Chega! – Ela se levantou.

Escutei tudo o que ela disse e as palavras ficaram bagunçadas quando eu tentei abrir a boca e formular alguma frase.

– Você me conhece, eu não sou esse cara, Aline... Espera. – Segurei no braço dela, desesperado.

– Será que não? – Olhou para minha mão em seu braço com desaprovação. – Eu já fiquei muito por você, gatinho, talvez você precise ficar sozinho e entender que as coisas não são tão banais e que precisamos pensar sempre que o próximo passo for ser dado.

Ela acariciou o meu rosto, beijou minha bochecha, pegou a bolsa de cima da poltrona e saiu fechando a porta atrás de si.

Eu nunca parei para pensar nesse cara que Aline descreveu.

Perdi a única mulher que foi capaz de ficar comigo sob qualquer condição, quase destruí a império do meu pai, magoei a Cris, fui sacana com os sentimentos deles, acabei sem nada e sozinho.

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