46 - Afonso

22 0 0
                                    

Senti que Paula estava estranha quando liguei para ela na noite passada, mas ela não quis explicar, a chamei para almoçar, depois da consulta médica, talvez assim ela me dissesse algo.

Quando eu estava a caminho de busca-la meu celular avisou o recebimento de uma mensagem. Parei no sinal vermelho e abri.

"Almoça comigo, desejo que nos acertemos de alguma forma, mesmo que não seja romanticamente falando." – Aline.

Cheguei à casa da Paulinha e fiquei no sofá esperando ela terminar de se arrumar. Fiquei lendo aquela mensagem várias vezes sem saber o que responder.

Paula me deu um beijo no rosto, me agarrando por trás do sofá.

– Oi, mamãe. – Confortei-me em seu abraço.

– O quê tanto lê nesse celular? – Perguntou arrodeando e sentando ao meu lado.

– Aline. – Falei de pronto.

Ela pegou o meu celular e leu.

– Por que não responde? – Perguntou me entregando o celular. – Eu não me importo, podemos jantar.

– Estou preocupado com você. – Falei. – Posso sair com ela em outro momento.

– Ao menos responda a mensagem. – Ela pediu.

"Combinei de almoçar com a Paula, quem sabe um jantar?"

– O que você tem? Está com um rosto abatido. – Toquei no rosto dela com o polegar.

– Insônia. – Respondeu encostando-se ao sofá.

– Qual a razão? – Insisti.

– Você pretende reatar com ela? – Nunca a vi tão interessada nesse assunto.

– Eu não sei, por quê? – Estreitei as sobrancelhas.

– Cris me procurou ontem...

– E você está com essa cara de tristeza? – Virei-me para ela.

– E se a gente estiver jogando uma chance de sermos uma família? – Olhei-a assustado. – Por achar que o melhor caminho é ouvir esses sentimentos aflorados, apressados e despreocupados por essas mulheres? – Ela me encarou, e demorou muito tempo fazendo isso.

– Pensei muito nisso, só vamos saber se tentarmos. Você vai dormir ao meu lado na cama sem pensar nela? – Perguntei honestamente.

– Não. – Respondeu honestamente. – Nem você?

– Eu também não.

Ficamos algum tempo calados, até eu quebrar o silêncio.

– Não vou ser sujo com você, meu amor, com você nunca. – A envolvi em um abraço meu. – Se algum dia estivermos limpos um para o outro, acredite, moverei céus e terras para conquistar os seus sentimentos. – Beijei o seu rosto.

Fomos para o meu carro, tentei mudar o assunto, mas ela parecia afetada demais, deve ser os hormônios, assim que liguei o rádio estava tocando a música "falando sério", que obra prima.

"Não quero seu amor por um momento e ter a vida inteira pra me arrepender..." – Ela cantou, e que voz doce.

– Então você concorda? – Sorri apertando o cinto de segurança.

– Sim. – Sorriu de volta e mudou a rádio por uma que estava tocando "Maná", com a música "se no te hubieras ido".

Uma música muito velha de uma banda mais velha ainda. Uma relíquia.

– Eu não sabia que você cantava bem. – Falei prestando atenção na rua.

– Há muitas coisas que você não sabe sobre mim. – Falou entre um trecho e outro da música. – "El frío de mi cuerpo pregunta por ti y no sé donde estas, se no ti hubieras ido sería tan feliz..." – Seguia cantarolando.

– Que espanhol maravilhoso, estou surpreso. – Gargalhei e ela continuou cantando.

Esperei o primeiro sinal vermelho para pegar o celular e filmar aquela cena linda. Consegui trinta segundos até ela se sentir envergonhada e tapar a câmera traseira do meu celular.

– Eu amo espanhol, você não faz ideia dos absurdos que escuto de mil novecentos e bolinhas. – Falou sorridente.

– Vamos combinar de ouvir todas. – Falei estacionando o carro.

Chegamos a clinica, eram exames de rotina, alimentação, peso, essas coisas de acompanhamento. Fico feliz em saber que tudo está correndo bem com o nosso filho, já não vejo a hora de tê-lo em meus braços.

Ao sairmos da clínica fomos almoçar em um restaurante próximo que ela adora ir sempre que sai da consulta.

– Não seria hora de começarmos a escolher o nome? – Perguntei empolgado.

– Alguma sugestão? – Perguntou colocando uma garfada de macarrão na boca.

Como ela pode ser tão linda até comendo macarrão?

Queria ter a sorte que a Cris tem, de estar dentro dessa cabeça, merecendo tantos sentimentos...

Voltei à realidade.

– Vamos ver... Que tal Lourenzo? É um nome espanhol. – Falei brincando e ela sorriu.

– Nome lindo, mas sem um significado expressivo.

– O que sugere? – Perguntei tomando meu suco.

– Pensei em Noah, significa vida longa. – Disse ela.

– Em português significa "Noé". – Completei.

– Como sabe? – Parou de comer e perguntou.

– Acabei de pesquisar no google. – Gargalhamos e ela jogou o guardanapo em mim.

– O que acha? – Tomou um gole de suco.

– Eu concordo. Noah Ferrari Britto. Noah Britto Ferrari. – Cogitei.

– Podemos pensar na ordem depois. – Ela sorriu.

Chegou uma mensagem de Aline.

– É ela? – Paula perguntou ao ouvir o celular anunciar a mensagem.

– Sim.

Abri.

"Hoje eu não posso, tenho plantão, amanhã?".

Respondi.

"Fechado, te pego as onze e trinta em seu apartamento.".

– Vai ficar para amanhã o almoço. – Falei. – Tudo bem a gente dividir essas coisas? – Perguntei preocupado.

– Claro, Afonso, somos amigos, ligados por um cordão umbilical, isso é forte. – Brincou.

Fica entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora