21 - Paula

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– Transei com ele algumas incontáveis vezes. – Falei com a face afundada no travesseiro da Bella. – E cada vez com mais raiva dela.

– Bêbada e com raiva usou Afonso. Lembremos que isso tudo junto não combina e você não vai fazer de novo, sem contar que ele se aproveitou da situação. – Ela acariciou meus cabelos. – E nada justifica sua atitude, Paula.

– Eu fui nojenta e eu poderia ter parado, mas eu fiz de novo e de novo e de novo... – segui enterrada.

– Você precisa aprender a sentir raiva, não pode sair usando as pessoas e as machucando como bem entender e você não deu a chance de ela se defender e se Afonso mentiu? – Tentou justificar a atitude dela.

– Você é minha amiga ou dela? – Olhei para ela.

– Sou justa. Você errou feio! Afonso é seu chefe, primo da mulher que, claramente, você é apaixonada e está tudo errado. – Repreendeu-me.

– E agora?

– Chore bem muito, pode ser que ela não te olhe nunca mais ou vá embora de novo.

– Você não está me ajudando. – Choraminguei.

Eu chorei, chorei, chorei e chorei e a Bella ficou lá colecionando minhas lágrimas como uma boa amiga. Não sei se o choro era de culpa, de dor ou de ódio. Meu celular começou a tocar e a Bella o pegou e disse que era Afonso e recusou a chama.

Eu não sabia como iria sobreviver ao próximo dia. Por sorte era domingo. No fim da noite decidi ir para casa, mesmo com toda insistência da Bella para que eu ficasse. Eu só queria ficar sozinha.

Recebi algumas ligações da Cris, fora as incontáveis de Afonso. Recusei todas.

A campainha soava com um som quase ensurdecedor perto da extrema sensibilidade que meu corpo inteiro estava. Apertei no aparelho e ouvi duas vozes discutindo, logo imaginei do que se tratava, caminhei até porta e avistei de longe os carros de Afonso e Cris estacionados. Que confusão! Apertei o controle liberando o portão antes que algum vizinho se desse conta daquela cena grotesca.

Cris subiu no carro de imediato e saiu trazendo toda poeira que existia no meu jardim; Afonso, sensato, estacionou o carro onde deveria.

– Manda ele ir embora. – Exigiu quando desceu do carro.

– Eu quero que os dois saiam daqui. – Falei com a voz fraca.

– Precisamos conversar. – Afonso pediu segurando minha mão.

– Não acha que já tocou o suficiente, se aproveitou o suficiente? – Cris olhou com raiva.

Eu não conseguia reagir a tudo aquilo, senti como se eu estivesse presa em um clichê adolescente ridículo demais para a nossa idade.

– Por favor, a gente tem muito o que conversar, com ele você conversa outra hora, por favor. – Ela pediu com calma.

– Eu vou respeitar seu espaço e outra hora a gente conversa. – Disse ele com um sorriso discreto.

– Virou Romeu? Desde quando respeita alguém? – Cris atacou.

– Para, chega de zoada. – Pedi.

– Eu não saio daqui até falar comigo. – Ela encostou-se ao carro enquanto Afonso subia no dele e partia. – Já pode me convidar para entrar.

Entrei e ela me seguiu. Sentei no sofá da sala e encostei minha cabeça, que parecia habitar um trem de tão pesada, no encosto.

– Ele não é meu namorado. Quero que isso fique claro desde o início...

Foram as únicas palavras que eu escutei até tudo ficar escuro e eu apagar.

Fica entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora