49 - Paula

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O tempo tem passado rápido, hoje faço seis meses de gestação, cada dia mais aflita e ansiosa, estou lutando por um parto normal, o que tem me deixado um tanto temerosa, minha gestação tem sido uma benção, muito embora eu esteja ficando uma grávida aborrecida, não tenho sido muito paciente, não estou aguentando ouvir nenhuma voz em tom mais excedente, tenho passado mais tempo sentada acarinhando minha barriga do que fazendo qualquer outra coisa, ele tem mexido tanto, e eu tenho o amado tanto.

As coisas com o Afonso estão serenas, ele tem se encontrado com Aline, não firmaram relacionamento ainda, segundo ele, é melhor começar de novo. Estamos bem, nos encontramos quase todos os dias e o bar está um sucesso, eu não tenho ido muito, tenho ficado um pouco incomodada com a zoada, o cheiro de bebida me deixa enjoada, me tornei uma grávida irritante.

O pai dele está engolindo seco, não vou mentir que eu fico feliz que eles estejam submergindo a força que o filho dele é bom no que faz e não precisou dele para isso, outro dia foi ao escritório, tivemos uma reunião trimestral e ele fez questão de participar, na verdade foi me sondar sobre Afonso, fui grossa o suficiente para ele entender que comigo esse jogo psicológico não funciona, bom, tenho que manter meu filho a salvo dele.

As coisas com Cris estão boas, todos os dias almoçamos juntas e algumas vezes durante a semana marcamos um programa calmo para esta grávida preguiçosa que me tornei. Não estamos namorando, determinei que eu precisava conhecer até as virgulas da vida dela, como tudo aconteceu depois de mim, absolutamente tudo, e ela tem sido paciente comigo, acho que não pedi muito, não quero começar errado, eu quero que dê certo, de verdade, inteiramente. Ela afirmou algo que eu já sabia sobre os pais dela me odiarem desde aquela época e que estão odiando ela está comigo de novo, ainda mais pela gravidez.

Que o dinheiro que ela já tinha triplicou, e que ela ainda recebe por isso, ela ainda faz consultoria para a empresa do Canadá e está de viagem marcada, vai ter que fazer isso de três em três meses, faz muito sucesso onde trabalha, eu não esperava menos dela, que namorou aquele rapaz que causou todo o meu transtorno psicológico, fora ele não teve nenhum outro relacionamento e aos poucos estamos nos aliando.

Ela amou o nome que escolhemos para o nosso filho, vez e outra ela participa das consultas médicas e tem se dado melhor com Afonso, acho que todo mundo está em seu lugar. Tem sido saudável para todos nós.

Levantei atrasadíssima hoje, mas estou em todo e qualquer direito de trabalhar no meu tempo salva pela licença poética regida por essa minha barriga enorme, que me deixa inchada e gorda.

Assim que pisei no primeiro piso Cris apareceu.

– Estava me olhando pelas câmeras? – Perguntei beijando o rosto dela.

– Bom dia, meu amor. – Ela sorriu. – Foi pura coincidência. Você está bem? Não respondeu minha mensagem.

– Ai, Cris, eu nem toquei em meu telefone hoje. Mas eu estou, só acordei tarde.

Ela me acompanhou até a minha sala, entrei na sala e ela entrou fechando a porta atrás de si, me puxou – sutilmente – pelo braço e deixou meu corpo rente o dela.

– Você é uma mulher difícil, sabia? – Falou perto dos meus lábios.

Eu sorri e ela me beijou.

O beijo dela alcança lugares intocáveis em meu corpo, é como se trilhasse uma corrente elétrica por toda parte, uma armação eletrônica infalível, nada tende a repelir.

Acredito que eu nunca vá conseguir explicar o que ela me faz sentir, depois de tantos anos, como pode fazer o meu corpo reagir de forma indescritível? De todas as camas que passei, de todos os beijos que provei, nada, nunca foi igual, ninguém conseguiu me alcançar tão fundo, ela tem um mapa do que eu sou.

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