11 - Paula

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Senti uma leveza diferente essa manhã, acordei bem cedo, malhei e tomei um café reforçado enquanto escutava as músicas antigas da Taylor Swift.

Recebi uma mensagem inesperada.

"Te vi correndo hoje. Sinto sua falta."

É muita coragem me mandar esse tipo de mensagem, um mês após o término. Acho que Victor Hugo tem vento na cabeça, ele sempre foi bonito demais e inteligente de menos.

Ignorei a mensagem e segui meu dia.

Afonso foi se desculpar pela noite anterior, não me incomodou de nenhum modo e deixei isso claro para ele, mas o jeito que ele se aproxima de mim me deixa muito incomodada, não sei se porque tenho vontade de encostar ainda mais ou se não sei lidar com mais nenhum canalha. Ele é solteiro e deve aproveitar, mas não sei se é esse tipo de envolvimento que quero ter.

Fui surpreendida no fim da manhã, Victor Hugo aparece na empresa com um buquê de flores e a minha – única – vontade era o fazer engolir rosa por rosa, mas era meu ambiente de trabalho.

Tão lindo, mas tão cínico.

Não sei o que foi mais peculiar, se foi Afonso abrindo a porta e olhando fixamente para Hugo ou se foi a Cris entrando na sala e batendo a porta.

Coisa demais para mente absorver em segundos. Mandei ele entrar na minha sala.

– É de grande coragem a sua ousadia. – Tome as rosas das mãos dele e joguei no cesto de lixo e ele arregalou os olhos. – Esperava que eu fosse correndo te abraçar? – Sentei em minha mesa e cruzei as pernas.

– Eu preciso que me escute, Paula, precisamos conversar... – Interrompi quando ele se aproximou para sentar em minha frente.

– Nem ouse sentar! Conversar? A consciência pesou agora ou não achou outra idiota? – Tentei permanecer o mais inabalável possível.

– Eu sinto sua falta, pelo amor de Deus, me dá outra chance. – Implorou.

– Não coloca Deus no meio da tua sujeira e eu não tenho nada a te oferecer. – Apontei o dedo para a porta.

– Mas, Paula... – Cortei novamente.

– Mas nada, Victor Hugo, só vá embora, e não me manda mensagem e muito menos apareça no meu trabalho. – Levantei e abri a porta.

Cheiroso. Lindo. Imbecil. É inacreditável.

E mais uma vez o dia segue. Fui almoçar e na sequência voltei para checar alguns detalhes da apresentação que teremos sobre as finanças com o Senhor Ferrari.

A reunião foi incrível, em âmbito profissional, porque Afonso me olhava curioso e Cris, essa nem me olhava.

Por fim o Senhor Ferrari nos elogiou, pontuou cada detalhe e declarou em alto e bom som que a empresa agora estava em nossas mãos, satisfação sem tamanho, é o ponto G da minha realização profissional.

Na sequência segui Cris até a sala dela.

– O que eu te fiz? – Perguntei fechando a porta atrás de mim.

– Nada. – Disse seca.

– Não parece, nem me olha, me fala. – Insisti e sentei em sua frente.

– Você e ele ainda...?

– É ciúme? – Gargalhei.

– Deixa de ser convencida, Paula, é curiosidade e estou tentando mudar o assunto, não estou chateada, só um pouco estressada com outras situações. – Muita explicação em uma frase só.

– Certo, então tá, mas ele não está comigo, me traiu. – Informei.

– Ele te traiu? Que cara idiota! – Ela me olhou abismada. – Eu nunca te trairia. – Sorriu.

– Será? – Dei corda.

– Quer fazer o teste? – Ela levantou e se apoiou em cada braço da poltrona que eu estava sentada. Engoli seco e levantei os ombros.

– Não. – Respondi perto o suficiente para ela sentir o ar saindo da minha boca.

– Não faz isso. – Mordeu o lábio e se afastou.

– Eu não mordo! – Levantei da poltrona.

– Morde, deixa marca e faz estrago. – Falou sorrindo.

– Parece perigoso. – Falei. – Então até amanhã. – Fui até a porta.

– Muito. Até, meu bem. – Ela piscou e ficou me observando sair da sala.

Fechei a porta devagar e saí.

Dei de cara com Afonso.

– Posso te acompanhar até lá em baixo? – Estendeu o braço.

– E por que não?

Passei na minha sala, peguei minha bolsa e fechei minha porta. Seguimos até o hall de braços entrelaçados.

– Seu namorado não sentiria ciúme de nos ver assim?

– Não precisa fazer rodeios para me fazer uma pergunta. – Soltei o braço dele e caminhei para o estacionamento.

– Era seu namorado? – Perguntou sorrindo.

– Teria algum problema se fosse? – Joguei.

– De jeito nenhum, divido você com quem você quiser. – Dizia ele me acompanhando.

– Você é fora da órbita. – Gargalhei.

Chegamos ao meu carro, ele colocou as duas mãos no carro e me encostou na porta, minha espinha inteira se contorceu. Que atração física eletrizante.

O beijei. Brevemente. Não era lugar. Que beijo bom.

Abri a porta do carro e acenei através do vidro.

-*-

– Eu não acredito que isso tudo aconteceu em um único dia, já podemos escrever um livro. – Bella falava enquanto dividia o sushi em nossos pratos. – Aconteceu... – peguei o meu prato e comecei a comer.

Toda segunda a gente costuma pedir sushi e assistir um filme aqui em casa.

– E como você está em relação a tudo isso? Hugo, Afonso, Cris... Que coleção diversificada. – Falou chacoteando.

– Ai, amiga, o Hugo é carta fora do baralho, fiquei com mais ódio. – Justifiquei colocando o peixe na boca. – O Afonso é uma coisa física sem explicação e a Cris, eu sinto uma ternura tão grande, mas sou tóxica para ela... – Coloquei a cabeça na mesa.

– Eu gosto mais da Cris. – Levantou o guardanapo branco e simulou uma bandeira da paz.

– Eu sei.

– Afonso é um garoto de calça jeans sem noção nenhuma da idade que tem, fora que é mulherengo. – Falou me repreendendo.

– E ficar envolve sentimento? – Perguntei.

– Para agora, Paula Britto! Sabemos como isso termina, lembre-se de Benjamim, e quem tem tendência a se machucar nessa história é você. – Disse séria. – Fora que isso afetaria a Cris.

–  Ai o Benjamim, eu gosto tanto dele. – Suspirei. – Não vai acontecer nada.

– Meu Deus! É figurinha demais. Não sei que gostar é esse. – Revirou os olhos.

– Benjamim é inteligente, maduro, ele beija tão bem, eu queria guardar ele em um pote só para mim, eu não sei lidar, a nossa sintonia é muito boa, mas é perfeito demais. – Tomei todo o molho do sushi.

– Ele é o cara ideal, ainda não aceitei você ter o deixado. E ele ainda é louco por você. – Afirmou o que eu já sabia.

– E você? Saulo?

– Estamos conversando, acho que estou apaixonada. – Falou toda abobada.

– Se apaixona demais, mas ele é um bom rapaz, espero que dessa vez você esteja certa. – Balancei a cabeça.

Assistimos a um bom filme e acabamos dormindo na sala mesmo.

Fica entre nósOnde histórias criam vida. Descubra agora