34 - Afonso

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– O que eu tenho que saber, Paula? – A segui até a sua sala.

– Você é a última pessoa no mundo que eu quero olhar, falar, e ouvir respirar. – Disse fechando a porta, mas empurrei até consegui entrar.

– Calma, só me diz o que está acontecendo e eu saio, não se preocupe. – Falei tranquilo.

– Eu não quero...

Segurei-a no colo antes que ela caísse no chão, estiquei o braço para pegar a bolsa dela e sai andando a passos largos até o elevador. Ao descer os seguranças me ajudaram a colocá-la no meu carro e segui para o hospital, ela não retornava, eu gritava por ela, e nada. Dirigi feito um louco, acho que nunca estive tão apreensivo na vida, a ponto de me culpar por ela ter ficado nervosa e ter desmaiado.

Cheguei ao hospital gritando por ajuda, fazia mais de vinte minutos que ela não retornava, os enfermeiros se aproximaram e a levaram e com as mãos na cabeça permaneci, desesperado... Alguns segundos depois me pediram a documentação dela; por sorte ela não bloqueia o celular, consegui ligar para Bella.

Alguns minutos depois uma enfermeira veio me trazer notícias.

– O senhor é o pai? – Perguntou e eu estreitei as sobrancelhas. – Ela não deve ficar se estressando, pai, já é a segunda entrada dela pelo mesmo motivo, isso prejudica a gestação.

Eu não sei qual foi a minha reação ou a falta dela, eu não consegui formular uma frase se quer.

– Ela já acordou, vamos conversar com ela. – A enfermeira tocou em minhas costas e apontou para o caminho.

A boca não abria, a língua não respondia meus comandos.

– Paula, querida, mais uma vez, deve tomar cuidado, sem estresse. – Disse toda atenciosa acariciando os cabelos dela.

Ela fechou os olhos e respirou fundo.

– Pode nos deixar a sós? – Perguntei a enfermeira.

– Claro. Fiquem a vontade e felicidades. – Ela deu uma tapinha no meu ombro e saiu.

"Felicidades".

– Quando você pretendia me contar? – Perguntei.

– Nunca. – Ela prendeu o lábio inferior com os dentes. – Você nem sabe se é seu. – Disse seca.

– Contando o tempo que estivemos juntos e o tempo que você tem se dedicado a Cris, não existe espaço para outro pai. – Falei me aproximando.

– Não chegue perto de mim, eu vou gritar... – Olhou-me com raiva.

– Você não pode se estressar, mas nós vamos conversar sobre isso quando você sair daqui. – Exigi.

– Não temos o que conversar. – Falou sem me olhar.

– É meu filho, eu tenho direito quer você queira ou não e se não me der os procuro. – Falei enquanto ela me torturava com aquele silêncio. – Eu assumo minhas responsabilidades, não é qualquer coisa para mim, que fique claro.

– Só vá embora. – Pediu impaciente.

Bella entrou no quarto.

– Afonso, obrigada por ligar. – Cumprimentou-me.

– Não foi nada, tudo bem? – Perguntei beijando o rosto dela.

– Tudo sim, e por aqui? – Perguntou olhando para Paula.

– Ela não quer falar comigo. E provavelmente eu não saberia que ela está esperando um filho meu. – Cuspi e ela permaneceu calada.

– Acho que vocês devem conversar depois. – Disse com sensatez.

– O que você espera? Que a gente se case e crie essa criança? – Cuspiu antes de eu sair.

– Não veria nenhum problema nisso. – Expressei minha vontade de fazer juiz a minha paternidade e ela começou a gargalhar, o que me deixou bem irritado.

– Você é ridículo e não vai chegar perto dessa criança, se ela vier a nascer. – Falou alto, sentando na cama.

– O que você quer dizer com isso? – Fechei a porta e voltei.

– Vocês conversam depois. – Bella insistiu.

– Você não vai ousar fazer isso, Paula. – Cheguei bem perto dela na cama e apontei o dedo no rosto dela, enquanto a Bella não saia do lado.

– Tira esse dedo do meu resto. – Ela deu uma tapa na minha mão. – E não chegue perto de mim.

Bella tomou frente e me afastou.

– Afonso, não é o momento. Depois. – Pediu com calma.

– Tudo bem. Hormônios. – Entreguei um sorriso falso.

– Isso, depois vocês vão conversar com calma, tenho certeza disso. – Sussurrou.

Fui cego até o apartamento da Cris. Ela sabia. Por isso disse aquilo quando saiu da empresa mais cedo.

– Você sabia? – Cheguei empurrando a porta.

– Qual é o seu problema? – Perguntou sem entender.

– Eu vou ser pai e você me esconde. – Exigi explicação.

– Pai do filho da mulher que eu amo, gostou? Como está isso no mural da sua coleção, meu caro? – Disse com ironia.

– Vai se ferrar, Cris!

– Vai você, invade meu apartamento cobrando uma explicação que não me cabe, e ainda me insulta? – Estreitou as sobrancelhas. – Não te devo nada, muito menos esclarecimentos. Não está bom o suficiente para você? Agora é só providenciar o casamento, querido primo. Faça bom proveito! Não conseguiu tirá-la de mim, construa uma família linda e feliz. – Cuspiu tudo o que estava preso e me mandou ir embora.

– Uma troca justa, não roubou a minha posição na empresa? – Ela gargalhou.

– Belo comparativo, você é um moleque, Paula ganhou um belo fardo, no mais, – sorriu – eu não iria assumir a presidência, mas obrigada pela afronta, vou amar mandar em você todos os dias. – Abriu a porta e apontou. – Sai.

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