35 - Paula

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Nunca estive tão perdida, a cabeça pensando em milhares de coisas diferentes e nada de achar solução para nenhuma, o corpo fraco, a mente cheia, um vazio nominal. Parece que quando a torre de dominó está para ser concluída, faltando à última peça, um passo em falso, desastrado, destrói todo o trabalho. Um incomodo inerte, pesado, que não se move, pressionando cada vez mais o estomago. Que caminho adverso tomei. Os sentimentos estão misturados, cada um em sua proporção equivalente de angústia, corroendo cada centímetro do meu corpo agoniado, de tudo o que já vivi, foi à reação mais avessa que destino poderia me propor.

Alguém bateu na porta.

– Posso entrar?

Era Cris.

– Nem precisa perguntar. – Entreguei-lhe um meio sorriso.

– Você está bem? – Perguntou sentando na cadeira frente a minha mesa.

– Sim, estou. – Falei seca.

– Está pálida, tem certeza que está bem? – Insistiu.

– Eu estou bem! Em que posso te ajudar? – Fui direta.

– Vou assumir a presidência. – Cuspiu.

– Que surpresa, achei que voltaria para o Canadá. – Falei enquanto digitava a senha do meu notebook.

Expressei a reação menos calorosa, enquanto meu interior gritava de esperança.

– Acho que precisamos entrar no mesmo trilho, ajustar os ponteiros, para que tudo por aqui funcione bem. – Disse com o olhar baixo, centrado na mesa.

– Concordo. Pelo que depender de mim. – Olhei-a brevemente e sorri.

– Então é isso. – Levantou-se.

– Ok. – Respondi encarando a tela do meu notebook.

Ela saiu andando, abriu a porta e demorou alguns segundos para sair. Eu quis chamá-la, eu quis que ela ficasse, enquanto meu coração – acelerado – urrava a ponto de falar por si só.

Nada, nunca, nessa vida me fez fracassar em meu trabalho e não vai ser agora que isso vai acontecer.

Saí para almoçar no refeitório da empresa, estava sem vontade nenhuma de ir para outro lugar.

– Posso me sentar? – Afonso perguntou, de pé, frente a mim.

Respirei fundo.

– Pode. – Tentei parecer o mais simpática possível.

– Obrigada. – Ele se sentou. – Nossa última conversa não foi muito agradável, e acredito que não precise ser assim. – Falou.

– Tem razão. – Cortei o frango e coloquei um pedaço na boca.

– Precisamos conversar sobre isso ou você precisa de um tempo a mais? – Falou com toda a doçura do mundo.

– Não precisamos nos casar, nem determinar uma pensão ou qualquer dessas coisas que a sociedade determina. – Expliquei. – Quando essa criança nascer decidimos o que tiver que resolver... juntos.

– Eu quero acompanhar a gestação, Paula. – Expressou.

– Não sei se eu quero isso. – Falei colocando os cotovelos sobre a mesa.

– Não estou pedindo para estarmos juntos, mas eu quero acompanhar o desenvolvimento do nosso filho. – Segurou minha mão.

Parece cena de filme, montada, justamente para estragar qualquer progresso que o personagem tenha tido anteriormente.

Cris se aproximou, nos deu boa tarde e seguiu.

Puxei minha mão.

Meu coração se desmanchou em incontáveis pedaços e eu senti uma vontade enorme de sair correndo atrás dela, mas lá permaneci.

– Eu entendi, Afonso, eu não quero ter que pensar nisso agora, tudo bem? – Perguntei tentando ver em qual direção Cris foi.

– Sim, tudo bem. – Ele se levantou e beijou minha testa.

Nem consegui terminar meu almoço.

Logo voltei para minha sala, pensei em passar na sala dela, meu corpo inteiro se dirigia – automaticamente – para o lado oposto, mas eu sabia que não poderia mais ser assim... E eu teria que me acostumar com isso, pela minha saúde mental e pela dessa criança.

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