Seguindo em frente

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"No momento do meu nascimento,

todos se alegravam e só eu chorava,

agora em minha morte,

todos choram e somente eu me alegro.

A morte é mais leve que uma pluma.

A responsabilidade de viver

é mais pesada que uma montanha."

Poucos dias antes de tudo, estendia-se ele o corpo celebrante naquele lugar tão calmo e sereno da qual sempre tivera boas recordações. Talvez fosse o sentido de tudo, talvez o fim do ciclo que ele sentia que estava perto de se completar, ou talvez só buscasse serenidade... esbanjava ainda que no alto da sua idade, uma energia e vigor de criança, pena que o corpo não entendia a mesma coisa que a mente...

—Vovô! – o chamado quase um grito animado o tirou o foco se juntando a ele, era um pequeno, muito delicado e bem cuidado jardim ao lado do mausoléu da família.

Caminhando em sua direção veio o jovem de cabelos desgrenhados tal como o pai -- seu filho único – tinha

—Pra que a pressa meu jovem? -riu o velho

—Nada... só corri

—Desacelere, as vezes faz bem! – disse sabiamente e o garoto se juntou a ele – não deveria estar na faculdade?

—Deveria, mas tirei o dia pra resolver algumas coisas e me sobrou um pouco de tempo pela manhã... – disse – o que faz aqui? tem andado tanto sozinho.

—não estou sozinho filho – riu o mais velho – já não me importo com negócios e problemas, isso é para a cabeça do seu pai não a minha, para a minha, resta somente contemplar uma vida bem vivida e aproveitada que tive – riu faceiro ao ver o cenho confuso e franzido do neto se mostrar – como anda meu bisneto ou bisnetinha?

—Bem, eu acho – Goku fala ainda meu absorto – porque?

—Bem... é a continuidade da nossa família, não é? Onde se leva o sangue e a fé, é um ciclo perfeito e bonito a vida... e quando você cumprir o seu, tem a satisfação de no final ser grato como eu sou...

Goku medita nas palavras do avô, será que ele carregaria isso também na sua vida? Chegaria no final e estaria satisfeito? Seria realmente feliz sabendo que tudo seria assim? E Gohan vendo a confusão e impaciência cobrir o espirito do seu neto o trouxe de volta

—Venha, sente-se um pouco – disse o mais velho sentando no pequeno banquinho de pedra que havia ali – Ainda está relutante em aceitar a sua nova vida?

—Eu estou tentando vovô, juro que estou, mas...

—é difícil abrir mão do que se ama, não é?

—é sim – ele fala com um tom triste e melancólico

—Eu te falei sobre tradições e escolhas e sei que é duro escolher o que te faz infeliz, é o dever... não cabe a todos a felicidade plena, nem todos podem ter tudo, eu te disse... tudo é questão de poder escolher e escolher sabiamente.

—Faria diferente? Se... pudesse voltar, estaria com seu grande amor?

Gohan olhava as águas movimentando-se na fonte delicada de pedras que faziam o barulho suave do correr de águas

—eu amei, e amei muito e ainda amo... e certamente vou ama-la até o meu último dia de vida... eu não sei onde a vida a levou, mas eu sei onde tenho meus pés... talvez o que eu faria de diferente era amar um pouco mais a sua avó... que mesmo sabendo que eu não amava como ela amava a mim, ainda sim sempre foi uma boa esposa, sempre teve carinho e cuidado comigo, com o nosso filho... foi uma boa mulher, mas eu fui egoísta nisso... então as palavras de um velho pra você: não se pode ter tudo, mas valorize o que se escolheu ter, sempre...

Uma carta para você (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora