Por trás da máscara

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"Me contaram uma história do passado

Quando não era permitido apaixonar-se livremente

A avó se casou com os olhos cheios de lágrimas

Sem poder sequer despedir-se daquela pessoa"

Ele chegou ali e tão logo soltou Gohan do carro e esse não tardou em caminhar curioso em direção a casa. Pegando várias sacolas, Goku caminhou para a casa e assim que entrou ficou chocado com a rapidez de Chichi com algumas coisas.

– Nossa, você... – ele começou

– Ah... eu achei algumas coisas aqui, fui arrumando um pouco, não tinha muito o que fazer – disse animada ao beijar Goku e pegar as sacolas da mão dele.

E Gohan, de cara, se encantou com um pequeno brinquedo de madeira que estava sobre uma mesinha e o pegou.

– Onde achou água e... todo o resto? – perguntou Goku caminhando.

– Acredita que tem um rio bem aqui perto? Essa casa é incrível, tem tanta coisa e...

– Ela é velha! – disse Goku com um bico. – Com sorte o gerador vai funcionar.

– Mas ela tem espaço para uma fogueira interna, e isso é muito legal! – disse Chichi apontando para o braseiro de canto que lembrava uma espécie de lareira

– Tá... de qualquer forma não vamos estender isso aqui, quanto antes eu resolver nossas vidas, poderemos voltar a vivê-las em paz, dessa vez, juntos – disse Goku enlaçando a cintura de Chichi e beijando-a. Chichi o empurrou rindo.

– Para! Ele tá olhando! – disse, corada.

– Ele nem sabe o que tá acontecendo, tá bobão com o brinquedo, olha lá! – disse Goku e voltou a beijá-la quando ela vacilou um pouco.

"Às vezes descobrimos o monstro que habita em nós tarde demais para se voltar atrás, então só existem dois caminhos a frente, redimir-se e evoluir, ou deixa-lo vivo e padecer afogado em seu próprio mal..."

Frente ao espelho do banheiro, ele lavava o rosto e, pegando uma toalha de rosto preta que havia cuidadosamente enroladinha ali junto a outras num nicho de bambu, ele secou o rosto e encarou-se por alguns segundos frente ao espelho: a face cansada e abatida era reflexo do que passava, ou sentia, mesmo com tão pouco... talvez naquele olhar, refletiam-se as velhas máculas de um passado que ele lutava tanto pra esquecer ou superar, o caminho da redenção era tortuoso, não era fácil, era cheio de espinhos e a alma carregava pra sempre as marcas. Talvez quando se causa dor a alguém e você finalmente reconhece a empatia, percebe como machuca. Não é fácil aceitar que errou, que falhou, mas mais difícil ainda é corrigir erros, e pagar pecados...

Ele mergulhou somente por alguns segundos em alguns flashes do passado encarando-se e a mente devaneando.

O deslizar da porta sutil, a bandeja com os itens para o chá, a graciosidade que ela ainda assim preparava a infusão que em nada havia melhorado; ela ainda fazia um chá terrível, e talvez, naquele dia ainda mais amargo do que o de costume, mas a atenção dele não estava voltada aos detalhes em si, mas a ela, que tinha a face mais abatida, os olhos fundos, o olhar era opaco e sem vida alguma por trás da mascara de uma pintura de gueixa que expressava a profunda ofensa para com marido naquele instante, naquela casa. Há dias não se falavam por nada, há dias ele não ouvia o som da voz dela ou sequer chegava perto dela, remoía-se pelo que fizera ao toma-la a força, mas o orgulho certamente não o deixaria baixar sua cabeça perante uma mulher. Para ele, fizera o que tinha de fazer, o que deveria ser feito: dar valia ao acordo de casamento; não deveria carregar arrependimentos, mas eles vinham... assolavam, assombravam... vinham como gritos do terror noturno dela que tinha medo dele... você pode se olhar no espelho e ver a face de um monstro olhando somente para si mesmo.

Uma carta para você (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora