Uma nova vida

94 6 6
                                    

"Kirakira hikaru,
Osora no hoshi yo
Mabataki shite wa
Minna o miteru
Kirakira hikaru,
Osora no hoshi yo

-

Brilha estrelinha

Eu quero ver

Você brilhar"

Os dentes trincavam, fortes um contra o outro, fazendo o maxilar forçar-se e a expressão de força e dor ficar nitidamente estampada no rosto jovem, as lagrimas se misturavam às gotículas de suor que escorriam em seu rosto...

Joelhos flexionados, coração acelerado e muita, mais muita dor mesmo; contrações seguidas, quase não davam intervalos para respirar e, no fundo, ela achava que era a dor da morte, mas era apenas a vida ganhando passagem...

– Respira um pouco, estamos quase lá, está indo muito bem – a voz ao fundo tentava a ajudar, mas nada, absolutamente nada naquele instante serviria de qualquer consolo ou qualquer alivio, ela só queria que acabasse logo ou não sabia se teria ainda qualquer força mais, tudo parecia se esvair muito rápido nas incansáveis horas que estava ali e por um minuto pensou na mãe que morrera daquela maneira e, então, sua mente perturbou-se ainda mais, pois a última coisa que queria era deixar seu pequeno aos cuidados daquele por quem ela, naquele instante, nutria rancor...

Uma vez... outra vez... e de novo... e ela chorou em meio à dor.

– Eu não vou conseguir... – murmurou – eu não consigo, não tenho mais forças! – disse ela respirando curto e forte.

– Consegue sim, estamos quase lá, só mais um pouquinho e já acaba – disse Gine a acalmando naquele instante.

A dor veio mais uma vez, forte e intensa, e ela usava o último fio de força que a restava e logo uma onda de alivio tomou o seu corpo e, ao fundo, a sinfonia do seu alivio foi embalada pelo choro forte.

As lágrimas agora eram de alivio, de felicidade, de esperança...

Trêmula, suas mãos cariciam em tocá-lo, nos lábios o sorriso pálido e a respiração ociosa ao tê-lo colocado em cima de si e ter aquele primeiro contato e, certamente, se ele não fosse tirado dos seus braços pelo médico ela não o soltaria por nada.

– Por Kami, ele é lindo Chi... – disse, cheia de ternura, Gine que não tirava os olhos do neto por um segundo sequer.

– É sim, – ela disse baixo, agora tentando relaxar o corpo.

– Fez um ótimo trabalho! – Gine disse a ela – eu disse que conseguiria – ela deslizou as mãos sobre os fios úmidos de suor dela e por um momento Chichi realmente agradeceu de coração por aquela mulher quem sem dúvidas, a tratava sempre com carinho, mesmo sendo firme por vezes.

Ele olhava através da janela de vidro as luzes e as ruas do lado de fora, ali do andar da maternidade do hospital, não conseguia, e nem queria realmente estar ao lado dela, talvez uma parte ainda pelo remorso latente que custava a admitir a si mesmo, e parte por realmente não querer estar lá naquela hora. Na mente, repetia-se a briga com ela inúmeras vezes e se perguntava em que momento ele perdera completamente o controle de tudo? De sua vida, de seu casamento de suas escolhas... aquilo não poderia ficar assim, de qualquer jeito, afinal ele tinha que ponderar suas ações e suas reações, pois, como seu pai havia dito, eram suas escolhas e ele não tinha dúvidas delas, ele realmente acreditava que amava aquela garota, ela era como um mimo, um pequeno bibelô de porcelana, seu bibelô, raro e intocável que deveria estar longe de olhos e mãos que não fossem as suas. Talvez tudo aquilo era cuidado extremo, e ele não sentia remorso de uma traição, afinal em sua mente ele não a traíra, ele era um homem e tinha necessidades, e isso não o tornava menor.

Uma carta para você (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora