Sempre com amor

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Sabe aquela pequena e delicada semente? Aquela mesmo que nos dias mais quentes plantamos sobre a foz do vale? Ela germinou... teremos um pequeno pessegueiro!

Curioso... muito curioso que de um fruto tão doce e pequeno pudesse surgir uma vida tão rápido!

A vida é assim... tem dessas coisas mesmo... um pequeno pé de pêssegos!

Que seja tão doce como o primeiro!"

Japão - Período Tokugawa

A inquietante e fria brisa do Outono agitava os cabelos desgrenhados do jovem samurai que olhava além daqueles vales. Havia treinado o dia todo e acalmava seu espirito talvez pela oitava ou décima estação seguida, ele não sabia o quanto ao certo. Onde seu coração se encontrava naquele instante? porque partira daquela forma?

Tudo que ele queria era uma forma de acha-la, de busca-la, mas os vales eram longos, a distância imensa e as obrigações tortuosas...

Desonra para tua casa! Não poderia dar as costas simplesmente ao seu senhor. Os ventos tocam gélidos sempre... ainda mais agora...

Ter que deixar sua pequena e delicada sakura para trás era um fardo maldito, mas ele era um guerreiro e tinha um voto a cumprir... promessas...

Embainhou a katana novamente na bainha, acondicionando-a perfeitamente e curvou-se ao natural em agradecimento ao dia vindouro e montou em seu cavalo e retornou cortante por toda a extensa propriedade de seu senhor foi inevitável cortar os campos agrícolas onde irracionalmente diminuiu seu galope ainda incontido na vontade de vê-la, na súbita esperança que os ventos ora frios, tornassem quentes outra vez...

Os adornos eram postos por todos os lados e pesos e mais pesos de alimento se faziam ali na morada, ele olhou pra aquilo com profundo desgosto ciente que nada daquilo o agradava.

– Mas onde esteve até agora? – a voz masculina e imponente o questionava.

Ele deixou o olhar vaguear pelo templo que estava recebendo várias lâmpadas e adornos. As flores e frutos faziam o cheiro cítrico e adocicado se misturar.

– Nos vales, meditando – respondeu o jovem guerreiro dando de ombros.

– Entre e se ajeite, não perca tempo – a voz era de comando e o jovem samurai assim o fez.

A água quente relaxava todo o seu corpo, as termas sem dúvidas eram criações divinas. Saiu dali até seus aposentos onde haviam duas jovens que serviam a morada de seu pai e o prepararam para a cerimônia. O kimono preto acompanhado do hakama e do haori em mesmo tom. No kimono estava bordado o brasão da família. Laços presos e postura de guerreiro...

Suspirou mais uma vez ao deslizar a porta para o lado e seguir ao grande templo.

Dento do templo olhava a garota com o seu shiromuku totalmente bordado a mão e detalhado. Ela era linda sem dúvidas, era doce e obediente, seria uma boa esposa, pertencia à sua casta, era sem dúvidas, a mais indicada.

Um casamento arranjado...

O pequeno punhal ia frente ao peito dela bem como o leque dourado agora preso sobe o Obi. A celebração foi rápida à medida que iam sendo feitos os votos de lealdade e troca de alianças, e aos deuses eram dadas as oferendas e os mimos pedindo pela benção e proteção do casal. A pequena taça de saquê foi servida e repetida por três vozes, sendo partilhada pelo o casal e os pequenos tilintar dos sinos anunciava a união à medida que as lanternas iam se acendendo indicando o nascimento de uma nova família. Ali ele olhou nos olhos verdes cristalinos e teve certeza que tinha que deixar tudo para trás, mas não queria ter esse fardo.

Uma carta para você (concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora