capítulo dez

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Júlia

Desci encontrando meu pai apagado no sofá junto ao Matheus, ri dos dois e desliguei a tv, os cobri e fui para a cozinha atrás de algo para comer. Coloquei alguns paēs de queijo no forno e separei algumas laranjas para fazer suco, estava descascando elas quando meu pai apareceu na cozinha, mexendo em seus cabelos que haviam já até alguns fiapos brancos.

— Oi amor.

— Oi pai, quer lanchar comigo? — pedi manhosa e ele assentiu, se aproximou e deixou um beijo na minha bochecha.

— Só vou ver se o Theus escovou mesmo os dentes e ja deitou, já venho. — assenti e ele saiu da cozinha.

Tirei os paēs do forno, fiz dois mistos quentes e o suco, meu pai voltou de banho tomado e deu um sorrisinho olhando que eu já tinha montado o nosso lanche na bancada, me sentei de frente para ele e comecei a comer ainda em silêncio.

Era tão nótorio o desgaste em que ele e minha mãe estão se metendo, ficam perabulando tristonhos pela casa e isso me dói muito, porque sei que não tenho capacidade de ajudar eles ou de alguma forma amenizar essa confusão entre os dois.

Talvez eu até esteja sendo um tanto mimada em dizer que após mais de quinze anos juntos, eles estão á pequenos passos do fim.

— Eu sei que você quer perguntar sobre sua mãe e eu. — engoli em seco e respirei fundo, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.

— Pai, eu sei que tudo está uma loucura entre vocês dois. Isso é visivel para qualquer um, mas me dói muito saber que isso tá destruindo vocês. — sequei meu rosto com pressa e vi o mesmo negar e descer de seu banco.

Suas mãos pousaram em meu rosto, assim que ele estava proximo de mim, seus dedos  passearam por minhas lágrimas e um sorrisinho muito pequeno brotou em seu rosto.

— Eu me sinto muito grato em saber que você se importa com a gente, amor. É só uma fase complicada e vai passar, eu juro.

— Nem você esta crendo nisso, papai. Desculpa. Mas eu mesma já não aguento mais ver esse inferno diário, se for para vocês serem felizes e terem paz, separados, eu prefiro que separem.

— Julinha, olha pro pai, amor. Eu não vou me separar da sua mãe. É só uma fase complicada, mas tudo vai se ajeitar, viu? — assenti desesperada e me joguei nos braços do meu maior porto seguro em terra.

Depois que me acalmei, terminamos o nosso lanche conversando sobre outras coisas e até chegarmos ao assunto que era especificamente o que meu pai sempre batutou e no fundo sempre soube.

— E então você ainda gosta dele?

— Ahn, sim... mas o Felipe é meio maluco, não dá para sair arriscando muita coisa sem ter um pingo de segurança. — respirei aliviada em poder falar abertamente com meu pai e ele assentiu e pareceu pensar muito antes de voltar a falar.

— Filha, vou te contar algo que aprendi com sua avó. — assenti e ele deu um sorriso parecendo se lembrar. — Uma vez, eu era bem mais novo que você e estava tendo esse tipo de conversa com ela. Ela me contou que as mulheres são como frutos de árvore...

— Frutos? Que maluquisse é essa!

— Sim, amor. Frutos. O que nos atraí quando queremos uma frutinha que ainda está em seu pé? As que estão caídas ou as que estão bem lá no alto, mais ainda assim também prontas para serem desgustadas?

— Ahhh, é mais fácil pegar as que já caíram né?

— Exatamente isso que respondi. As que já caíram são as mais facies de pegar, mas na maioria das vezes já estão podres ou mordidas por pássaros. Algumas estão sim bem gostosas e boas para provar. Mas e as que estão no topo da árvore? Essas são de extrema delicadeza, suculentas, bonitas e para pega-lás tem uma certa dificuldade mais isso a faz mais especial do que as que já estão pelo chão. Entendeu o que eu quis dizer?

— Acho que sim. As caídas são mulheres julgadas como fácies porém nem todas podem estar realmente boas para ficarmos. E as do topo são as especiais.

— Certinho, amor! Agora é uma escolha sua, ser especial ou se deixar cair em qualquer papo furado. — assenti completamente anextesiada, ri baixo e levantei da bancada indo colocar a sujeira na pia para lavar. — Vai dormir, filha. Eu lavo.

— Obrigada pai!

— Não precisa agradecer.

— Não pela louça, mas por você ser você! Te amo e só quero que você fique bem, tá? — beijei seu rosto seguidas vezes e vi seus olhos se encherem.

— É foda ver o quanto você já cresceu, eu também te amo bebê, muito! — abracei o mesmo e depois subi para o quarto, leve e tranquila.

Neymar Júnior.

Estava secando a louça quando a Lorena passou pela cozinha falando no celular e dizia seguidas vezes o nome de um tal de Leonard. Não perguntei e nem deixei transparecer que me incomodou, não pela ligação e sim por ser mais de uma da manhã e ela ter descido para falar com esse tal.

Talvez deva ser o tal que queria sociedade  com ela no escritório, mas no dia em que ela me contou não me lembro se citou o nome.

Guardei tudo e ela estava bebendo o resto do suco que a Júlia havia feito, dei as costas para a mesma e subi, passei pelo quarto do Matheus e depois pelo da Júlia e aí sim entrei no nosso. Peguei uma roupa no closet, tomei um banho rápido, escovei os dentes e saí do banheiro colocando minha blusa.

Desliguei as luzes, dei uma olhada no telefone e desisti, mesmo ainda sem sono, me virei de bruços e pouco tempo tempos a Lorena entrou no quarto. Fiquei quieto, apenas a ouvindo ir ao banheiro, a descarga, a água corrente da torneira e depois seu resmungo por ter atropeçado em algo no chão, o colchão se afundou ao meu lado e a coberta foi levantada.

— Júnior??

Não respondi, não por querer explicações da ligação mas pelo simples fato de que qualquer conversa nossa sempre acaba em discurssão. E eu ainda estou com a mente a milhões desde hoje pela manhã.

— Preto? Ahn, já dormiu. Droga! — escutei seu resmungo e não consegui continuar na minha, girei meu corpo e a puxei para mim, chocando seu corpo no meu, mas envolvendo em um abraço forte demais. — Amor, me desculpa.

— Eu ainda tô puto Lorena, fica na moral, quietinha. Amanhã a gente conversa. — falei baixo e calmo demais até para os meus próprios ouvidos.

— Eu te amo.

Minha garganta se fechou em um nó e eu apertei os olhos com força, relutando para falar que também a amo mais do que qualquer mulher no mundo, mas falhei.

No meu olhar. 》 NJROnde histórias criam vida. Descubra agora