- Blake, Ethan.
Evan estaciona a Mercedes na entrada da monumental Catedral de Álamo, e noto que apesar dos andaimes na entrada e das laterais com suas paredes visivelmente marcadas pelo tempo, ela ainda era uma obra de arte incontestável.
- Não sei como te agradecer, sinceramente. Eu realmente precisava aceitar esse trabalho.- repetia Evan, pela décima vez no dia de hoje. Evan Jenkins era meu amigo e colega de trabalho de longa data. Nós dois nos formamos em engenharia na Yale no mesmo ano e decidimos juntos iniciar nossa própria empreiteira. Isso foi há quatro anos, atualmente vendemos a patente pra uma empresa ainda maior, e assumimos chefia na sede da empresa que havia na nossa cidade, que apesar de minúscula, tinha seus benefícios. Evan estava nesse projeto de reformar e restaurar a imensa Catedral principal, que por sinal tinha alguns anos na conta, ela era tão antiga que já estava em sua quarta restauração. Ele estava nesse projeto há dois meses, junto com sua noiva, que por sinal só vi em alguns eventos da firma. Ela tinha uma empresa de restauração muito bem conceituada, e pelo que ele me disse, ela tinha feito Artes plásticas também em Yale. Estou assumindo seu lugar no seu projeto atual, já que ele foi chamado para um projeto que ele estava se dedicando há anos num estádio em Nova York. A princípio, ele ficará três meses, mas duvido que apenas isso seja necessário, já que o trabalho é imenso.
- Grace também está fazendo todo o trabalho visual, então acredito que você terá que comunicá-la caso queira fazer mais mudanças na estrutura do local, mas como você bem sabe, não há como mudar muita coisa em construções como essa. - Evan ajeita o topete pela décima vez.
- Você precisa se acalmar, não vou deixar vocês dois na mão. E acho que esse nervosismo seu é medo de que todos percebam o quanto sou melhor que você. - ele ri, aliviando a carranca do rosto. - Pretendo me ater ao que você e a equipe já planejaram.
- Sei. Você e eu sabemos da sua tendência a improvisar de última hora.
- São em pequenas coisas que eu mudo, em geral não sou tão imprevisível assim-costumava dizer que as coisas eram de um jeito no papel e pessoalmente sempre era possível e necessário fazer alguns ajustes. Assim que Evan sobe o primeiro degrau, reparo no cigarro atrás da sua orelha.
- Você voltou a fumar?- digo visivelmente desapontado.
- Só por enquanto. Você sabe como fico quando estou estressado. - ele pigarreia.
- Cara, de novo? Você só vai parar com essa merda quando seu pulmão ficar na cor neon não é?
- Neon?- ele solta uma risada alta.
- Não pensei em algo pior que preto, porque certamente, preto já está.
Ele revira os olhos e continua seu percurso até a porta vitoriana. Assim que entramos no corredor da Catedral, Amazing Grace está tocando em uma caixa de som, enquanto alguns restauradores passam pra lá e pra cá. Evan assobia ao fundo do corredor e no mesmo instante procuro o motivo de seu silvo, então me deparo com uma mulher com um enorme coque preso ao alto da cabeça, de quatro, em cima de um enorme painel no chão. Ela estava pintando oque eu imagino ser um dos painéis laterais que eram removíveis, diferente dos demais, onde se levava ainda mais tempo, pelo fato do restaurador precisar ficar suspenso. A morena não se acanha pela sua posição, pelo contrário, ela olha na nossa direção por cima do ombro e solta um breve "vai se ferrar" pro noivo.
- Não posso mais endeusar você?
- Não. Me cansa tanta veneração. - ela se levanta com rapidez e assim que me vê ergue uma das mãos.
- Grace, você já conhece Ethan Blake, ele quem irá ajudar você a finalizar nosso projeto.
- Olá, Blake. - sua voz é firme e grave, num sotaque britânico inconfundível.- Grace Hayes, é um prazer.- Apesar da sua pouca altura, Grace tinha presença, como poucas pessoas têm. Seu rosto era claro como se ela nunca tivesse visto o sol, exceto por suas bochechas que eram vermelhas como a cor da boca dela. Seu coque era um emaranhado de fios pretos caindo preguiçosamente pela sua nuca.
- Quão prepotente você é por se chamar Grace e estar ouvindo Amazing Grace?- sua sobrancelha se levanta em curiosidade. Evan ri.
- Ele é afiado como você, espero que terminem esse projeto vivos.
- Não é com esse intuito. -ela pondera-Na verdade, essa música apenas diz o que eu realmente sou. Incrível.- Grace se vira e volta ao seu mundo particular cantando em alto e bom tom a música que segundo ela, é sobre o quanto ela é incrível no que faz. Prepotente.
- Quando você viaja?- me viro para Evan que ainda admira a posição que Grace está. - você precisa de um babador?
- Talvez. Ela é boa demais pra mim e todos sabemos disso. - ele suspira.- amanhã de manhã, você me levará até o aeroporto.- ele ri.- não que você já não soubesse.
- Então hoje nós vamos encher a cara?
- Lamento, mas nossa despedida fica pra próxima. Hoje eu e Grace vamos sair. - seu riso é tão malicioso quanto pode ser.
- Você está ridículo de tão apaixonado.- Evan era completamente galinha desde que o conheci. Jamais o vi namorando alguém, já eu, sempre estive namorando. Minha última namorada, Georgia, me deixou por uma mulher, seria cômico se não fosse tão trágico. Ela nunca me escondeu sua bissexualidade,mas aquilo me atingiu de surpresa. E desde então nossos papéis se inverteram, comecei a ter encontros casuais e sem o menor envolvimento, e Evan conheceu Grace, apesar de ter apenas sete meses, ele a pediu em casamento com a mesma convicção que pegou seu diploma na universidade. Ele sempre dizia" não existe alguém como Grace".
- Não existe alguém como Grace, já falei. Se estou sendo ridículo por causa dela, que eu seja. Você não tem noção da sorte que eu tive, Blake.
Me perguntava se eu me sentiria assim em relação a alguém um dia, já que em nenhum momento da minha vida, eu senti que alguém era única pra mim como ninguém mais no mundo.
- Então tá, já que seu amigo não merece um adeus, vou ficar em casa sozinho bebendo cerveja quente e chorando.
- Cerveja quente? Você é melhor que isso.
Conversamos sobre o projeto da Catedral, sobre a planta que ele e seus funcionários estavam seguindo. Ele disse que o casamento seria assim que ele voltasse de Nova York, e que eu certamente seria o padrinho. Eu disse que não tinha dúvidas disso, então me despedi dele num bar próximo a avenida Groove enquanto falávamos sobre o jogo ridículo dos Yankees na semana passada. Assim que volto pra casa, leio alguns e-mails que deixei pra verificar mais tarde, alimento Odin, meu gato chinês mais conhecido como "Sr. Pelado" pela minha sobrinha. Às dez, começo a fazer algo pra comer e escuto a porta bater da forma mais familiar possível.
- Vou morrer tentando fazer com que você bata à porta direito não é? - vejo o topo da cabeça ruiva da minha irmã passando pelo mini bar e também escuto seu suspiro.
- Você é tãaaaaaao chato. Meu dia foi uma merda, não quero falar sobre portas. - minha sobrinha entra correndo com metade da sua Maria Chiquinha ruiva cortada ao meio. Um lado estava grande como o habitual e o outro ridiculamente pela metade.
- Ok. Posso pedir uma explicação para isso?
- Não! - as duas mulheres da minha vida dizem em uníssono.
- Ava...? - a menina com a cara mais brava e determinada que eu conheço me olha com os olhos cerrados. Ela só tem cinco anos mas me dá medo às vezes.
- Oi.
- Conta então. Conta pro seu tio a merd.. a gracinha que você fez hoje na escola.- Eva bufa e sai corredor a fora.
- Um menino cortou meu cabelo.
- Sim... percebi. O que mais?- Ava abaixa o olhar com um cãozinho com medo.
- Ava?
- Eu bati nele.- ela diz baixinho.
- Bateu nele?
-Batiporqueelemereceuelemeirritaemexenomeucabeloepegadomeulanchee...- Ava fala rápido como uma rádio sintonizada.
- Ei, ei. Espera. Devagar.
- Ele enche o saco dela o dia inteiro. - Eva vem gritando do quarto, furiosa.- aquele geniozinho do mal.
- Eva..- minha irmã era a pessoa mais explosiva da face da terra, ao mesmo tempo que tinha o maior coração da face da terra também.
- Eu sei que ele é uma criança, mas vive irritando Ava. Olha o que ele fez com o cabelo dela!
- É! - Ava diz ressentida.
- Agora ela está suspensa três dias por causa disso. Ela têm cinco anos!
- Suspensa? E ele?
- Também. Mas bater é bem diferente de cortar meio metro de cabelo não é?!
- Sim. - aceno.
- E aquele bundão daquele diretor ainda veio me dar um sermão machista de que Ava precisa se comportar como uma mocinha. Que merda é se comportar como mocinha? Ela tem que deixar aquele imbecil fazer oque bem entender e aceitar porque é isso que as "damas fazem" grande merda!
- É! Um bundão.- Ava repete convicta. Eva arregala os olhos e depois fecha como se fosse morrer.
- Sou uma péssima mãe. - Eva sempre evita usar essas expressões perto dela, mas em momentos de fúria ela simplesmente esquece.
- Ava, não é legal falar isso.
- Mas mamãe, você disse.
- Bom ponto.- ela suspira.
- Sua mãe está irritada, ela não queria dizer isso. - Eva me olha por cima de Ava e faz com os lábios " queria sim".-Faz o seguinte, você toma banho e eu fico terminando o jantar com Ava, ok? - Eva relaxa os ombros assim que eu digo isso e faz seu caminho até o banheiro.
Faz três meses que minha irmã e minha sobrinha estão morando no meu apartamento. A princípio era até ela conseguir se restabelecer, mas o salário de garçonete não dá muito retorno, e como eu adorava a presença das duas, não me importava que o temporário se tornasse permanente. Todos os dias ela dizia que iria arrumar algo, mas eu honestamente não me importava. Minha casa vazia era completamente sem graça sem a presença das duas. Minha irmã era três anos mais nova que eu, e com dezoito anos engravidou de um cara qualquer. Na época foi um pesadelo, já que ela estava na faculdade fazendo direito e suas notas sempre eram boas, apesar de Eva sempre ter sido baladeira. Minha mãe apesar de ser a pessoa mais severa do mundo a acolheu, não deixando de sempre alfinetar Eva por suas escolhas. O pai de Ava é alguém que sequer conhecemos, e Eva não fez questão de dizer quem é, não importa quanto insista, ela apenas diz " ele não vale merda nenhuma, ficaremos melhor sem ele" quando Ava fez dois anos, ela conheceu um cara, Nate. Eu até gostava dele, ele cuidava de Ava como um pai, e os dois decidiram morar juntos. Foi aí que há três meses minha irmã descobriu que ele transava com a vizinha de cinquenta anos às terças e quintas que ela trabalhava à noite. Então, elas estão aqui desde então.
- Você acha que ela vai estourar? - Ava pergunta, me tirando do transe enquanto me ajuda a mexer o molho em cima do seu banquinho.
- Estourar?
- É. Quando o diretor disse que eu não podia ir na escola, minha mãe saiu de lá gritando " eu vou estourar"
- Explodir, não? - ela ri. A risada mais gostosa do mundo.
- É. Explodir.
- Não. Humanos não explodem. Quando sua mãe diz isso, é porque ela fica tão nervosa mais tão nervosa quando alguém faz algo ruim com você que acha que vai explodir de tanta raiva. Mas ela não vai.
- Hum. Tá.
- Você sabe que não pode bater nos outros não é?- digo cautelosamente. Falar com essas duas era como pisar em ovos.
- Eu sei.
- Por mais que eles te irritem. Você é melhor que isso, se você falar com sua professora tenho certeza de que ela vai resolver isso pra você.
- Tá.
- Você só vai ficar repetindo isso igual papagaio? - ela começa a rir.
- Não. Cozinhar é chato demais. Você pode ligar a TV pra mim na Ellen?
- Ellen? Você ainda está vendo Ellen DeGeneres?Que tal um desenho?- ela faz careta.
- Desenho é pra criança, eu já tenho cinco anos tio Blake. Quero ver a Ellen.
- Porque você é tão mandona?
- Porque não posso ver Ellen?- não sei. Sinceramente não sei, porque realmente não é nada impróprio, só não é feito pra crianças de cinco anos.
- Pode ver. Mas primeiro me ajuda a terminar o macarrão, porque eu também odeio cozinhar. - ela ri e faz que sim com a cabeça, e então começa a tagarelar sobre como seu dia foi cansativo tendo que colorir três desenhos hoje.
As vezes penso no cara que é biologicamente pai de Ava. Sinto pena dele demais. Senti ódio a princípio quando eu soube que ele estava se lixando pra gravidez dela, acusando minha irmã de ter transado com um monte e escolhido ele pra ser o mártir. Realmente estamos melhores sem ele, mas eu tinha pena porque Ava era uma criança incrível e peculiar. Ela adorava assistir animal planet e Ellen DeGeneres, além de ter uma coleção de cactos em seu quarto, cada um com um nome de comida. Ela adorava Matilda e a família adams, mas odiava desenhos infantis. Além de ter certeza de que o passarinho que às vezes pousava na janela do seu quarto era seu pai. Minha irmã havia se cansado de explicar a ela que o pássaro não era seu pai, mas Ava tinha certeza de que ele vinha aqui todas as tardes para ver ela. Tenho medo do quanto isso afeta Ava, mas as vezes acredito que ela só tem uma imaginação fértil.
- Sr. Pelado! - Ava grita assim que Odin, nosso gato pula na bancada da cozinha. - é falta de educação comer antes de todo mundo se sentar na mesa.
Jantamos os três, enquanto Odin se esgueirava entre nós. Minha irmã estava mais calma, vestida em seu roupão pós banho e uma toalha enrolada na cabeça, contou do seu dia e sobre um cliente estranho que colocava os pés em cima da cadeira para comer. Arrumo a mesa enquanto ela coloca Ava pra dormir, e assim que me sento na sacada com uma garrafa de Budweiser ela vem atrás com uma coca.
- precisamos cortar o resto do cabelo.
- É, precisamos. - digo rindo. - achei bem feito oque ela fez com o menino, mas não posso dizer.- Eva ri.
- Eu fazia o mesmo você lembra? Acabava com os meninos na escola.
- Ela é uma mini versão de você, já disse. Eu fico pra morrer quando digo algo repreendendo ela e ela tenta revirar os olhos igualzinho você. É insuportavelmente adorável. - minha irmã se senta e suspira ao meu lado.
- Obrigada por me ajudar tanto com Ava.
- Somos família. É pra isso que serve.
- Sinto que estou falhando tanto. É tanta coisa que eu preciso mudar, sabe?
- Acho que é pra ser assim. E você faz o seu melhor, ela sabe disso.
- E também sabe falar filho da puta.- nós dois começamos a rir.
- Oi?
- Eu briguei com um filho da puta no trânsito e ela agora chama todos os caras em uma moto de filhos da puta "mamãe, olha lá um filho da puta passando"- nós dois rimos incansavelmente.
- Pelo menos ela não diz com um dedo do meio pro alto.
- E esse é só um dos meus mil erros como mãe. - Eva amadureceu tanto desde que Ava nasceu, e mesmo que eu concorde que ela precisa melhorar em alguns aspectos, eu vejo o quanto ela cuida de Ava, o quanto abdica de tanta coisa em prol dela.
- Todos os dias naquela pocilga de restaurante eu penso em voltar a estudar.
- Então volte. - ela ri.
- Claro, vou levar Ava nas aulas e deixar de pagar as contas.
- Você sabe que eu posso fazer isso por você.- Eva me olha por cima do ombro como se quisesse me fuzilar com os olhos.
- Não preciso do seu dinheiro, Sr. ricaço. Quer dizer, não quero.
- Por que você precisa ser tão difícil?
- Só não quero ser uma sanguessuga sua. Você já faz muito por nós.
- Então aceite isso como um empréstimo. - sua sobrancelha franze como se ela estivesse começando a cogitar a hipótese.
- Empréstimo? Tá, mas e Ava?
- Porque não trabalha meio horário à noite e faz as aulas de manhã? Eu posso ficar com Ava, levar ela até a escola numa boa.
- Mas a gente não vai morar aqui pra sempre.
- Não importa agora, por agora vocês estão aqui, então vamos lidar com essa realidade. Eu levo Ava, você volta a estudar e ir atrás do que você quer.
- Blake.... não sei se devo aceitar isso.
- Você deve.
- Me sinto mal por pensar que se eu não tivesse Ava, eu já estaria formada. Mas ao mesmo tempo, não me arrependo de ter Ava na minha vida, ela é tudo pra mim.
- Pra nós. E o mundo não seria o mesmo sem ela, e você lidou com isso, agora é sua vez de continuar de onde você parou.
- Você acha isso mesmo? Faz tempo que eu estudei, não sei se teria a mesma facilidade.
- Você é ridiculamente inteligente, odiava suas notas perfeitas quando minha mãe as comparava com as minhas. - ela ri.
- De nada adiantou, hoje você é o irmão bem sucedido e eu a que engravidou na adolescência e perdeu a vida.
- Sua vida só mudou o rumo, Eva. Você ainda pode fazer tudo o que você queria fazer cinco anos atrás.
- Ok. Obrigada Lakey.
- Ainda estamos nessa? - ela ri. Aquele apelido só era usado quando ela queria me irritar. -Está sim Evinha. - ela me dá um dedo do meio. - vou dormir, amanhã minha vida começa às seis.- dou um tapinha na sua coxa e saio.
- Ei. - ela chama- só mais uma coisinha..
- Fala.
- Não posso levar a aluna suspensa em questão para o trabalho.. será que você pode...
- Levar Ava pro trabalho?
- Sim. Mamãe iria me dar um sermão se souber que Ava está sendo pentelha na escola. Por favorzinho.
- Ok. Mas o jantar do resto da semana será seu.
- Droga.- somos uma família que odeia cozinhar.- Fechado. Boa noite.
- Boa noite, me deseje sorte com a maluquinha.
Na manhã seguinte, levei Evan no meu carro até o aeroporto, Grace já estava na Catedral esperando minha chegada para resolvermos como iríamos seguir. O projeto de restauração deveria terminar em dois meses e segundo ele, Grace sempre consegue finalizar tudo dentro do prazo estabelecido, então eu só teria que pensar na minha parte, na estrutura. Combinamos de nos encontrar amanhã na paróquia às oito, ela queria me explicar as etapas que ela iria realizar e queria se ajustar as minhas mudanças, já que elas estavam interligadas de certa forma. Cheguei em casa e dormi num sono profundo, pensando em como minha parceira de projeto seria.Às oito da manhã em ponto entrei na paróquia com Ava e me deparei com Grace suspensa ouvindo take me to church, do Hozier.
- Você sabe que essa música é profana demais pra você ouvir dentro de uma igreja, não sabe?-ela vira o rosto mas só consigo ver seu cabelo enorme pendendo do teto.
- Eu já fiz as pazes com a igreja fazendo isso aqui. -ela aponta pro discípulo em especial que ela está pintando. - eu sou católica, mas adoro o ritmo da música. Gosto de fingir que não entendo a letra. - ela diz rindo.
- Você quer descer pra me explicar onde eu não devo intrometer nos seus assuntos ou depois?
- Mais tarde. Em um dia você não consegue estragar meu planejamento incrível. - ela cantarola. Assim que ela vê Ava, que agora observa tudo atentamente, sua expressão muda.
- O que essa criança faz aqui? E o que aconteceu com o cabelo dela?
- História longa. Ela tá suspensa e vai ficar comigo.
- Não sabia que você tinha filhos.
- Não tenho. É minha sobrinha.
- Eu bati num menino.- Ava diz conformada.
- Ele mereceu?- Grace pergunta.
- Mamãe e tio Blake disseram que não.
- E você? O que acha?
- Não sei. Porque você está no teto?
- Estou pintando. - Grace imediatamente volta ao seu afazer e a conversa morre. Não a conheço, mas ela parecia não ter gostado de Ava estar lá. Ou era só uma impressão?
Começo a conversar com alguns funcionários de Evan e seguimos com o planejado. Grace ouvia todo tipo de música lá dentro da catedral e enquanto isso, trabalhamos sem intervalo até as duas da tarde. Como eu apenas dava as coordenadas, sai de tarde para buscar algo para comer pra mim e pra Ava.Passei em casa, fui até o mercado e as quatro da tarde voltei para ver o andamento, Ava se sentou com meu celular na entrada e assim que entro, dou de cara com uma mulher alta que gesticulava descontroladamente enquanto contava algo para Grace, que apenas respondia com "uhum"
A mulher alta estava com quê de ira que me alertava em passar longe.
- É o que eu digo sempre, homem não vale merda nenhuma, cacete. Eu só queria ter a sorte de gostar de vagina.-ela estala os dedos ao notar o completo desinteresse da amiga pela história-Grace. Grace Hayes- ela estala os dedos impaciente - estou falando com você!- Grace interrompe sua pincelada e se vira pra mim e para a mulher nervosa.
- Você vê que estou pintando o pé de um discípulo? Será que podemos esperar eu terminar isso aqui e aí você me fala da quinta vez que você está terminando com Dave? - Grace tem a delicadeza de um trovão. Mas a amiga parece ser exatamente igual.
- Ok, filha da mãe. Vou pegar um café e acho bom você ter terminado esse pé quando eu voltar. - ela passa por mim e me encara de cima a baixo.
- Tudo bem aqui? - pergunto pra ela enquanto observo seus retoques na pintura, deixando ainda mais viva a obra que nitidamente já estava gasta. Grace é realmente boa.
- Sim. Aubrey é um pouco dramática. - Grace não rende assuntos, Isso é notório.
- Bom, vou esperar você para conversamos sobre o projeto está bem? - ela apenas acena. Depois de quinze minutos ela desce e solta seu enorme cabelo preto pelas costas.
- E então? - conversamos sobre as etapas da restauração e como eu iria agir, não queria atrapalhar seu processo e nem ela o meu. Decidimos que ela terminaria as laterais enquanto eu finalizava as colunas do interior, e assim eu voltaria para a área externa e ela poderia ficar à vontade para mexer na parte visual interna como bem entendesse. Grace apenas acenava com a cabeça em concordância, sem muito a acrescentar.
- Bom, então até amanhã. - digo, dobrando a planta. Antes que eu suma, Grace chama meu nome de forma pacífica.
- Blake.
- Oi?- me viro para encontrar sua expressão severa.
- Você não pode trazer aquela criança aqui.- espanto me atinge, por que não imaginaria jamais que ela iria me chamar para dizer isso.
- Não?
- Não. É local de trabalho, além de ser perigoso para ela e para minhas obras, crianças são destrutivas por natureza.- analiso sua carranca enquanto ela cruza os braços sobre o peito, que mal comporta o espaço.
- Não havia percebido que Ava a atrapalhou. - digo cinicamente pois sabia exatamente onde Ava passou a manhã: assistindo um documentário sobre sereias no animal planet no meu celular. Ela era fã desse tipo de coisa.
- Tá tudo bem, só estou avisando pra não termos problemas futuros. - que megera.
- Bem, estaria tudo bem se ela não estivesse suspensa por três dias. Não há quem a olhe de tarde. - ela balança a cabeça como se fingisse entender a situação. - Mas não estou entendendo, qual é o real problema?
- Só não quero crianças perambulando pelo meu projeto.
- Ela mal chegou perto de você e de suas coisas, como isso pode atrapalhar você?- ela parecia pensativa.
- Só não deixa ela solta por aí.- megera. Qual o problema dela?
- Você têm fobia de crianças?- suas costas se retesam com a minha frase.
- Não. Só não acho que aqui seja o lugar apropriado para uma.- ela novamente me dá as costas. - tenha uma boa noite, Blake.
- Idem.- cuspo a palavra e saio de lá. Megera.
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Questão de tempo
ChickLit" É preciso acreditar que depois das coisas ruins sempre vêm as coisas boas...ou pelo menos, deveria ser assim" Grace Hayes, 26 anos, uma perda, uma mente brilhante , noiva de Evan Jenkins e dona de um ego totalmente inabalável. Ethan Blake, 27 ano...