Capítulo nove

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- Hayes, Grace.

Estava hiperventilando. Decidi tomar um banho pra acalmar meus nervos. Estava ainda tentando processar o que Ethan havia acabado de me dizer. Ele queria espaço... pra não se sentir atraído por mim? Ok. Eu senti falta dele durante a semana, porque já estava acostumada a ter a companhia dele, só. Amigos sentem a falta um do outro, sei disso. Depois do banho, ligo o computador pra esperar Evan, e vejo Ethan online. As vezes jogávamos conversa fora até dar o horário de falar com Evan. Fico repetindo o que ele disse desde que entre no carro " estou enxergando você" o que isso quer dizer? Agora ele me enxerga como mulher e antes não? É um fato: estou carente, e talvez ouvir que alguém tem medo de desejar você é um combo completo pro ego, mas nunca o vi dessa forma. Ele é bonito? Muito. Mas nunca dei essa possibilidade pro meu cérebro ir. E então refaço o resto da nossa conversa e percebo que ele tem razão: precisamos de distância. É algo óbvio. Não é como se o universo tivesse se alinhado pra algo acontecer. Era lógica, estávamos nos vendo e conversando o dia todo, há uma linha tênue entre a amizade de um homem e de uma mulher e sinto que eu e Ethan estávamos no posto de pedágio desse limite e talvez, só talvez eu tenha negligenciado todos os indícios que já me fizeram perceber isso porque a companhia dele sempre preenchia meu dia. Estamos quase cruzando a fronteira, e apesar de odiar que ele faça isso comigo, me afastar, sei que ele está certo e eu deveria fazer o mesmo. Atendi Evan e ele notou com quinze minutos de conversa que eu estava aérea.
- ...O que aconteceu? Você mal está prestando atenção no que eu digo.
- Não é nada.- minto.- como vou dizer pra Evan o que está se passando? " eu e seu amigo estamos nos evitando pra que não gostemos um do outro?" Não me parece algo que alguém queira ouvir. Na semana passada, Evan quase voltou de Nova York depois que contei sobre Jake aparecer na minha casa no meio da noite. Precisei de muita conversa pra que ele pudesse entender que eu estava bem e que ele não precisava largar as coisas dele e vir pra cá - então você acha que irá precisar de mais tempo? - prossigo o assunto anterior. Evan tinha me dito que as coisas lá estavam cada vez ficando mais demoradas, cada novo dia um novo problema a se preocupar.
- Uma ou duas semanas além do esperado e só.
- Porque não nos casamos assim que você chegar aqui?
- Está com pressa? - Na verdade, sim. Minha cabeça vazia é oficina de pensamentos e aflições desnecessárias.
- Pra que esperar mais? Já vamos nos casar, porque não fazemos logo de uma vez?
- Ok. Fechado. Então assim que eu voltar, você compra um vestido branco e eu alugo um terno.
- Perfeito.-meu coração se aquece, num misto de ansiedade e certa aflição. Estamos realmente prontos pra isso, não estamos?


O jantar de Aubrey foi adiado no mínimo duas vezes pela forte chuva que estava caindo em Álamo durante as últimas semanas. Quando finalmente minha amiga resolveu desistir de fazer a cerimônia de noivado ao ar livre, remarcou para a primeira quinta feira livre no Bistrô Square, que no caso era hoje. Passei o dia todo pensando nisso, Aubrey daria o jantar para oficializar a noivado, e  o que eu mais temia era encontrar a família de Jake. Os pais de Aubrey eram amigos da família, ela já havia me dito que Jake não iria, mas eu não queria ver Meus ex- sogros. Diferentemente de Jake, eles e toda a sua família nunca cogitaram a hipótese de me acusar de ser a culpada pelo que aconteceu, mas lidar com Christofer e Marla era tão difícil quanto consolá-los no dia do velório de Maddie. Marla desmaiou e teve princípio de infarto, mas isso não era tudo. Após um ano, ela continua sempre tocando no mesmo assunto que eu gostaria de esquecer: dar mais uma chance pro meu casamento e tentar ter mais filhos. Marla é um gatilho constante pro meu pânico e apesar de considerar tudo o que ela já fez por mim quando Maddie estava viva, e mesmo depois, como quando a perdi e não queria sequer comer ela esteve lá, ou quando foi em todas as semanas seguintes à morte de Maddie arrumar minhas coisas e lavar minhas roupas quando não tinha forças de levantar da cama. Apesar de tudo isso, eu me sentia sob uma áurea cinza quando ambos falavam comigo. Passei o dia pensando nos dois e em como eu iria lidar com essa noite. Ethan me cumprimentou com um simples " oi" quando chegou na Catedral e foi só. Sentamos em mesas diferentes na hora do almoço e ele acenava com a cabeça de vez em quando, se nossos olhares se cruzavam pelo restaurante. Queria conversar com ele. Queria muito conversar com ele sobre o quanto estava aflita pro evento de hoje à noite, já que Ethan já tinha ouvido minhas diversas histórias sobre meus sogros e já que nas últimas semanas, ele tinha sido a pessoa que me ouvia falar sobre tudo. Eu queria simplesmente externar tudo antes de ir carregada de ansiedade me encontrar com eles. Evan entraria comigo na igreja e obviamente estaria comigo no jantar de hoje, mas como ele não está aqui, estou praticamente sozinha para enfrentá-los. Assim que termino meu almoço, meu celular vibra.
BLAKE: qual o motivo dessa cara horrível que você tá fazendo? - olho pra ele sentado a algumas mesas de mim. Vi que ele tinha diversas vezes pegando no celular, desbloqueado e voltado com ele pro lugar. Ele estava ponderando sobre me mandar mensagens? Por que eu estava ponderando agora se devia respondê-lo. Ethan me deu bons motivos para não voltar a me aproximar como antes, mas eu queria nossa amizade recente e saudável de antes. Eu sentia falta dele.  Ele agora está pedindo algo a garçonete, sempre achei que ela tivesse uma queda por ele nas vezes que almoçamos juntos, mas agora que ele está se sentando sozinho, parece que essa queda era na verdade um precipício. Ela quase se oferece para dar comida na boca dele, e eu não a julgo, ele era um homem bonito. A mulher loira anota o pedido e antes de sair, se despede tocando no seu ombro por um tempo mais longo que o necessário.
GRACE: meu dia não está tão bom quanto o seu, será que a garçonete pode me fazer um carinho também? Estou precisando.
Vejo ele sorrir enquanto lê e acena para a loira apontando pra minha mesa. Ele se levanta e vem na minha direção.
- Quer conversar? - ele pergunta enquanto puxa a cadeira à minha frente e eu tenho vontade de gritar que sim. Senti falta da nossa amizade, que mesmo repentina já era tão significativa pra mim.
- Bandeira branca pra nossa guerra?-questiono.
- Não estamos brigados. O que tá pegando?
- Hoje à noite é o jantar de Aubrey. Eu e Evan somos padrinhos dela, mas como ele não está aqui terei que ir sozinha e enfrentar meus ex- sogros sozinha.
- Jake vai estar lá? - ele pergunta aflito.
- Não. Ele não, mas os pais dele são amigos da família dela, então estarão lá.
- Que droga. Com certeza vão voltar no assunto do seu casamento.
- Sim! É nisso que estou pensando o dia todo.
- Eles não se importam de você estar com Evan? Tipo, vocês vão casar.
- Marla meio que acha que é só um surto meu. Que estou com ele mas que no fim eu e Jake vamos nos acertar. Ela acha que Evan é momentâneo.
- Ela já te viu com ele? Sabe que estão noivos e não é só algo casual?
- Não. Eu não me encontrei muito com eles depois do divórcio, na verdade esbarro com eles no supermercado, padaria.. mas é só. E agora vou precisar de ir porque é Aubrey.. e ela é quase uma irmã pra mim.
- Porque não leva Arizona? Ou sua mãe.. ou seu irmão.
- Meus irmãos odeiam a família de Jake e seria pior levá-los lá. Não daria nem um segundo pra minha irmã pular no pescoço de Marla. E minha mãe... bom, digamos que ela é a tutora da mente perturbada da minha irmã. As duas fazem cena em todos os lugares, independente de quem seja. A última vez que vi Marla e  o pai de Jake, foi no supermercado, ela comentou que ele estava indo em prostíbulos e que eu devia tentar recupera-lo antes que ele se perdesse. Arizona cresceu pra cima dela feito galo de briga, e "filha da puta" foi a coisa mais gentil que ela disse.
- Não acredito.
- Arizona tem o coração mais bondoso que eu já vi, mas isso não a faz deixar de ser a pessoa mais encrenqueira que eu já vi também.
- Ela protege você.
- Sim, como se estivéssemos na prisão e eu fosse a puta dela. - Blake começa a rir, e a loira está me encarando feio.- Tem alguém aqui que não gosta muito de mim. - ele olha pra trás para ver olhos castanhos me fuzilando.
- Ela me passou o número dela. E perguntou antes se tínhamos terminado o namoro, por isso estamos sentando separados.
- Não! - começo a rir- ela te passou o número?
- E me convidou pra sair. E não sei não Grace, talvez eu aceite. Ela é bem bonita e gentil. - ela é bonita sim, mas parece uma maluca me olhando conversar com Ethan.
- Ela está com tanto ciúmes. - Blake olha pra trás e confirma.
- Mas também, quem não se sentiria ameaçada por você? - tenho certeza de que estou vermelha. Ethan percebe que fiquei sem graça e muda de assunto.- Então você vai pro abatedouro hoje?
- Sim. Infelizmente. Calma..porque você não vai comigo?
- Eu? Aubrey sequer me conhece.
- O que? Primeiro que ela não ia ligar, segundo que ela te acha gostoso. - Ele engasga.
- O que?
- É isso que você ouviu, não me faça repetir. - digo desafiando-o. - então não tem problema.
- Então tá,Se você acha que vai ajudar.
- Vai. Vai sim. Você vai conversar comigo à noite toda e não vai dar abertura pra Marla vir encher minha cabeça de asneiras.
- Que horas eu te busco?
- Você me busca? Estamos aonde? 1970? Eu busco garotão, oito e quinze. - ele começa a rir.
- Feito.





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