Capítulo sete

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- Blake, Ethan.

Escuto passos furiosos pelo corredor seguidos de dois murros na porta.
- Pode me dizer o motivo de você estar rindo tão alto essa hora da noite? Se Ava acordar, juro que arranco seu pênis fora.
- Já terminei a conversa, pode parar com as ameaças infundáveis. - Eva entra e fecha a porta do meu quarto com um olhar desconfiado.
- Com quem você tá conversando?
- Uma amiga.
- Uma amiga? Uma amiga do tipo amiga ou uma amiga que você transa?
- Uma amiga do tipo noiva do meu amigo.
- Grace? - faço que sim com a cabeça. - que merda.
- O que?
- Nada. É meio que engraçado. Boa noite.
- Ei, o que é meio que engraçado? - Eva volta pra trás.
- Quando conheci ela, pensei em tentar juntar vocês dois. Os dois mais fodidos na vida que eu conheço, mas achei que seria me intrometer demais. Aí ela conheceu Evan algumas semanas depois.- sinto um aperto estranho enquanto a ouço falar - às vezes não era pra ser, né?
- Ela é só uma amiga Eva, tenho plena noção de quem ela é.
-Fala isso pra droga do seu pau. Boa noite. - minha irmã sai do quarto no mesmo instante em que me arrependo de ter cogitado a hipótese de Evan não ter conhecido Grace primeiro. Será que eu teria investido nela? Afasto o pensamento no mesmo instante, por que jamais faria isso com Evan. Não mesmo.


Durante toda a semana minha rotina era a mesma, buscar Grace na sua casa pela manhã, já que ela não conseguia dirigir, ir até a Catedral e deixar Grace em casa no fim do dia. Estávamos ficando ainda mais próximos, Grace era fácil de conversar, falava desde coisas banais e engraçadas até algumas lembranças ruins que ela teve durante o dia. Também tínhamos aquele silêncio confortável dentro do carro, onde não é necessário falar nada, e isso não é mais constrangedor como quando acabamos de conhecer alguém. Hoje é quinta-feira, o dia que finalmente iríamos tirar a Francesca do pé de Grace. Foi o nome carinhoso que Ava deu para a bota sem graça que ela usava durante a recuperação. De tarde busquei Ava na escola e fui com ela e Grace pra sua casa, aproveitei que ainda tínhamos duas horas até a consulta, e decidi lavar o carro na garagem dela. No dia anterior, Ava havia derramado quase um litro de iorgute no banco de trás, então, já que meu carro estava imundo por dentro e por fora também, decidi lavá-lo por completo.
- Quero banho de mangueira. - Ava declara.
- De jeito nenhum, se eu molhar você arrumada desse jeito, sua mãe me mata. - Ava estava esperando Eva chegar para buscá-la, as duas iriam no médico juntas fazer exames, já que Ava estava se queixando de dor de barriga a semana toda. Eva tem certeza de que a geniazinha do mal está dando essa desculpa para faltar às aulas, mas, para tirar o peso da consciência resolveu ir com ela até o pediatra de Ava.
- Mas eu já tô bem. Quero ficar aqui e tomar banho de mangueira.
- Sem chance princesa, precisamos ver o que tem nessa barriguinha aí.- Ava ameaça dizer algo mas desiste.
- Quer me contar algo?
- Contar oque?
- Não sei. As vezes você nem precisa ir ao médico, quer me falar sobre a dor de barriga?
- Não.
- Então tá.
- Você é um daqueles tipos de homens que não pagam dez dólares no posto de gasolina por que preferem lavar o carro na varanda de casa com o suor do próprio esforço?- Grace diz saindo da cozinha com um balde e panos secos.
- Se você tem alguém que te empresta um lugar e até a própria água, o que você tem a perder?- Grace mostra língua.
- Vou fechar o registro. - ela brinca. Grace se senta ao lado de Ava na escada e ajeita o cabelo ruivo dela atrás da orelha.- que tristeza é essa?
- Tio Blake não quer me dar banho de mangueira, e tá muuuuito quente hoje.
- Você tem coragem de molhar esse vestido lindo que sua mãe te deu?
- Sim. - ela diz sem pestanejar.
- Hoje você vai no médico, e amanhã eu mesma dou um banho de mangueira em você, tá bom? - ela acena, mas ainda parece desanimada. Grace se levanta com o balde vindo na minha direção.
- Tadinha. Fico com dó, tá insuportável de quente hoje.
- Por que você não toma banho de mangueira, Grace? - Ava diz sorridente.
- Eu não. Estou perfeitamente bem sequinha onde estou. - Grace se agacha para pegar a esponja e esfregar as rodas quando jogo um jato nas suas costas. - ela estica os braços e posso imaginar que está com a boca aberta em sinal de indignação.
- Você não fez isso. - ela fala cuspindo fogo. Ava está contente com o que vê, rindo como nunca da careta que Grace faz.
- Pode apostar que fiz sim, Hayes. - Grace balança os braços e pega o balde de água cheia de sabão, e vai mancando até mim.
- Você está igual um pirata manco. - Instigo e Ava ri ainda mais. - recuo dela andando cada vez mais pra perto da parede do fundo.
- Ainda bem que minha casa não tem quintal atrás. Você está cercado Blake, levante as mãos e encoste na parede. - seu tom de mau humor não me impede de rir ainda mais.
- Não me renderei jamais. - quando recuo até encostar na parede, Grace me da uma piscadela antes de jogar um balde cheio em cima de mim. Pego a mangueira no chão e ela começa a correr pulando.
- O seu médico vai te xingar se forçar esse pé.- ela começa a pular só em um pé.
- Não ouse jogar a mangueira em mim Blake, meu cabelo tá lim...-Grace está ensopada. E irada. Ava está dando gritinhos de comemoração quando eu alcanço Grace e termino meu ataque. Grace grita com toda a sua extensão vocal.
- Seu idiota!
- Quanta disposição, Blake, hoje à noite você lava meu carro também?- Eva diz de dentro do seu carro sorridente.- Ava, vamos? - Ava resmunga e se despede de nós.
- Amanhã, ok? - Grace lembra a ela.
Assim que o carro de Eva vira à direita, Grace desliga a mangueira e aponta pra dentro de casa.
- Vamos, preciso me secar e você precisa me levar pra tirar essa porcaria. - ela aponta pro pé com a tala e faixa molhada.- Ele vai me matar.- ela diz, se lembrando das instruções do médico quanto a manter seu pé de repouso.
- Ah, vai mesmo.
Entramos na casa e ela me joga uma toalha de rosto, se senta no sofá e começa a desenrolar a faixa molhada.
- Eu te ajudo. - me sento em frente à ela e termino o que ela começou. Grace estica os pés e se apoia no sofá. Procuro focar o a visão apenas em seu pé depois de reparar sem querer que sua blusa ensopada está deixando seus seios marcados. Droga.
- Obrigada. - ela agradece quando termino.
- Você quer tomar um banho? - ela pergunta.
- Talvez. Você vai?
- Bom, eu vou tomar, se quiser tem um banheiro no fim do corredor, vou tomar no meu quarto e você pode ir lá, acho que tem uma toalha limpa na gaveta da pia.
- Tá. - Grace levanta e eu vou atrás.
- Você tem quinze minutos, Blake, senão a gente atrasa. - Ela faz seu percurso de volta ao próprio banheiro e eu entro no banheiro social, tiro as roupas ensopadas e as coloco em cima do vaso. Assim que fecho o box e faço menção de abrir a ducha, a porta é escancarada.
- Trouxe essa porque a Aubrey usou a... ai meu Deus! Desculpa! - ela diz se virando completamente sem jeito de costas. - eu não achei que você já estivesse assim. - começo a rir ao mesmo tempo que fico tenso- quer dizer, você acabou de entrar!
- Não era só bater na porta?
- Vou colocar a toalha aqui, ok? - ela estica o braço ainda de costas e põe sobre a pia. -Você não pode estar falando sério que tirou a roupa tão rápido assim, em minha defesa todo mundo demora uns cinco minutos em média.
- Ok. Está perdoada. Vou ligar o chuveiro, se não se importa...
- Ah! Vou sair. - Grace está desajeitada como nunca. - ah, só mais uma coisa, tem umas roupas do Jake que ficaram aqui, talvez sirva em você se quiser. - enquanto ela tagarela decido pegar a toalha e enrolo na cintura enquanto ela permanece de costas pra mim.
- Ok. Tenho quase certeza que tenho alguma na minha mochila... droga, deixei dentro do carro, é uma que geralmente levo pra academia, sempre tem alguma roupa reserva lá.
- Hum. Tá. Quer que eu pegue?
- Não estou mais pelado, se quiser pode conversar de frente. - Grace se vira e seu rosto está completamente ruborizado. Ela não faz contato visual comigo, apenas diz que vai pegar e some do banheiro. Grace é uma amiga. Nos tornamos amigos. A noiva do meu amigo é minha amiga, então não precisamos ficar tensos por algo tão bobo assim, não é?

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