Capítulo doze

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- Blake, Ethan.

- Você está me devendo um café, lembrou disso? - Grace está em cima da escada corrigindo com gesso um detalhe minucioso e imperceptível na parede recém tratada, enquanto ouve Chasing Cars na sua caixinha de som.
- Você sabia, Blake? - pelo pouco tempo que conheço Grace e levando em consideração que agora ela me chama apenas pelo primeiro nome, ouvir ela falar meu segundo nome é um motivo a se preocupar.
- Sabia do que? - escuto sua risada, e percebo que temo mais pela vida com o cinismo que ela emana do que se eu estivesse frente à frente com um psicopata.
- Nós vamos ficar nessa? - ela diz ainda de costas.
- Não. - decido entregar os pontos.- Ele me disse ontem e apesar de alertar  que você provavelmente iria arrancar o pênis dele com alicate, falei que seria pior não contar. - Grace desce as escadas e desliga a música, caminhando até mim com seus um metro e sessenta de pura segurança.
- Ele não me contou. Eu li.
- Hum. E então?
- Você acha mesmo que ele está sendo sincero? - sua muralha forte está se dissolvendo e deixando uma Grace genuinamente chateada à mostra.- sei que ele é seu amigo, sei mesmo, e sei que você provavelmente iria protegê-lo até a morte, mas por favor, não deixa ele mentir pra mim, Ethan. Eu não suporto mentiras. -Grace ergue os olhos mantendo contato comigo por um longo período de tempo e é isso. Acho que ali acabou pra mim, se eu tinha alguma dúvida sobre o quanto Grace me afetava, não tenho mais. Eu queria envolver a Grace vulnerável em mim. Queria dizer que talvez, mas só talvez eu quisesse ser Evan por que eu nunca vacilaria com uma mulher como ela, nunca. Eu queria a Grace vulnerável e a Grace completamente segura de si pra mim também. E droga, eu me odeio por assumir isso.
- Tenho certeza que ele foi sincero com você, Grace. E quanto ao quesito mentir, jamais deixaria ele fazer isso com você. - e então Grace me abraça. Grace está me agradecendo por dar a ela um sinal de confiança e eu me sinto um lixo por estar desejando tanto a noiva do meu melhor amigo.




- Porque "Ethan"? - Grace diz no espaço entre morder um bife grelhado e tomar um gole de água com gás. Passamos a manhã toda conversando sobre qualquer coisa que não fosse a noite no restaurante. Se ela quer fingir que aquilo foi normal, posso fingir também. Não quero colocar o elefante em cima da mesa na conversa, talvez aquilo tenha sido só um devaneio e ela já está em si novamente. Sigo tentando não estragar nossa amizade, e tenho certeza de que não ficaríamos bem um com o outro novamente se chegássemos no assunto de quão estranho foi aquilo na noite do meu aniversário. Se Grace vai ignorar tudo isso e manter nossa amizade de sempre, quem sou eu para interrompê-la?
- Que tipo de pergunta é essa?
- Porque você se chama Ethan?
- Nós estamos mesmo sem assunto pra você criar esse do nada, heim? - ela ri.- Não sei. Por que "Grace"?
- Fácil. Minha mãe se tornou muito católica durante a minha gestação, ela disse que ouvia Amazing Grace todos os dias e eu sempre me mexia.
- Então você já era prepotente desde a barriga? Incrível.
- Parece que sim. Ela disse que nunca foi muito ligada em religião, mas que começou a ter fé quando achou que não ia conseguir me ter. Ela disse que a placenta estava descolando e além de ter de ficar de repouso, ela teve alguns sangramentos no decorrer da gravidez. Ela disse que achou no mínimo uma seis vezes que tinha me perdido, e aí quando eu nasci ela disse que meu nome tinha que ser esse. Que eu era uma Graça concedida a ela. Legal não é? Bem melhor que Ethan. - ela diz jogando sua azeitona preta no meu prato.
- Não vou comer suas azeitonas se você continuar ofendendo meu nome.
- Ofendendo? Longe de mim.
- Pra sua informação, Ethan é o nome do meu avô. Ele morreu antes que eu nascesse, não o conheci. - Grace para o garfo na metade e fica pálida.
- Nossa... eu não.. não sabia disso. - começo a rir descontroladamente.
- Você acreditou nesse papinho?Lamentável Grace. Minha mãe gostava de um ator com esse nome, engravidou e fim. Essa é a grande história do meu nome.
- Não acredito que você veio com essa pra cima de mim. Inventar que seu avô morreu? Que feio.
- Ele não morreu, mas poderia. É um filho da mãe.
- O meu pai também era um filho da mãe, mas acredite: a gente sofre mesmo assim.
Grace coloca mais três azeitonas no meu prato, e vejo Phoebe encarar Grace de canto de olho. A garçonete já tinha deixado claro suas intenções e o jeito que fuzilava Grace enquanto ela conversava comigo, deixava claro o quanto ela gostaria que Grace desaparecesse da minha mesa.
- [...] aí ela me deixou no trabalho, mas só vai me devolver o carro amanhã de manhã. -Grace estava contanto que Arizona pegou o carro dela pra sair com o ficante já que seu carro foi rebocado, enquanto Phoebe pegava as latinhas na mesa ao lado fingindo que não estava ouvindo nossa conversa.- vou voltar de metrô, então vou sair um pouco mais cedo, ok?
- Eu te levo, que bobagem.
- Não precisa, Ethan, você já me deu muitas caronas. - havia algo no seu tom que me dizia que ela realmente preferia ir de metrô.
- Moro perto da sua casa, não há problema algum ok? Eu levo você. - ela reluta mas depois aceita. Não precisa de muito tempo para voltar a tagarelar até que Phoebe paira ao nosso lado.
- E então? Você vai poder vir essa noite? - Phoebe diz, interrompendo Grace, que para de falar sobre como o namorado de Arizona é um drogado para olhar para Phoebe. Phoebe era bonita, de um jeito comum, tinha o cabelo loiro curto e sardas no rosto, tinha os olhos pequenos e escuros, e era praticamente do tamanho de Grace. Phoebe está fingindo não estar vendo Grace do seu lado e espera ansiosa a minha resposta. Ela havia me convidado na semana passada para assistir uma peça de teatro que a sua amiga estreiaria hoje, pelo que me lembro da nossa breve conversa,  Phoebe faz cinema e tem vinte e quatro anos.
- Ah, sim. Tinha me esquecido, mas estou livre essa noite.
- Ótimo. Você me pega as oito? Esse é meu endereço. - ela me entrega um papel rasgado de algum bloco de notas e leva meu prato e o de Grace embora. Quando ela some cozinha a fora, reparo que Grace está rindo.
- O que foi?
- Nada. Só achei engraçado.
- O que?
- Ela praticamente disse " será que posso ser seu jantar essa noite?"
- Só vamos sair, nem é um encontro. Vai ter varias pessoas lá.
- Dez dólares  que ela vai passar a mão na sua calça no meio da peça.
- Grace.
- Mentira, aposto vinte dólares. Ela vai fazer um boquete antes do ato final.
- Ok, acho melhor você parar de narrar um pornô amador porque tem um senhor com a esposa aqui do lado olhando pra nossa mesa, como se estivesse prestes a jogar água benta em você.
- Você vai perder dinheiro gracinha. É bom se lembrar disso.
Pagamos o almoço e voltamos para a Catedral. Às seis, deixei Grace em frente à sua casa e ela já tinha dobrado a aposta.
- Você tá mesmo afim dela? - Grace pergunta antes de descer.
- Não sei. Vou ver no que dá- a verdade é que eu queria fazer aquilo que Eva me instruiu, tirar Grace da minha cabeça e não estragar a amizade que nós dois temos.- pode dar certo, não é?
- Não sei. Phoebe não é muito seu tipo. - ela diz mordendo a própria bochecha.
- Ah, e você conhece muito meu tipo? Desde que você me conheceu não tenho saído com ninguém. - Além de você.
- Não, mas eu sou obrigada a te aguentar o dia todo e dá pra saber qual é seu tipo.
- Agora estou curioso, Qual é meu tipo, Grace? - ela fecha a porta do carro e deixa a bolsa no chão.
- Você parece gostar de pessoas difíceis de entender de primeira, Phoebe não é assim. Dá pra saber o que ela pensa só de olhar pra ela. E... acho que você gosta de um pouco de algo diferente.Ela é tão comum. Não parece ter nada de maluco, empolgante ou intrigante, todos  precisam de alguém que abale o seu mundo, entende? Não só mais do mesmo. É o que eu acho.
- Também gosto de meninas como ela, doces e determinadas. - Grace se ajeita no banco.
- Hum, tanto faz. Bom encontro pra você. - Grace desce do carro sem rodeios.
- Boa noite, Grace. - não sei se ela ouviu, mas ela não responde.

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