Capítulo cinco

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- Blake, Ethan.

O primeiro domingo do mês é um pesadelo. Não pra mim, mas para Eva. Meus pais vem nos visitar de Michigan, mas essa visita poderia muito bem ser nomeada de " inspeção à vida de Eva" meus pais começaram a tratar isso como uma experiência de laboratório depois que minha irmã saiu da faculdade e teve Ava. Tenho certeza de que se eles não fossem católicos, teriam incentivado Eva a abortar, já que ela era uma das alunas em destaque em Direito.Durante a gravidez, meus pais deram todo apoio financeiro que ela precisou, mas vi minha irmã perder a noção das coisas básicas de perto. Eva parecia ter de fato perdido o rumo, como se estivesse num transe eterno desde que vimos juntos no banheiro do meu apartamento três exames com dois pontinhos em todos. Na época ela ainda não morava comigo, mas eu tornei minhas visitas ainda mais frequentes, ela tinha alugado um loft depois que o imbecil deixou ela, e meus pais pagavam por tudo. Eva teve algumas complicações na gestação e não conseguiu se esforçar nem trabalhar por quase todo o final da gestação, então conseguiu um emprego de garçonete depois que Ava nasceu por meio horário e foi assim até ela conhecer o então segundo namorado, que por sinal achei que seria o cara certo na vida dela. Não foi. Eva tem sido seu próprio norte desde então, e ela surpreendentemente tem feito isso bem, porém sua pose durona se dissolve em algo frágil e vulnerável quando minha mãe nos visita e evidentemente pontua o que ela acha ser errado e certo na criação de Ava ou nas escolhas em de Eva em geral, e é por isso que minha irmã está correndo pra um lado e pro outro tentando deixar a casa o mais arrumada possível.
- Ava Blake! Onde você está que ainda não está aqui com seu vestido no corpo?! - minha irmã olha o relógio de parede que marca exatamente meio dia e meio. Minha mãe é conhecida por sua pontualidade, mas graças a Deus meu pai é conhecido por atrasá-la.
- Eles devem chegar uma hora Ev, fica calma. - ela continua passando da cozinha pra copa com as comidas prontas que compramos no Walmart para fingir que cozinhamos algo. Até colocou na panela, incrível. Quando a mesa finalmente está posta, ela decide dar um jeito no cabelo. A intercepto no meio do caminho e seguro seu rosto.
- Ela não é o bicho papão, sabia? - Eva ri e finalmente a reconheço pela primeira vez naquele domingo.
- Você está calmo porque não é o filho que engravidou na adolescência e não terminou a faculdade.
- Mas sou o filho que não se casou nem deu netos ainda, estamos quase em pé de igualdade.- ela mostra língua.
- Você sabe que não é a mesma coisa.
- E se não for? Estou com você mesmo se eles não estiverem, você sabe.
- Eu sei. - a campainha toca. - droga. Papai não se atrasou hoje?
- Inacreditável.
- Vou abrir, vá ver se Ava já vestiu o vestido amarelo que mamãe deu a ela.
- Ok. - quando chego no quarto Ava está com o vestido mas também está com Odin no colo.
- Você sabe que sua avó detesta gatos, vamos deixar o sr. Pelado aqui?
- A vovó chegou?
- Sim. - ela deixa delicadamente o gato em cima da cama e ele se espreguiça.
- Você deixou essa gato a coisa mais mimada do mundo, sabia?
- O sr pelado é bonzinho.
- Só com você. - fecho a porta e vou até o abatedouro.
A tosse do meu pai é o único ruído na mesa de almoço além dos talheres, Ava já rezou e agora está brincando com a alface.
- Qual o motivo do cabelo curto?- minha mãe finalmente diz o que estava entalado na sua garganta. Ela estava encarando o cabelo de Ava desde que chegou.
- Problemas na escola. Nada demais. - minha irmã pigarreia, enfiando a almôndega na boca com muito mais força que o necessário.
- Alguém colocou chicletes? - ela insiste.
- Não vovó, o Tobby cortou meu cabelo aí eu bati nele. - os olhos da minha mãe quase saem das órbitas.
- O que sua avó já te disse sobre violência? Violência só gera violência Avalon. - minha irmã está quase tendo um AVC. Pisco pra ela em sinal de " relaxa" tá tudo bem.
- E você, Eva? Continua de garçonete naquele bar? - respire. É o que eu gostaria de dizer à minha irmã.
- Na verdade mãe, não é um bar. É um restaurante que serve café da manhã e lanches a tarde. Não é bar.
- E sorvete! - Ava diz contente.
- E Ava? Como está na escola?
- Bom, está tirando altas notas no segundo período e boatos que está quase na faculdade, será a primeira garota de seis anos a entrar na faculdade. - digo, e Eva quase me fuzila.
- Está bem mãe. Tirando o incidente do cabelo, Ava está bem.
- Você quer que eu veja com meus amigos se eles conseguem um emprego pra você?
- Já estou trabalhando mãe.
- Bem,-minha mãe ri- não é bem um emprego. Visto que você ainda está morando com o seu irmão.
- Mãe. - a repreendo.
- Não. Ela está certa. Tenho que parar de ser um peso. Mas já estou me ajeitando. Vou voltar pra faculdade e tentar concluir o curso dessa vez.
- E quem vai pagar? Seu irmão?
- Sim, vou mãe. - intervenho -Você vê algum problema nisso?
- Amélia. - meu pai decide participar -não viemos aqui para isso. - ele a censura. - viemos ver os três e é só. - minha mãe não suportava que a corrigissem na frente dos outros, mas detestava ainda mais fazer uma cena na frente dos outros. Ela engole em seco e acena.
- Sim. É Blake que vai pagar, por que ele quer me ajudar. Não pedi a ele mãe, e se não está saindo do seu bolso, por que você se importa?
- Por que seu irmão não tem que te bancar a vida toda. - Eva está prestes a desabar.
- Mãe. - digo severamente. - esse assunto está encerrado. Eva está comunicando a você o que irá fazer, quem vai bancar por isso não importa. Fique feliz por ela e só. - minha mãe novamente engole a seco, pega os talheres e diz baixinho.
- Muito bom, Eva. Fico feliz.
O resto do almoço é um desastre, para não dizer mais. Minha mãe continua jogando mensagens com duplo sentindo para Eva, e o auge da nossa tarde ainda estava por vir, quando Ava disse " merda". Minha mãe deu um sermão extenso sobre o exemplo que Eva está dando e Eva escutou tudo sem surtar. Não sei como minha irmã era tão durona e ao mesmo tempo aceitava ouvir cada absurdo da minha mãe. Quando eles foram embora, Eva fechou a porta se apoiando nela, e assim que Ava sumiu corredor a fora, ela desabou. Chorou como um bebê e eu a abracei.
- Por que deixa ela te afetar tanto assim, Ev?
- Por que ela tem razão. Sou um peso pra você, eu e Ava não somos obrigação sua.
- Eu sei. Mas faço o que faço porque quero, você não devia deixar que o que ela fala surta efeito em você, ignore, Eva. Você sempre é tão boa em mandar toda opinião alheia pra merda, por que com ela você leva tão a sério?
- Por que é minha mãe. Se a pessoa que devia acreditar em mim,pensa que sou uma derrota ambulante, então devo ser a droga de uma derrota ambulante.
- Você não é. É uma das pessoas mais fortes que eu conheço, ouviu?
- Não. Não ouvi. - ela diz voltando ao seu humor natural.
- Você é forte, Eva.
- Obrigada. - ela limpa as lágrimas e me abraça de volta.- a louça é sua.

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