Capítulo vinte e dois

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- Blake, Ethan.

Phoebe me fuzila enquanto caminho da porta de Grace até a picape estacionada do outro lado da rua.
- Entregar um convite necessita mesmo de tanto tempo assim? - ela parecia estar se controlando enquanto falava, porque seus braços cruzados sob o peito indicavam que ela estava muito mais nervosa do que demonstrava.
- Grace só estava me perguntando sobre Ava e a que horas deveria levá-la na escola, só isso. - minto, porque não quero que ela ache que estou interessado em Grace só porque me preocupo com o fato de ter visto ninguém mais ninguém menos que Jake, saindo da sua casa.
- Ela já foi mãe, não foi? Será que ela não sabe que as escolas abrem às uma?
- Já tivemos essa conversa antes, não foi? Você não precisa ter ciúmes dela, Phoebe. Ela é só uma amiga da minha irmã e Ava adora ela, não passa disso. - talvez eu tenha repetido isso algumas vezes na minha cabeça, pra que eu acredite nisso também.
- Ok. Se você diz. Do que nós vamos nos  fantasiar no aniversário?
- Nós? -Pergunto rindo.
- Somos um casal não somos? Pensei que iríamos combinando. Tipo... Polícia e ladrão, Bonnie e Clyde, chapeuzinho vermelho e o..
- Eu seria o lobo mau?
- Não, o caçador.
- Mas eles nem são um par nesse conto.
- A chapeuzinho não é par de ninguém, mas eu adoraria ver você de caçador. - ela passa a mão pelo meu pescoço, acariciando um ponto fixo enquanto explica porque é uma boa eu me vestir de caçador. Quando a deixo na porta do trabalho, ela parece não estar mais estressada com minha conversa com Grace no portão minutos atrás.
- Vamos fazer assim, você escolhe a fantasia e só me comunica. Vou deixar você realizar seu sonho de ir combinando, ok?
- Ótimo. - ela parecia tão contente quanto Ava escolhendo o tema da festa. - hoje à noite a Carrie vai pra casa do namorado. Quer dormir lá em casa? - não sei Phoebe. Tenho quase trinta e estou agindo como um adolescente medroso fugindo de Phoebe, e tudo isso porquê? Gosto de Phoebe, gosto bastante, nosso sexo é bom, mas algo em mim não parece bem, porque antes de Grace voltar, as coisas entre eu e Phoebe estavam fluindo. Desde a sua volta, me recuso a pensar no quanto sua presença ainda mexe de alguma forma comigo, mas é constante, e só me dei conta disso quando vi Jake saindo da casa dela. A princípio tive medo que ele tivesse feito algo, mas quando Grace apareceu com o semblante normal e tranquilo, vi que ao menos,  conflitante aquele encontro não tinha sido. Então porque ele estava lá? Meu sangue ferveu ao vê-lo sair de lá e talvez esse seja o motivo de eu não estar pensando em fazer sexo com minha namorada, o que é meio preocupante. Sei que minha atitude já estava beirando o ridículo. Phoebe era incrível e eu gostava dela, talvez as coisas fluiriam perfeitamente e até durariam muito tempo, podendo até virar algo mais sério se Grace tivesse continuado na sua vida em Londres. Sinto que posso criar novas possibilidades de futuro, quando ela está longe. Quando ela está perto, é como antes: só vejo sua figura bonita pairando na minha frente.
- Claro. Vou passar em casa depois da reunião pra tomar um banho e vou direto pra sua casa. - ela abre a porta do carro em frente ao restaurante e me dá um beijo antes de descer.
- Vejo você mais tarde, baby.

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Decido passar no Seafood e comprar algo para levar pra casa dela, já que provavelmente nem Phoebe nem eu iríamos querer cozinhar depois de um dia cansativo como esse. Assim que guardo os dois pacotes de comida no carro, meu celular toca.
- Só parei pra comprar comida e já estou indo.
- Porque mamãe inventou de última hora que irá ter mágicos no aniversário? - Eva parecia furiosa.
- Vai ter mágicos também?
- Sim! Será que é mesmo necessário ter palhaços, bailarinas e mágicos?! - minha função na terra era e sempre será colocar panos quentes na relação da minha mãe com minha irmã. Elas são exatamente iguais em questão de temperamento e acho que era por isso que sempre brigaram por qualquer coisa, desde a educação de Ava até o porquê de Eva colocar salsa no macarrão de domingo, e por aí vai.
- Você sabe como ela é, quer sempre fazer algo que chame a atenção, não liga pra isso. Além do que, tenho certeza que Ava não vai achar ruim.
- Eu sei que não! Mas você sabe que detesto que mamãe faça isso. Primeiro porque ela adora se gabar de todas as festas que já pagou.
- Porque ela quis. Que fique claro que você não deve nada a ela por isso ou algo do tipo, ela quem insiste em fazer isso todo ano.
- Sim! Mas aí, Ava vai se acostumar com esse luxo todo e se um dia ela não quiser mais fazer isso, eu não tenho um milhão na conta pra fazer uma festa nesse estilo nos próximos anos. Não tenho como! E aí lá vamos nós do luxo ao lixo.
- Eva. Respira. Onde você está?
- Saindo de uma monitoria. Hoje não trabalho, vou só buscar Ava na Grace e voltar pra casa.
- Quer que eu compre algo para você comer até esquecer todo esse estresse?
- Lindt seria uma boa.
- Ok, então vou comprar Lindt. Você precisa se acalmar, já falei que não adianta surtar com ela, então, acostume-se.
- Ótimo conselho, agora estou beeeem melhor. Aliás, porque mamãe disse que você fará uma apresentação?
- Porque é verdade. - ela dá gritinhos.
- Você vai tocar piano pra ela? Não acredito. Ela vai adorar, Ethan.
- É uma surpresa. Ava estava assistindo esses dias Keeping up with the Kardashians e viu um aniversário em que tinha um pianista tocando no fundo e ela ficou encantada.
- Keeping up with the Kardashians? Eu devia ser denunciada pro conselho tutelar. - ela ri- enfim, continue.
- Eu disse que sabia tocar e ela ficou supresa. Ela não se lembra que eu tocava pra ela dormir quando ela era menor?
- Acho que não. Ela era muito pequena e faz tempos que você não encosta naquele piano.
- Tavez seja porque ele foi um presente da Georgia? Não me simpatizo muito com ele mais.
- Compre outro! Você já tocava muito antes de ter quase se casado com a lésbica.
- Bi. Ela é bi Eva, pelo amor de Deus.
- Que seja. Sinto falta de te ouvir tocar, sabia? Adoro sua voz irmãozinho. O que vai ser?
- É supresa.
- O que? Você é ridículo, mas obrigada por fazer isso. Ela vai adorar, e eu também. Tenho que desligar, aquela sua vizinha velha e chata está parada em frente nosso prédio segurando o Odin.
- Droga. Ele deve ter entrado na casa dela de novo.
- Me deseje sorte. - Eva diz segurando o riso. - te vejo daqui a pouco, isto é, se ela não tiver me cozinhado no caldeirão antes.

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