Oblívio - A Escolhida

19 - Doloroso

Regressar aquele lugar era o meu pior pesadelo no entanto aqui estou com Alex no jato, dizer que o ambiente está pesado é eufemismo, assim que aterramos ele foge de mim, não me enfrenta com o olhar, descemos do jato e o ar está glaciar, estamos na Rússia e o vento sopra gelado. Um grupo de soldados chega perto de nós, como cães que esperam o dono regressar a casa...

- Levem-na para um treino de cinco sem lhe tocarem acima do pescoço.

- Alex?

- General Shanon, aqui sou general!

Com um feição dura e fria ele faz sinal a um dos soldados que agarra no meu braço, não tento fugir fico a penas a ve-lo afastar enquanto eu sigo para o lado oposto, entramos num celeiro escuro com um cheiro intenso a óleo, era esta uma das minhas primeiras memórias com o treino de Taylor e Brandon. Era um espaço enorme, os cinco homens formam um círculo à minha volta, existem dois outros que ficam afastados a olhar. O primeiro vem na minha direção e lutamos até ele cair, depois veem dois de uma só vez, não estava a gostar da ideia de ainda ter outros três para derrotar, eles eram duros e estavam habituados a lutar e eu nem tanto, estava a ficar cansada, sinto um pontapé nas minhas costelas e caio no chão. Não tenho tempo de me levantar e já tinha outros dois soldados em cima de mim, a minha cabeça começa a doer e eles não percebem o que se passa comigo então simplesmente continuam a bater em mim, flashes de lutas anteriores veem à minha mente, eu lutei aqui muitas vezes, treinei até não aguentar mais, desta vez não é só a cabeça mas todo o meu corpo doi, um dos homens grita algo em russo e eu fecho os olhos sem conseguir respirar em condições.

Quando acordo percebo que estou numa enfermaria ou talvez uma clínica, tenho soro injetado num braço e algumas ventosas no peito, a minha boca está seca, arranco as ventosas para poder estender e chegar à garrafa de água. O aparelho apita e Lilian entra no quarto a correr...

- Shannon finalmente.

- Lilian o que fazes aqui? - Bebo um pouco de água e volto a deitar-me.

- Venho ver-te toda a as horas, como te sentes?

- As dores fisicas não são nada comparado com a humilhação. - Deito -me de lado e olho para a parede, estava irritada comigo mesma, como fui idiota, devia ter fugido naquela ilha.

- Eles sabem que estiveste sete anos sem treinar...

- Não é deles que falo, confiei em Alexander e mais uma vez fui traída.

- Ele fez o que tinha de ser feito para te proteger. - Olho para ela sem acreditar no que diz, Lilian é uma mulher doce e está cega de amor.

- Como é que consegues defende-lo? Quer dizer eu sei que o amas mas...

- Que o amo? - Ela acha que conseguirá esconder os seus sentimentos de outra mulher?

- Eu vi o teu olhar Lilian e não te julgo mas eu odeio-o, quero que morra.

- Isso será um enorme problema porque vocês vão casar.

Volto a sentar-me com algum esforço e levo a mão às costelas com dores, ela corre para me ajudar...

- Lilian tu estás doida? - Faço uma careta de dor e ela ajeita as minhas almofadas.

- É verdade Shannon, daqui a dois meses vocês casam, está tudo tratado com Zorkin.

- Eu não vou casar, eu vou mas é matar os dois e voltar para casa.

- Olha Shannon lembra-te do que te vou dizer sempre que não entenderes alguma coisa, nem tudo o que parece, é! - Ele parece estar tão segura do que diz e eu pelo contrário não tenho mais ninguém em quem confiar.

- Isso significa o quê?

- Olha o que te vou dizer pode custar a minha vida e a de Alex mas mesmo assim eu vou contar-te porque sei que não vais trair-me. - Ele chega perto do meu ouvido - Eu sou irmã de Alex, finjo não o conhecer porque não é permitido um soldado ter família, mas estar aqui é a única forma de estar perto dele.

- Oh!

- Ele é um bom homem, se te prometeu algo então irá cumprir.

- Lamento Lilian é tarde demais.

- É uma pena.

Ela sai e eu fico ali sozinha cada vez mais longe de sair dali. Depois de dois dias tive alta, fui instalada num quarto ao lado do de Lilian é tive uma semana livre de treinos forçados, mesmo assim eu saia para correr todas as manhãs, o campo de treinos era enorme, parecia não ter fim, todos olhavam para mim de lado e nem sinal de Alex ou do chefe. Quando saio da cantina depois do jantar e entro no quarto tenho uma pasta em cima da cama, nela continha os horários dos meus próximos treinos, plantas do campo, missões futuras, uma loucura. Na manhã seguinte a caminho do ginásio eu revejo na minha cabeça o que iria dizer a Alex, estava disposta fazer com que ouvisse. Vou direta ao balneário das mulheres que era minúsculo, abro o meu cacifo pego na roupa e troco-me, vou até ao saco de boxe e começo a treinar mesmo que Alex não esteja por perto, o espaço era enorme, um pavilhão com centenas de metros quadrados e vários grupos faziam treinos em separado...

- Soldada! - Um homem com cerca de cinquenta anos chama por mim.

- Sim Sr.

- Sou o General Zork, estaremos juntos nos próximos dois meses, sou o seu novo treinador e não aceito menos do que excelência da sua parte.

- Claro Sr.

Durante as duas semanas seguintes eu treinava das seis da manhã às oito da noite, depois tomava um duche, por vezes jantava mas alguns dias eram tão cansativos que adormecia de imediato, acabava por ser castigada por não me alimentar e isso era irritante, treinava ainda mais como punição. Lilian diz que Alex não se pode aproximar de mim até a cerimônia, sorte a dele que terei de adiar a sua morte. Pior ainda é que ele treinava outros soldados e por vezes cruzava-mo-nos mas eu fingia não o ver.