Dulce contou até dez ao subir os quatro degraus que davam acesso para aquele café no bairro Colonia Roma. Ela gostava de passear por aquelas ruas mesmo antes do frisson causado pelo longa-metragem gravado por Cuarón, já que sua visão artística apurada em conjunto com seu senso crítico a respeito de questões sociais era um tanto semelhante ao que foi retratado no filme. Essa era mais uma das vezes em que ela gostaria de sentar-se no meio-fio e pensar sobre o que a cercava, mas ela só conseguia pensar em que o encontraria naquele lugar.
Não sabia ao certo se estava ali para se redimir de algo em que ela até o momento não conseguia compreender direito – se é que deveria se redimir – ou se estava ali para tratar das questões profissionais em que havia o envolvido, mas a verdade é que suas mãos estavam mais trêmulas e suadas do que de costume.
Percorreu o olhar no extenso balcão de concreto que pegava toda a lateral da parte interna do café e as banquetas dispostas estavam praticamente vazias por causa do horário, mas ele estava em uma delas e foi automático sentir o coração acelerar ao reparar que nos pés ele calçava o maldito New Balance verde. Poderia agradecer aos céus por ter uma visão que a permitia enxergar perfeitamente a longa distância, mas poderia amaldiçoar até a quinta geração da família proprietária daquela marca famosa de tênis.
Não estava de salto alto, mas seu oxford friccionava em contato com o piso de madeira e ele ao escutar e sentir a presença dela se virou e sorriu ao vê-la tão tímida.
– Oi.
Levantou-se para cumprimenta-la e percebeu que em todas as vezes em que ele a havia encontrado duas coisas chamavam atenção: o sorriso e o perfume.
Puxou a banqueta para mais próximo da dela e a viu sentar-se, mais calada do que de costume enquanto mexia freneticamente em uma mecha de cabelos que caia pelo seu ombro direito.
– Esse café é muito longe para você? – Christopher perguntou tentando descontrair um pouco, ele percebeu como ela estava nervosa.
– Não, vim rápido até... – Dulce respondeu sorrindo e cruzando as mãos em cima do balcão. – Eu adoro esse bairro.
– Alfonso... – Christopher afirmou e foi surpreendido por ela que também falava ao mesmo tempo que ele, sendo impossível não sorrirem. – Cuarón, claro. Acho que somos muito fãs de Netflix. – Completou rindo.
– Na verdade eu ia falar que gostava bem antes dele, mas é inegável que ele contribuiu ainda mais para isso. – Falou sorrindo. – E sim, somos fãs de Netflix e não temos vida social também. – Riu brevemente.
Christopher riu contagiado e após perceber que o silêncio constrangedor ia prevalecer, adiantou-se para pegar a caixa branca que estava em cima do balcão e empurrou-a na frente dela.
– Aí dentro tem um HD externo com todas as fotos que tirei, desde as versões brutas de fotografia até as que eu manipulei coloração e brilho conforme tínhamos escolhido anteriormente. Eu deixei tudo nos tamanhos usuais da publicação. Também tem as versões físicas das que eu achei mais interessante, imprimi mais do que você já tinha visto. – Ele falou sem dar pausa, já que ela apenas assentia com a cabeça.
– Obrigada, Chris. – Respondeu pegando a caixa nas mãos. – Você precisa me passar o número da sua conta bancária, eu preciso te pagar.
– Eu te mando por mensagem, acabei esquecendo de mandar antes.
Dulce assentiu respirando fundo e colocando a caixa de volta no balcão. Estava adiando falar tudo que ela havia ensaiado mentalmente no caminho porque não conseguia segurar o constrangimento de estar na frente dele depois do beijo. Falar sobre Roma, fotos ou qualquer outro assunto era confortável para sua timidez, mas enlouquecedor para sua consciência.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Cinco passos para conquistá-la [Vondy]
RomanceSegundo Steve Jobs... melhor dizendo, segundo Maite Perroni sempre devemos racionalizar e organizar as nossas ideias em cinco passos. Ideias ou vingança, aí fica a seu critério. Só não se esqueça que você pode entrar em uma zona de perigo, se apaix...