"E um homem não me define. Minha casa não me define. Minha carne não me define. Eu sou o meu próprio lar." Francisco, el hombre.
Samantha a abraçou no mesmo instante em que escutou essas palavras. Ela desconfiava, desde sempre, em pequenas atitudes ou trejeitos de Dulce ao longo dos anos, mas não tinha certeza de nada. Às vezes até pensava que era pura implicância pela infidelidade que via, apesar de saber que isso não necessariamente configuraria num relacionamento abusivo, mas era em todo o resto e em sua intuição. A manipulação era óbvia, mas subjetiva. Estava nas entrelinhas e só as palavras de Dulce poderiam dar a confirmação disso tudo ou testemunhar algo que ela nunca conseguiu, porque Pablo era perspicaz.
Mas como um relacionamento abusivo não se limita apenas à vítima, ela também se sentia culpada e extremamente negligente. É natural esse processo de culpabilidade para cima de mulheres em uma sociedade patriarcal.
– Ele destruiu a m-minha vida.
E era ainda mais triste escutar isso da boca dela bem em um momento de luto, queria que fosse apenas implicância mesmo.
Dulce se soltou dos dois e sentou-se na cama, as lágrimas não paravam de escorrer por suas bochechas, mas a agonia anterior começava a se dissipar. Teria que ser corajosa mais do que nunca e por mais que isso parecesse assustador, era também um grande alívio.
– Se não quise... – Christopher tentou intervir vendo o estado dela.
– Eu preciso.
Ele assentiu sentando-se a seu lado, enquanto Samantha se ajoelhou em sua frente e segurou em seu rosto com as duas mãos.
– Fala tudo. – Estava com a voz embargada, mas teria que segurar todo a emoção para demonstrar segurança para ela.
– Não faz muito tempo que eu me d-dei conta disso, mas acontece desde o começo.
– O que ele já fez com você?
– Tudo, e-eu acho... – Dulce sussurrou sentindo a mão de Christopher passar por suas costas, era confortador. – Se você quer saber sobre agressão física, já teve há muitos anos algo mais sério e eu fui manipulada ao o-ponto de achar que a culpa era minha. – Continuou voltando a chorar. – Foi uma vez só, mas durante todos esses anos ele descobriu maneiras mais amenas de me deixar marcada, seja apertando os meus braços, segurando com força o meu cabelo ou no se... – Não conseguiu completar a frase, pois ainda tinha que lutar contra o constrangimento do que Pablo a fez passar durante todos aqueles anos.
– Por isso...?
– Eu vivo r-roxa? Sim... – Dulce a interrompeu dando um sorriso fraco. – Não é problema de sangue, como justifiquei uma vez para você. Me desculpa por não ter sido sincera, e-eu não poderia. – Passou a mão pelo rosto, estava aos soluços, mas tentava gaguejar o mínimo possível.
– Não é você que me deve desculpas. – Samantha se compadeceu, tocando-a no rosto. – Eu que deveria ter sido menos negligente e eu nunca vou me perdoar por isso. – Lamentou sentindo-a tocar em seu rosto, impedindo que uma lágrima escorresse por seu rosto.
– A culpa não é de vocês duas, o culpado nisso tudo é o Pablo e... é minha culpa também, eu sou homem e deveria ter interferido desde o começo. Ele é muito valente enfrentando mulheres, mas com homens não. – Christopher murmurou angustiado.
– Não tinha como você saber, e-eu nunca falei para ninguém.
– Mas você não foi a única, ele abusou psicologicamente da Anahi e da Maite também.
– Você interferiu quando percebeu que a coisa era muito mais grave e, mesmo que tenha provocado uma briga entre todos nós, f-foi quando eu me dei conta de tudo. Eu já estava no processo, na verdade, mas isso só acelerou ainda mais e eu agradeço a Maite por ter sido mais corajosa do que eu. Ela me ajudou muito, mesmo que indiretamente. – Dulce sussurrou respirando fundo.
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Cinco passos para conquistá-la [Vondy]
RomanceSegundo Steve Jobs... melhor dizendo, segundo Maite Perroni sempre devemos racionalizar e organizar as nossas ideias em cinco passos. Ideias ou vingança, aí fica a seu critério. Só não se esqueça que você pode entrar em uma zona de perigo, se apaix...