Capítulo 62 - Incondicional

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"Unconditional, unconditionally. I will love you unconditionally. There is no fear now let go and just be free... I will love you unconditionally." Katy P.

Dulce entrou no closet sempre arrumado de forma impecável, tão espaçoso e frio quanto qualquer ambiente daquela casa. Ela cuidava melhor das coisas físicas do que de sua própria saúde mental, isso era um fato, mas agora seria tudo diferente.

Ao seu lado estava aquele único ser que em grande parte do tempo foi o seu resquício de sanidade. Na verdade, em todos os segundos desde que ela teve a feliz ideia de adotá-lo de uma vizinha de sua mãe que não poderia manter a ninhada de sua labradora caramelo. Era impressionante um cachorro daquela raça ser doado, ainda mais por ser o único no tom chocolate e na hora pensou que tinha tirado a sorte grande, mas a personalidade e seu companheirismo é que a fazia ser sortuda. Ele estava ali ainda, era o último... o que havia lhe restado.

As malas enfileiradas foram as primeiras coisas que ela observou no canto dedicado a bolsas e não pensou duas vezes ao pegar duas ou três e sem o menor cuidado jogou as primeiras roupas que viu em sua frente. Não precisava dobrar, enrolar, ajeitar de forma impecável e nem nada do tipo. Estava exausta de ser essa pessoa cuidadosa, ela só queria sair dali, não importava se naquele momento ou no dia seguinte. Ela sairia dali e ninguém a impediria.

O nó na garganta se mantinha, mas as lágrimas já tinham ido embora. Elas ficaram há algumas horas atrás, quando ela se desprendeu da relação mais incondicional que já tinha vivido. A única até aquele momento. E só viveria outra, caso tivesse a oportunidade de ser mãe, gerando ou adotando, não importava. Sorriu fracamente olhando para o lado, Tyson estava muito cabisbaixo, como se adivinhando que aquele era um momento de luto, mas permanecia ao seu lado. Talvez ele fosse a sua relação incondicional naquele instante.

Dulce saiu correndo com o carro pelas ruas da cidade, por sorte era madrugada e a chance de bater em algum carro era menor, mas ainda assim era perigoso por estar completamente atônita. Tentava sem sucesso conter as lágrimas que escorriam por seu rosto, pareciam estar em modo automático. Só Deus sabia o quanto ela queria ter adiado aquele momento, seria capaz de trocar de lugar com sua mãe, mas havia chegado a hora. O seu pior pesadelo de infância... o seu pior pesadelo de adulta.

Quando chegou no hospital, as palavras desconexas de Fernando e de suas irmãs lhe atormentaram por segundos breves. Blanca tinha abdicado do tratamento de câncer sem comunicar à família, por uma óbvia exaustão de se submeter a tanto sofrimento e que não levaria a nada. Eles tinham esperança, mas a sensação de que o final seria aquele era bem mais forte. E eles não estavam errados.

O quarto era luxuoso, mas a atmosfera fria daquele ambiente lhe arrepiava em toda a extensão de sua coluna. E ela ali, imóvel, com um resquício de vida, fez seu coração se despedaçar. Seria difícil viver sem ela – quiçá impossível –, mas Dulce nunca fora egoísta e não seria naquele momento tão importante e triste que seria diferente.

Blanca precisava partir. 

– Mãe... – Sussurrou se debruçando sobre a maca, colocando em seguida a cabeça no travesseiro e ficando bem próxima ao ouvido dela.

O único aparelho ligado ao seu corpo era o que monitorava os seus sinais vitais, Fernando não queria mais nada invasivo. Já era tarde demais para conseguir salvá-la e dispensaria qualquer coisa que a faria sofrer naquele instante. Teria que ser da forma mais serena do mundo, mesmo que isso fosse totalmente o contrário de sua personalidade forte e tempestuosa.

– Eu acredito que não tenha sido fácil, se não foi para gente, que dirá para você que sentiu isso tudo... – Continuou aos sussurros, sentindo uma forte dor no peito. Era tanto física, quanto psicológica. – Eu acho que chegou a hora de você se libertar disso tudo, nós vamos ficar bem. Eu vou ficar bem e eu jamais vou esquecer que no momento onde eu só desejava a morte, você me trouxe novamente à vida. Você me fez nascer duas vezes e eu sou muito grata por tudo isso.

Cinco passos para conquistá-la [Vondy]Onde histórias criam vida. Descubra agora